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escrevo a dor e o prazer de viver vivo para escapar da morte morro e acordo cada vez mais forte

sábado, 15 de agosto de 2009

Uma loira vencedora no tapete vermelho

Queridos e queridas,

Os cinéfilos adoram filmes e tudo o que diz respeito a filmes. Festivais, por exemplo. Esses são os momentos de encontro, exibição, apreciação pelos críticos e pelo público de filmes de vários gêneros, várias nacionalidades, vários profissionais, produtores, distribuidores e, é claro, muito marketing pessoal e glamour. O tal tapete vermelho.

Não precisamos de um tapete vermelho para vermos um filme bom. Mas um filme bom que passa pelo tapete vermelho ganha um outro status, um outro olhar. O tapete vermelho recebe solene e pomposamente as celebridades e as instantâneas celebridades, cultua o fascínio que as pessoas, os seres normais, tem pelos artistas, os seres de uma galáxia muito distante... Los Angeles, Hollywood, Projac...

Os verdadeiros cinéfilos sabem que há um limite até para adorar cinema. O bom senso. Uma coisa é respeitar tradições, incentivar iniciativas de divulgação dos filmes, confraternizar em momentos nos quais os que fazem cinema o ano inteiro podem se encontrar, trocar idéias e farpas... Outra coisa é continuar apostando em eventos que não passam de uma encenação, uma cópia mal feita de cerimônias norte-americanas, das quais o Oscar é o mais famoso, mundialmente conhecido pela chatice e pela reunião de galãs e desfiles de moda no tal tapete vermelho. Provinciano demais para quem almeja as estrelas.

O Festival de Gramado acontece no Rio Grande do Sul desde 1973. Ganhou reconhecimento internacional, tem trazido cineastas e artistas de vários países e de várias regiões do Brasil. Mas algo não vai nada bem neste festival, como prova a 37ª edição, terminada há instantes, e que não deixará saudade a ninguém. A cerimônia foi rápida, os ingressos custavam o olho da cara, ainda mais sabendo dos incentivos governamentais que este festival recebeu para a sua organização.

Cinema no Rio Grande do Sul continua sendo a reunião dos incluídos e a exclusão dos excluídos. Isso vale para quem quer aprender cinema, estudar, trabalhar, e participar de festivais. Tudo é raro e caro, tudo é difícil. Antes era o vendedor de enciclopédias batendo de porta em porta. Depois do Google, vemos cineastas inscrevendo projetos em editais, captando recursos, tentando convencer governos e empresas que investir em cinema é investir em arte, em cultura. E ainda, depois e juntamente com tudo isto, fazer filmes. Para depois chegar nos festivais? O que estamos querendo provar, afinal?

Critérios... Por exemplo, o que mais chamou a atenção nesta edição do Festival de Gramado? A premiação do documentário Corumbiara, de Vincent Carelli, sobre o massacre dos índios isolados na Gleba de Corumbiara, na Rondônia, ou o discurso da homenageada Xuxa, que declarou: Sou do povo, loira e vencedora. Vocês tem idéia do custo de produção para os organizadores do Festival trazerem a eterna rainha dos baixinhos para receber uma homenagem, tendo em vista seu brilhante e reluzente legado cinematográfico? Sua própria declaração resume bem o merecimento da homenagem.

Os festivais deveriam ser aprimorados com mais exibições, debates culturais, e especialmente, fazendo o público participar não como tietes em busca de autógrafos e fotos com artistas da hora, mas oportunizando-lhes momentos de conversa sobre cinema, sobre cineastas, sobre filmes bons, que poderiam talvez justificar a criação do maldito tapete vermelho.

Mas em festivais de turismo, o que menos importa é o cinema. Pena. Filmes de excelente qualidade foram lá exibidos.
Boa semana!

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