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escrevo a dor e o prazer de viver vivo para escapar da morte morro e acordo cada vez mais forte

domingo, 23 de agosto de 2009

Discos de vinil e um homem de verdade

Queridos e queridas,

Existem filmes muito bons que são lembrados especialmente pela marca deixada pelo seu protagonista. Filmes que talvez não fossem tão maravilhosos se não tivessem contado com aquele ator ou aquela atriz para o papel principal. São artistas que entram de tal forma no personagem, que fica impossível imaginar aquela história contada por um outro artista que não aquele. O sonho de todo o diretor e de todo o roteirista é encontrar um artista que expresse visceralmente a história. É interpretar, claro, mas pode ser mais do que isso, pode ser viver a vida do personagem, por um tempo, por umas cenas, por um período que poderá resultar em um filme para ser visto e revisto sempre.

Quando eu vejo um filme com John Cusack eu penso, esse artista existe, e John é um deles. Jovem, porém com um talento capaz de deixar uma marca nos filmes em que atua, como Quero ser John Malkovich, os Imorais, Identidade, e vários outros. John é versátil, mas é sempre ele mesmo. É incrível que ele transmite essa simplicidade na hora de atuar, fazendo-nos crer que é só chegar ali e sair a dizer as falas, e pronto, corta! É incrível que ele olha, caminha, fala, ouve, como se fosse algum conhecido nosso, alguém da nossa turma, ou amigo de um amigo nosso, alguém que a gente sabe que já viu em algum lugar.

Agora, imagine John olhando para a câmera, dizendo: “O que veio primeiro? A música ou a miséria? As pessoas se preocupam com crianças brincando com armas, vendo vídeos violentos, como se a cultura da violência fosse consumí-las. Mas ninguém se preocupa se escutam milhares de canções sobre sofrimentos, rejeição, dor, miséria e perda. Eu ouvia música pop porque era infeliz ? Ou era infeliz porque ouvia música pop ?”

John interpreta Rob Gordon, no filme Alta Fidelidade (2000), sob a direção de Stephen Frears. Rob é um rejeitado. Mantém a quase falida loja de discos Championship Vinyl, e jutamente com dois amigos excêntricos (Jack Black e Todd Louiso), passam o dia fazendo a lista dos top five: as cinco melhores músicas para tocar no dia de sua morte, por exemplo. Rob decide fazer a lista dos top five foras amorosos que levou. E ao mostrar seus frustrados relacionamentos amorosos, ainda que de uma forma cômica, Rob e o filme passeiam por temas do universo masculino, como a insegurança, o medo de compromisso, e percepções sobre sexo, traição e paixão.

Alta Fidelidade é uma comédia romântica baseada em um livro com o mesmo nome, e que também inspirou a produção de uma peça teatral, A vida é cheia de som e fúria. A música é um ponto a parte no filme. É, seguramente, uma das melhores trilhas sonoras de todos os tempos. Dez entre dez faixas do filme são simplesmente imperdíveis, emocionantes, com músicas de Velvet Underground, Love, The 13th Floor Elevators, Bob Dylan, Kinks, Stereolab, Smog, Royal Trux.

Rob é gentil, romântico, culto, e não tem sucesso amoroso. Rob é egocêntrico, convencido, infiel, e não tem sucesso amoroso. Rob é um pouco de cada homem. Rob é um homem que quer fazer o que gosta, e que não sabe se quer fazer o que gosta.

Enquanto arruma sua vida, ele reorganiza a sua coleção de discos de vinil no chão de sua casa, ordenando de acordo com o que aconteceu em sua vida.

O que Rob quer da vida, além de ouvir músicas que lhe tocam na alma -sim, os homens tem sentimento! - é compreender porque faz algumas coisas e não faz outras, enfim, por que é preciso crescer, amadurecer. Não repetir erros passados, não fazer de conta que é uma outra pessoa, não ter medo do futuro, não viver de fantasias. Mas olhar para a frente, e pensar nos top five passos para uma vida melhor: querer amar, querer ser amado, ouvir muita música, manter a coleção de discos de vinil, enfim, ser um homem de verdade.
Boa semana!

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