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escrevo a dor e o prazer de viver vivo para escapar da morte morro e acordo cada vez mais forte

domingo, 6 de dezembro de 2009

Cinema e direitos humanos, amor à primeira vista

Queridos e queridas,

Mil desculpas pela ausência prolongada. Sinto falta de escrever aqui, sinto falta. Mas estes meses tem sido dedicados prioritariamente a um projeto pioneiro e prioritário, o Prjeto Itinerante de Capacitação para Defensores de Direitos Humanos no Rio Grande do Sul, e para os preparativos do II Fórum de Direitos Humanos do Rio Grande do Sul.

Retomo este espaço para divulgar a programação destes eventos, que acontecerão nos dias 08, 09 e 10 de dezembro na sala 601 da Faculdade de Educação da UFRGS, com entrada franca e aberto à comunidade em geral. Convido todos e todas para participarem, serão dias muito produtivos, de diálogo, de debate, de troca de vivências, de nos qualificarmos como promotores de mudança para uma sociedade mais justa, mais solidária, mais digna.
Ah! E é claro que na programação estão previstas exibições de documentários, e haverá uma tarde especialmente dedicada ao tema Cinema e direitos humanos amor à primeira vista. Espero vocês lá!
Beijos!
INFORMAÇÕES GERAIS E PROGRAMAÇÃO:
A Liga dos Direitos da UFRGS promove nos dias 08, 09 e 10 de dezembro, na sala 601 da Faculdade de Educação da UFRGS, o II Fórum de Direitos Humanos e o I Projeto Itinerante de Capacitação para Defensores dos Direitos Humanos no Rio Grande do Sul, com o tema O Combate à Violência Institucional e à Discriminação.
A programação se desenvolverá nos turnos da manhã, tarde e noite, com a realização de conferências, diálogos e debates sobre os seguintes temas: Educação, discriminação e direitos humanos; a violência institucional, os direitos fundamentais e sociais; os meios de comunicação combatem ou compactuam com a violência e a discriminação?; Anos rebeldes, dos Anos de Chumbo à democratização do Brasil; O direito à terra no Planeta Terra; os direitos humanos dos invisíveis; cinema e direitos humanos: amor à primeira vista.

Outros destaques da programação: exibição de documentários, o lançamento do concurso nacional de vídeos "Defensores dos direitos humanos no Planeta Terra: ser humano é ficção?", e a exposição fotográfica "A ditadura no Brasil: 1964/1985.

SOBRE A EXPOSIÇÃO: A mostra faz parte do projeto Direito à Memória e à Verdade, da Fundação Luterana de Diaconia, Agência Livre para Informação, Cidadania e Educação, em parceria com a Secretaria Especial dos Direitos Humanos. A exposição faz uma viagem no tempo. Recupera, de maneira exclusiva, os primeiros momentos do golpe de Estado até os comícios populares das "Diretas Já". Imagens marcantes dos tanques militares na frente do Congresso Nacional, as passeatas estudantis, a resistência dos diversos grupos da sociedade civil, a censura de documentos, a violência, as prisões e torturas são expostas em grandes painéis que colocam o espectador dentro dos acontecimentos.Os eventos tem entrada franca e é aberto à comunidade em geral. Inscrições no dia e local:
Faculdade de Educação da UFRGS (Av. Paulo Gama, 110, sala 601, Campus Centro).

Informações no site https://webmail.ufrgs.br/services/go.php?url=http%3A%2F%2Fwww.ufrgs.br%2Ffaced%2Fprojetoitinerante email ligadireitoshumanos@ufrgs.br


Dia 08/12 (terça-feira), sala 601 FACED/UFRGS:
9h Credenciamento e entrega de material
10h Abertura: Exibição do documentário Com Dor (Brasil, 2008, Liga dos Direitos Humanos). Lançamento do Concurso “Defensores dos Direitos Humanos no Planeta Terra – ser humano é uma ficção?”
Denise Comerlato (Vice-Diretora da FACED/UFRGS)
Jorge Alberto Rosa Ribeiro (Coordenador do PPGEDU/UFRGS)
Ângelo Ronaldo Pereira da Silva (Vice-Pró-Reitor de Extensão/UFRGS)
Nilton Leonel Arnecke Maria (Coordenador Regional da Defensoria Pública do Rio Grande do Sul)
Giancarla Brunetto (Coordenadora da Liga dos Direitos Humanos e coordenadora geral do Projeto Itinerante de Direitos Humanos do RS)
14h Diálogo: Educação, Discriminação e Direitos Humanos
Beatriz Lang (Coordenadora do Comitê Estadual de Educação em Direitos Humanos do RS)
Célio Golin (Coordenador do NUANCES e integrante da Comissão de Cidadania e Direitos Humanos/AL/RS)
Roger Raupp Rios (Doutor em Direito e juiz federal)
Virginia Feix (Coordenadora da Cátedra de Direitos Humanos do IPA e coordenadora do Eixo Educação Superior do CEEDH/RS)
Mediação: Julia Schirmer (Advogada, Especialista em Direitos Humanos/UFRGS-ESMPU)
17h Exibição do filme Meu tempo não parou (Brasil, 2008, dir. Silvio Barbizan e Jair Giacomini. Argumento-Célio Golin)
19h Conferência e Debate: A violência institucional, os direitos fundamentais e sociais
Conferencista: Ingo Wolfgang Sarlet (Coordenador do Programa de Pós-Graduação em Direito/PUCRS e professor da AJURIS)
Debatedores: Carmem Craidy (Coordenadora do Núcleo de Pesquisa e Extensão em Educação, Exclusão e Violência Social/FACED/UFRGS)
Castor Bartolomé Ruiz (Coordenador da Cátedra UNESCO de Direitos Humanos e Violência. Governo e Governança e professor do Programa de Pós-Graduação em Filosofia/UNISINOS)
Marisa Formolo (Deputada Estadual, vice-presidente da Comissão de Cidadania e Direitos Humanos/AL/RS)
Paulo Gilberto Cogo Leivas (Doutor em Direito e Procurador Regional da República)


Dia 09/12 (quarta-feira), sala 601 FACED/UFRGS:
9h Painel: Os meios de comunicação combatem ou compactuam com a violência e a discriminação?
Dagmar Camargo (Coordenadora do Conselho de Rádios Comunitárias RS, coordenadora do Eixo Comunicação da CEEDH/RS e integrante da DIST Brasil)
Daniel Scola (Jornalista, Rádio Gaúcha e RBS TV)
João Rosito (Jornalista, mestrando em Antropologia/UFRGS)
Marco Weissheimer (Jornalista da Agência Carta Maior, Blog RS Urgente)
Telmo Flor (Jornalista, Diretor de Redação do Jornal Correio do Povo)
Mediação: Valéria Beatriz Carvalho (Secretária-executiva da Liga dos Direitos Humanos e fundadora da Organização Corações e Mentes)

13h Exibição do documentário Brazil, a report on torture (Chile/EUA, 1971, Dir.Saul Landau e Haskell Wexler)
14h Diálogo: Anos Rebeldes, dos Anos de Chumbo à democratização do Brasil
Cristina Pozzobon (Jornalista, artista plástica, produtora da Exposição O Direito à Memória e à Verdade, voluntária da Agência Livre para Informação, Cidadania e Educação-ALICE)
Dariane Rossi (Professora do Colégio de Aplicação/UFRGS, coordenadora do Curso de Extensão Anos Rebeldes: uma abordagem sobre a ditadura civil-militar brasileira)
Domingos Sávio Dresch da Silveira (Procurador Regional da República, professor da Faculdade de Direito da UFRGS)
Jair Krischke (Fundador e conselheiro do Movimento de Justiça e Direitos Humanos)
Juremir Machado da Silva (Jornalista, pesquisador, tradutor, escritor, professor da PUCRS)
Roberto dos Santos Donato (Capitão da Brigada Militar, representante da Associação dos Oficiais da Brigada Militar no CEEDH/RS e CECT/RS)
Mediação: João Rosito (Jornalista, mestrando em Antropologia/UFRGS)
19h conferência: O direito à terra no Planeta Terra
Conferencista: Antonio Sergio Escrivão Filho (Advogado, Assessor Jurídico – Terra de Direitos. Organização de Direitos Humanos, Curitiba, PR, Mestre em Direito Constitucional Agrário/UNESP)
Debatedores: Carlos Cesar D’Elia (Procurador do Estado RS, presidente PROTEGE/RS e do Colégio Nacional de Presidentes dos Conselhos Deliberativos-Programas de Proteção a Testemunhas)
José Otávio Catafesto de Souza (Doutor em Antropologia e professor do Departamento de Antropologia da UFRGS)
Miriam Balestro (Promotora de Justiça da Promotoria de Justiça de Defesa dos Direitos Humanos/Ministério Público RS)
Onir Araújo (Advogado, Movimento Negro Unificado do RS)

Dia 10/12 (quinta-feira), sala 601 FACED/UFRGS:

9h Exibição do filme Omissão de Socorro (São Paulo, 2007, Dir. Olívio Tavares de Araújo)

10h Painel: Os direitos humanos dos invisíveis
Adeli Sell (Vereador de Porto Alegre, vice-presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre)
Alessandra Santos (Coordenadora da Associação de Familiares de Apenados)
Bruno Mendonça Costa (Médico psiquiatra, professor da Universidade Federal de Ciências da Saúde-UFCSPA, diretor do Sindicato Medico do RS e vice-presidente da DIST Brasil)
Mauri Cruz (Sócio fundador e Secretário-executivo do CAMP, diretor regional do Fórum Sul da ABONG, diretor do Cone Sul e Brasil da Associação Latino-americana de Organizações de Promoção para o Desenvolvimento-ALOP)
Mediação: Gilmar Dal'Osto Rossa (Presidente do Instituto Recriar e coordenador-executivo do Projeto Itinerante de Direitos Humanos do RS)

14h Diálogo: Cinema e Direitos Humanos, amor à primeira vista
Alfredo Barros (Montador, professor da ESPM, coordenador da equipe de montagem da Santuário Filmes)
Beto Souza (Jornalista, cineasta, Imagem B Filmes)
Carlos Leoni (Diretor e produtor, Inofim Filmes/SP)
Laís Chaffe (Jornalista, escritora, cineasta, idealizadora da Casa Verde e Atena Produções)
Luiz Carlos Bombassaro (Doutor em Filosofia, professor da Faculdade de Educação/UFRGS)
Mediação: Giancarla Brunetto (Produtora, roteirista e diretora de vídeos em direitos humanos, coordenadora da Liga dos Direitos Humanos e do Projeto Itinerante)

18h Exibição dos documentários
Canto de Cicatriz (Brasil, 2005, dir. Laís Chaffe)
No olho do furacão (Brasil, dir. Duto Sperry, prod. Carlos Leoni)


quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Lançamento do Projeto Itinerante em Direitos Humanos

Queridos e queridas,

A Liga dos Direitos Humanos da UFRGS promove a partir de 21 de outubro deste ano, até junho de 2010, o I Projeto Itinerante de Capacitação para Defensoras e Defensores de Direitos Humanos no Rio Grande do Sul. A atividade é inédita no Brasil, e objetiva qualificar, apoiar e orientar membros da sociedade civil para agirem como multiplicadores de ações promotoras e preventivas de direitos humanos, no que se refere ao combate à discriminação e à violência institucional. Será também um importante momento presencial para interagir com as comunidades locais, e documentar os principais problemas que as afetam.

Esta iniciativa pioneira será realizada em municípios representativos das micro e mesorregiões que compõem o Estado do Rio Grande do Sul: Porto Alegre, Santa Cruz do Sul, São Leopoldo, Bagé, Imbé, Torres, Pelotas, Novo Hamburgo, Passo Fundo, Santa Maria, Ijuí, Uruguaiana, Caxias do Sul, e nas ilhas do Delta do Jacuí.

Especialistas como procuradores, juízes, promotores de justiça e educadores ministrarão aulas abertas, cinedebates e oficinas sobre temas relacionados aos conceitos de direitos humanos, diversidade e discriminação, e o acesso à justiça. São oferecidas 50 vagas para cada município. A atividade é gratuita, com certificado. O Projeto Itinerante tem financiamento do Fundo Brasil de Direitos Humanos. Esta iniciativa foi selecionada entre 700 projetos inscritos de todo o Brasil, e será realizada em parceria com o Instituto Recriar, a Comissão de Cidadania e Direitos Humanos da Assembléia Legislativa e o Programa de Pós-Graduação em Educação da FACED/UFRGS.

PROJETO ITINERANTE DE CAPACITAÇÃO PARA DEFENSORES DE DIREITOS HUMANOS NO RIO GRANDE DO SUL

Dia 21 de outubro, às 14h, no Salão Nobre da Faculdade de Direito da UFRGS, e às 19h, no Plenarinho da Assembléia Legislativa do Rio Grande do Sul.
Entrada franca. Informações:
ligadireitoshumanos@ufrgs.br


Programação de Lançamento do Projeto
Dia 21/10 Salão Nobre da Faculdade de Direito da UFRGS

Coordenação: Dr. Johannes Doll (Diretor da Faculdade de Educação da UFRGS) e
Giancarla Brunetto (Coordenadora da Liga dos Direitos Humanos)


14h Aula Inaugural
A Capacitação de Defensores em Direitos Humanos: Por que e para quem?
Ministrante: Drª Fernanda Brandão Lapa
(Diretora do Instituto de Desenvolvimento e Direitos Humanos/SC, professora da Faculdade de Direito/CESUSC, professora e coordenadora da Clínica de Direitos Humanos/UNIVILLE)

15h Painelistas
Dr. Mauro Luís Silva de Souza (Promotor de Justiça Criminal e Vice-Presidente Administrativo e Financeiro do Ministério Público/RS, professor da FMP/RS)
Dr. Carlos César D’Elia (Procurador do Estado RS, Presidente do Conselho Deliberativo do Programa de Proteção a Testemunhas Ameaçadas do RS, e do Colégio Nacional de Presidentes de Conselhos Deliberativos dos Programas de Proteção a Testemunhas)
Drª Virgínia Feix (Coordenadora da Cátedra de Direitos Humanos do IPA, Coordenadora do eixo Educação Ensino Superior do CEEDH/RS)

17h30 Cinedhebate
Filme O Cabide Azul
Debatedor: Dr. Bruno Costa (Psiquiatra, Diretor do Sindicato Médico/RS e da DIST)

Dia 21/10 19h Plenarinho da Assembléia Legislativa
Coordenação: Jorge Alberto Rosa Ribeiro (Coordenador do Programa de
Pós-Graduação em Educação/FACED/UFRGS) e Dr. Paulo Gilberto Cogo Leivas (Procurador Regional da República/MPF)

Aula Aberta
Direitos Humanos são direitos de todos?
Ministrante: Drª Fernanda Brandão Lapa

(Diretora do Instituto de Desenvolvimento e Direitos Humanos/SC, professora da Faculdade de Direito/CESUSC, professora e coordenadora da Clínica de Direitos Humanos/UNIVILLE)

Painelistas:
Dr. Dionilso Marcon (Presidente da Comissão de Cidadania e Direitos Humanos/AL/RS)
Dr. Jair Krischke (Fundador e Conselheiro do Movimento de Justiça e Direitos Humanos)
Dr. Eugênio Paes Amorim (Promotor de Justiça do Tribunal de Júri de Porto Alegre)
Drª Miriam Balestro (Promotora de Justiça de Defesa dos Direitos Humanos/MP-RS)
Dr. Luiz Carlos Bombassaro (Professor da Faculdade de Educação da UFRGS)

TODOS LÁ!!!! Beijos!

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Nunca baixe a guarda

Queridos e queridas,

Quisera eu poder escrever aqui diariamente, como vinha fazendo. Mas daí o dia precisaria ter mais de 24 horas. Ou eu poderia não dormir mais. A proximidade do lançamento de uma ação em direitos humanos absorve meu pensamento, meu trabalho e minhas intuições. Sobre o lançamento desse projeto, prometo falar aqui amanhã. Porque hoje quero falar sobre as motivações que me levaram a idealizar esse projeto.

Vivemos em um mundo que quer paz, mas vive na violência. Vivemos em um mundo coletivo, onde cada um vive em sua gaiola. Vivemos em um mundo onde o céu é para todos, assim como o ar e a água. E milhões de pessoas morrem todos os dias. Na miséria, na doença, e, de novo, como vítimas da violência. E quando se fala na existência de defensores dos direitos humanos, uma das afirmações que mais se ouve é "direitos humanos é coisa pra defender bandidos. Quem defende as vítimas dos bandidos? Onde estão, nesse caso, os tais defensores dos direitos humanos?"

Todos e todas somos, potencialmente, defensores ou violadores de direitos humanos. Agimos em defesa ou contra, conforme nossas ações, inações e omissões. A violência institucional se alastra, com profundas e históricas entranhas em todos os cantos do mundo. Ditaduras, torturas, falta ou negligência na efetivação de políticas públicas. E há um lado mais profundo, perverso e perplexo, pecado capital mesmo: os narcisismos, os joguinhos de poder, de prepotência intelectual, institucional, político-partidária, ideológica... infelizmente, esse inimigo oculto do ser humano também compactua, e muito, com as violações cometidas. E na minha intuição, esse é o pior problema. Questão de valor, de ética, de consciência, de personalidade. Nas entranhas do inconsciente a violência se mostra de outras formas, mais sutis mas nem por isso menores.

Hoje, reunida com o meu melhor amigo e mestre Ilgo, entre um gole e outro de um maravilhoso suco de açaí, tive que responder a uma saraivada de perguntas inteligentes e pertinentes: por que eu insisto em atuar nessa causa perdida, que envolve pessoas ligadas a órgãos governamentais, que envolve a falta de apoio da sociedade, que envolve a antipatia dos empresários, que envolve entidades com discursos e recursos, mas que não investem os recursos e não saem dos discursos... enquanto a violência continua, enquanto as vítimas sofrem, órfãs, enquanto o mundo rola sabe-se para onde...

Apesar de eu responder prontamente a todas as suas perguntas, percebi, comovida, que foi ele que me deu a resposta. Com um olhar um tanto cético com relação a possíveis mudanças para melhor em nossa realidade, ele disse que só por um motivo poderia colaborar nesse projeto.
Por minha causa.

O que torna as pessoas melhores, e portanto, o mundo melhor, é ter uma causa. Eu só fiz e faço e farei coisas por causas. Meus filhos são a causa de minha vida. Meus amigos também.
Meu melhor amigo também. E todos aqueles que conheço e que não conheço, mas que precisam de ajuda, também. Essa é a resposta.

Nunca baixar a guarda. Nunca perder a esperança.
O lindo e brilhante ator Russel Crowe, clone do Eddie Vedder, brilha na pele do personagem Braddock, no filme A luta pela esperança (Cinderella Man, 2005, direção de Ron Howard). Ele luta não apenas por ser um lutador de boxe, naquele roteiro previsível do homem que conhece a fama, a decadência e depois tenta subir os degraus novamente. O mundo do boxe nesse filme, é uma alegoria ao mundo real, um ringue onde estamos sempre lutando, tentando desesperadamente fugir do nocaute. Ninguém quer perder. Queremos o campeonato mundial, a liderança. Lá pelas tantas o personagem Braddock, desanimado, se questiona: lutar por que? Contra a fome? A ganância? Não se pode lutar contra o que não se vê. Braddock volta a vencer quando percebe que há, sim, motivos para lutar. Seus filhos, sua mulher, o gosto pelo que faz. Ele engole o orgulho, se humilha, ele valoriza o que realmente tem valor. E seu amigo e agente (o formidável ator Paul Giamatti) é quem lhe motiva, intui o seu valor e é dele a frase:
Nunca baixe a guarda.

Então, é simples assim. Difícil é levar golpes na vida e levantar de novo. Mas, vejam, um suco, uma frase, uma causa, e um, e dois e vários, juntos, unidos, podemos transformar desilusões em sonhos, utopias em realidades. Sonhando acordados, acordando para uma realidade melhor.
Eu tenho certeza que isso é possível.
Ótimo feriadão!

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

O nariz de Benigni, sem efeitos especiais

Queridos e queridas,

Estava eu novamente com saudades de aparecer aqui. Mas desde que fui a Carazinho, na sexta-feira passada, não tive tempo de me dedicar a este espaço como ele merece: sentada a derramar no teclado os pensamentos e sentimentos que me vierem a tona. É que eu fiquei literalmente derramando os pensamentos e sentimentos lá naquele município que foi tão acolhedor, com as professoras da Escola La Salle que organizaram um congresso internacional impecável, e que apesar de todo o trabalho encontraram tempo para rir, rir muito em uma casa de massas com direito a sofiotti e muitas histórias engraçadas, a começar pela minha mais nova amiga, a professora Eloísa, que vai se casar nesse próximo fim de semana após dez anos de namoro. Com despedida de solteira, festa na igreja e imaginem o galeto com polenta e o festerê depois do yes, I do.

Minha filha tem razão, eu realmente sofro da síndrome de querer não retornar dos lugares para onde vou. A vantagem é que quando eu partir desta para a melhor, certamente não voltarei aqui para assombrar ninguém... Ou, olhando por outro ângulo, sou a existencialista mais otimista que conheço. Aprendi, após levar muitos golpes e estocadas metafóricos, que nos fortalecemos quando aprendemos a lidar com os problemas, em vez de negá-los ou delegá-los. Quando aprendemos a ver um mesmo ponto sob vários ângulos. Quando nos desapegamos de nossos problemas, de nossos conflitos, e nos colocamos no lugar dos outros e aí então percebemos que ninguém é melhor do que ninguém, que nenhum problema é tão maior ou pior do que o de outra pessoa. Que rir ainda é, sim, o melhor remédio.


Daí o fato de eu gostar de comédias, mas as de humor negro. Como A Vida é Bela. Mas como, comédia? É um baita drama! Segunda guerra, alemães nazistas, perseguição aos judeus, o Holocausto, os campos de concentração. Onde está a graça? (afinal, eu não sou nazista!). A graça está, em primeiro lugar, em olhar o nariz e o que sobrou do rosto do protagonista do filme, o italiano Roberto Benigni. E está, em segundo lugar, nas brincadeiras, trejeitos e trapalhadas que seu personagem Guido cria para seu pequeno filho, na Itália dos anos 40, enquanto eles ficam em um campo de concentração. Guido faz de tudo para o filho acreditar que eles estão em um grande jogo, e que tudo o que acontece com e em volta deles são parte do jogo. Por maior que seja o terror, por pior que seja a violência, tudo faz parte do jogo.

Humor negro, eu falei. Assim é a nossa vida, um grande campo de concentração, um grande caldeirão, onde somos jogados ou aprendemos a jogar. O inferno, para Sartre, são os outros, não é o diabo. Então, a grande sabedoria é jogar para driblar os problemas, as quedas, os conflitos, as situações, ou provações, se assim preferirem, que todos, em algum momento da vida, passam. Doença, fossa, dívida, dúvida, transtorno. Amar demais. Amar de menos. Podemos escolher no jogo: somos Guido, o louquinho que foge da realidade, ou podemos ser Guido, o sábio que burla os problemas para, sorrindo, tocar a vida pra frente, pois que ela só começa a acabar quando a gente desiste dela primeiro.

A Vida é Bela, de 1997 e dirigida pelo próprio Benigni, recebeu três Oscars. Comoveu milhões de pessoas. A mim dizem, que filme triste. Se o filme é triste, como pode a vida ser bela?

Quando Benigni, por exemplo, olhou-se bem no espelho e percebeu que seu nariz seria seu maior defeito ou seu maior charme. Quando resolveu rir de si mesmo, antes de fazer os outros rirem. E quando decidiu tirar proveito de algo que poderia faze-lo quebrar todos os espelhos deste planeta.

Quando eu vejo uma mãe que abraça seu filho em uma praça, enquanto o único abraço que essa mãe recebe é do frio que encobre nossa cidade, eu penso, como pode a vida ser bela? Mas daí eu olho bem nos olhos dela, e vejo um brilho no seu olhar. Como o sorriso das minhas novas amigas de Carazinho. Que noite bela! Como a companhia dos amigos que vieram me ver no meu derradeiro aniversário. Que dia belo! Como eu e meu filho Thomas brincando de jogar balão. Sensacional é a vida. Como degustar os pratos elaborados com os temperos do afeto e do carinho de minha filha Chef Rafaela e do meu genrinho Chef Umberto. Não tem preço.

A vida é bela. Comédia dramática, drama, e sem efeitos especiais.
Boa noite!

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

O melhor dos mundos

Queridos e queridas,

Fala-se na existência do primeiro mundo. Subentende-se que seja o melhor dos mundos, o mais belo, o mais próspero, o mais justo. No outro lado, o terceiro mundo. O pior, o mais pobre, o mais violento, o mais subdesenvolvido. De um lado, os poderosos, os mais importantes. Do outro lado, os coitados, os invisíveis. Se um tsunami ocorrer no Primeiro Mundo, será o fim do mundo. Mas se porventura ele ocorrer no Terceiro Mundo, será uma salvação para o planeta. Salvam-se os que valem, varrem-se os que estorvam. Equilíbrio total...

Entretanto. (Adoro essa palavra, ela sugere que tudo o que foi dito antes dela não valia nada). E não valia mesmo. Entretanto, quem se atreve a impor uma linha imaginária ou real que separa uns dos outros? Que coloca os terno-e-gravata na sala Very Important Person, e os demais um pouco depois do fim do mundo... Quem se outorga o direito de afirmar que esse país ou aquele outro são superiores, são melhores, são exemplares?

Sempre que viajo fico, na véspera, apreensiva. Sei lá porque. Minha filha Chef Rafaela sorri e me diz - é sempre assim, depois tu volta querendo morar no lugar onde foi... Ela tem razão. Entretanto... em Paris não foi assim. Foi uma experiência inesquecível, com certeza. Vinhos de primeiro mundo. Paisagens de primeiro mundo. Os cafés, meu Deus, os cafés. Queria morar neles. Entretanto. Não me senti em casa. E não foi por causa do idioma, e por obviamente estar do outro lado do mapa. É porque as pessoas que lá conheci foram, no máximo, diplomatique. Faltou essa afetividade, essa sensibilidade, esse acolhimento. Isso, sim, é coisa de primeiro mundo. Remonta ao mundo original, uterino. Quando nos sentimos seguros, aquecidos, protegidos pelo instinto maternal, pelo cordão umbilical. Lá, do outro lado do mapa, nós brasileiros somos ainda confundidos com argentinos, Porto Alegre com Buenos Aires, e Pelé ainda é o ídolo mais importante e planetário que nos representa. Um círculo que corre para todos os lados é o que simboliza nossa brasilidade. E a floresta amazônica, com índios pululando por todos os lados, com bananas, muitas bananas. Esse é o Brazil for export, em tese. Ah, e Lula, o maior estadista brasileiro desde sempre... pena que não o conheceram quando ele era o Lula original.

Daí que quando estive em Dourados me dei conta de que o primeiro mundo está onde nós o construimos. Nós desenvolvemos, ou não. Nós nos empoderamos, ou não. Dentro deste país, deste imenso país, há o melhor e o pior dos mundos. Não é fantástico esse paradoxo? Nós colocamos uma linha imaginária e nos contentamos com o estigma de sermos o país do futuro. Já fomos o milagre brasileiro, e parece que não aprendemos nada com isso. O Brasil é carnaval, futebol e também não é só carnaval, só futebol. O Brasil é um road-movie.

Como o maravilhoso filme Cinema, aspirinas e urubus, de Marcelo Gomes. Realizado em 2005, essa pequena obra-prima mostra o ano de 1942, em plena II Grande Guerra. Um alemão viaja pelo Brasil, fugindo das notícias da guerra, onde conhece o morador de um vilarejo, que por sua vez viaja em busca de uma vida melhor, em um lugar mais desenvolvido, como o Rio de Janeiro.

Não por acaso eles se conhecem em uma estrada de chão batido, terra de ninguém. Não por acaso eles começam uma nova viagem, aquela derradeira viagem que significa uma jornada interior, em busca de novos e verdadeiros significados. A aventura maior que existe, descobrir sentidos para viver onde se está, e para onde se vai. Nem sempre o lugar mais industrializado é o melhor para se viver. Nem sempre o retirado fim do mundo é o pior lugar para estar. O estado de espírito, o espírito de luta, estão conosco, ou não, onde estivermos, e para onde formos. Depende de nós, ficamros nos entupindo de aspirinas, anestesiados das agruras da vida, a mercê da ação dos urubus de todos os tipos: especuladores, politiqueiros, bajuladores... ou tocarmos a vida pra frente, pra próxima parada, de carona, a pé, na direção, na contramão... o melhor dos mundos existe. Entretanto... cada um é que o faz. Ou desfaz.
Baci!

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

CineDHebatendo direitos humanos

Queridos e queridas,

Cinema e direitos humanos é um dos temas que mais trato neste blog. Porque são estes os ponteiros de meu relógio biológico, cinema e direitos humanos. Por esta razão, desde a criação da Liga dos Direitos Humanos, que eu fundei e coordeno desde 2007, existe uma ação denominada CineDHebate, um ciclo de exibição de filmes com debates sobre o tema abordado em cada sessão. Apesar de eu ter tentáculos para dar conta de uma vida atribulada, eles não são mais suficientes. A Liga cresceu - e que ótimo que cresceu! Eu vejo a Liga como uma criança que está adolescendo, um projeto que começa a espraiar seus horizontes interdisciplinares e transdisciplinares.

Regionais e transnacionais. É o programa de rádio, a produção de documentários, a divulgação de notícias e eventos, a organização de aulas abertas, fórum anual, e de um novo projeto sobre o qual falarei em breve. E o cinema, desde o começo, sempre cumprindo uma função que também é muito importante e digna na educação em direitos humanos: a exibição de curtas, documentários e longas de ficção que despertam nos espectadores uma visão própria, uma consciência crítica e reflexiva. É um grande momento de debate, de trocas, de compartilhar pensamentos, opiniões, posições. De questionar, de discutir pontos e contrapontos. Aprende-se muito em uma sala de cinema.
Daí a origem e a existência do CineDHebate da Liga dos Direitos Humanos.

No ano passado, a Gárdia, querida amiga e colega da Liga, coordenou a seleção dos fimes e a organização dos debates. Lembro que a seleção priorizou curtas-metragens e documentários nacionais, muitos com temas bem regionais e todos sempre muito polêmicos. Temas como aborto, sistema prisional, prostituição, foram alguns dos pontos de debate nos filmes escolhidos. Neste ano, a querida amiga Dagmar Camargo, companheira da Liga, além de ter uma intensa e extensa militância em direitos humanos (como coordenadora da CONRAD, coordenadora de projetos da DIST e da área de Comunicação no Comitê de Educação em Direitos Humanos do Rio Grande do Sul), assumiu a coordenação do CineDHebate, em uma parceria da Liga com a DIST - Democracia, Inclusão Social e Trabalho.

Eu admiro demais a Dagmar. Desde os tempos em que nos conhecemos, como colegas na Primeira Turma do Curso de Especialização em Direitos Humanos da UFRGS e Escola Superior do Ministério Público da União. A Dagmar sempre sentou na frente, primeira fila, e uma das que mais participava nas aulas, com perguntas, com sugestões, com críticas, com contribuições. E sempre agitando bandeiras, viajando por este e por outros Pampas, socializando notícias, ações, campanhas, manifestações. O tempo para a Dagmar certamente não tem apenas24 horas.
E nem ela tem tentáculos.
Ela os produz e reproduz, com uma vitalidade e um espírito de luta admiráveis.

O CineDHebate 2009 tem a cara da Dagmar. São filmes impecáveis, escolhidos pelos temas efervescentes, em questões globais como o meio ambiente, a crise financeira, os poderes das grandes corporações, a privatização do Rio São Francisco, os desafios na educação em um ambiente de violência e exclusão social, and so on.

Na próxima semana, o CineDHebate, que sempre acontece às sete da noite na Sala Redenção da UFRGS, com entrada franca, exibirá o filme Escritores da Liberdade. e na sequência, debate com a participação de Mariliane Ferreira dos Santos, diretora do CPERS/RS, e Ana Maria Bueno Accorsi, professora da UERGS, e que desenvolveu trabalho sobre o livro Escritores da Liberdade ainda não traduzido para o português. Escritores da Liberdade é uma co-produção alemã e norte-americana de 2007. Com direção de Richard LaGravanese, a obra é uma adaptação da história real da professora Erin Grunwell, uma professora novata que tenta inspirar seus alunos problemáticos a aprender algo sobre tolerância, autoestima, e valorização dos sonhos.
O filme aborda de uma forma comovente o desafio da educação
em um contexto social problemático e violento.

E no dia 25 de novembro, é a vez do filme A Questão Humana. Após a exibição, debate com o psicólogo Fernando Lunkes, diretor de comunicação do Sindicato dos Psicólogos do Rio Grande do Sul. O filme é uma produção francesa de 2007 baseada no romance homônimo de François Emmanuel. A obra dirigida por Nicolas Klotz, completa a trilogia sobre a crise econômica francesa, composta também pelos filmes A Pátria, e A Ferida.

Em A Questão Humana, o psicólogo da filial francesa de uma petroquímica alemã investiga, a pedido do vice-presidente da corporação, a vida do presidente, que é suspeito de insanidade mental. Este é um filme de investigação, no qual o próprio investigador - o psicólogo - passa a sofrer uma profunda transformação. Há no filme uma linha que aproxima o modelo empresarial contemporâneo ao Holocausto.
Reestruturação, reengenharia, realinhamento, eis alguns termos cuja linguagem asséptica e tecnocrática designa uma manipulação de pessoas em
um sistema no qual o que menos importa são as pessoas.

O filme acende uma polêmica ao fazer essa comparação. Ela é possível e plausível? O protagonista-psicólogo-narrador é um homem que ao investigar, sofre com o que descobre. Sua integridade é testada o tempo todo, bem como a sua própria sanidade mental.
Talvez sua insanidade seja a prova de que finalmente ele descobriu o que buscava.
Boa noite!

terça-feira, 29 de setembro de 2009

Lava-pés, os poetas e os idiotas


Queridos e queridas,

Até o post de hoje, eu não havia lhes falado sobre quando comecei a realizar vídeos: roteiro, produção, direção... O interesse pelo cinema existe, por certo, desde quando eu era um fetinho. Meu nascimento foi algo cinematográfico. Com direito a tudo o que eu não tinha direito: muitas dores em minha mãe, muita correria entre os médicos, por conta de problemas detectados imediatamente após o meu primeiro suspiro. Eu fui a filha que mais demorou para nascer e que menos demorou para começar a incomodar... Tudo me incomodava: a poluição que me provocou a bronquite; a curiosidade, que me levava a cometer atos insanos, como abrir um sofá para ver o que tinha por dentro, ou beber um copo com gema de ovo achando que era bebida de adulto... A falta de confiança em mim mesma, que me levou a escrever uma "cola" de Geografia no estojo de madeira; tirei nota máxima, pois ao preparar a tal "cola", memorizei a matéria. Só que isso não "colou" quando a professora viu meu estojo aberto... Meus pais foram chamados à escola. E eu aprendi a lição: se eu gosto tanto de drama e de ação, eu deveria escrever mais sobre isso.
Seria menos perigoso para mim e para os outros.

Nas redações da escola era só nota dez e dez e dez. Nas redações da vida, como poemas de amor, diário com anotações de uma adolescente existencialista, era só zero e zero e zero. Eu lia muito, de histórias em quadrinhos a clássicos de filosofia que eu pegava na estante de livros de meu pai. De fotonovelas italianas de minha mãe a obras de Machado de Assis. Escrever era já uma necessidade, uma extensão de meu braço, de minha mão canhota e de meu cérebro. Mas não era suficiente. Minha imaginação precisava das imagens que o texto sugeria, mas não mostrava.

Somente quando já adulta, e tendo escrito um livro de poemas, além de vários contos engavetados, e alguns roteiros bem guardados, resolvi cometer mais um ato insano. Desta vez, não abri outro sofá, nem bebi água da privada... Fui fazer um vídeo. Queria fazer um documentário em um minuto, um minuto e meio no máximo. Queria fazer algo útil, algo com sentido, algo que expressasse muito mais pelo visto, pelas imagens, que eu não precisasse escrever uma tese. Que todos vissem e entendessem. Eu perdi um sobrinho lindo e querido, com apenas 15 anos, assassinado por engano. Minha melhor amigairmã Valéria havia perdido seu filho Rodrigo em um assassinato igualmente brutal - como de fato são sempre todos os crimes.
Eu escrevi o roteiro de Lava-pés, reuni amigos para produzir esse vídeo, feito de forma totalmente independente e alternativa. Uma câmera na mão, figurantes voluntários, alguns objetos de cena emprestados, e depois um baita profissional para fazer a montagem. A música, Amigo Punk, a preferida de Rodrigo, com a autorização de uso no vídeo gentilmente cedida pelos seus autores, Marcelo Birck e Frank Jorge. O vídeo foi feito, e já foi visto por várias pessoas. Em todos os locais onde foi exibido, suscitou debate, reflexão, e principalmente, o choque que todos tem ao perceber que a juventude é vítima da violência, quando a comete e quando dela é presa. Jovens matam, se matam e são mortos. Corriqueiramente. Suicídios. Execuções. Latrocínios. Muitas mães choram a perda de seus filhos.
Quando eles morrem. E quando, diante da Justiça, de um tribunal, com juiz, promotor e defensor, o réu é absolvido. Provas insuficientes? Discurso da defensoria falacioso? Júri preconceituoso? (afinal, jovens com piercings e tatuados não podem ser "boa coisa"...)
O assassino de Rodrigo foi absolvido. Dentro dos trâmites da lei, não da Justiça. Valéria sentiu a perda de seu filho mais uma vez. Enquanto alguns lavam as mãos, ela usou as suas para enxugar sua dor. Entrar com recurso? Deixar para a chamada Justiça Divina?
Conformar-se ou indignar-se? O que dizer para as mães que perdem seus filhos?

Eu apenas abraço. E através desse vídeo, o mais curto, o mais impactante, o mais importante que já fiz, procurei mostrar que podemos escrever e produzir vídeos que de alguma forma ajudem as pessoas a olhar um palmo diante do nariz, a ver o óbvio. Como aquele provérbio chinês, segundo o qual o poeta aponta a lua enquanto o idiota olha para o dedo.

Valéria. Eu fui acusada pela professora de Geografia de ter colado, e eu não tinha. Meus pais foram à escola. Depois que eu falei para eles o que aconteceu, eles me abraçaram. E acreditaram em mim. Sinta-se abraçada por todos os que te amam e compartilham de tua luta e de tua dor. E que acreditam que a Justiça existe, apesar dos idiotas que continuam a olhar para o dedo...
Beijo no coração.

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

O sol no quadro

Queridos e queridas,

O diretor franco-polonês Roman Polanski está vendo o sol nascer quadrado. Ele foi preso na Suíça, logo ao desembarcar naquele país onde iria receber uma homenagem pelo conjunto de sua obra, no Festival de Cinema de Zurique. O motivo da detenção, é a acusação que o diretor sofre por parte dos Estados Unidos, de ter tido relações sexuais com uma menina que em 1977 tinha 13 anos. Os EUA querem a extradição de Polanski. E Polanski, hoje com 76 anos, está determinado a se defender. Apesar de ser um mandado de prisão internacional, fica evidente a armadilha feita ao veterano e controverso cineasta, que inclusive não foi receber seu Oscar de Melhor Diretor em 2002, pelo filme O Pianista, por não poder pisar em solo americano. A Promotoria de Los Angeles vai enviar o pedido de extradição às autoridades diplomáticas, do governo e da Justiça para reaver o passe de Polanski. Coisa de cinema?

Para muitos amigos de Polanski, essa atitude soa como uma armadilha policial, ou ainda, nas palavras de Andrzej Wajda, uma ameaça de linchamento judicial. Uma petição foi assinada por vários artistas e cineastas, como Costa-Gavras, Wong Kar-Wai, Walter Salles, Ettore Scola, Giuseppe Tornatore, Monica Bellucci, Fanny Ardant, Pierre Jolivet, Bertrand Tavernier, entre outros. Para a Associação de Roteiristas e Diretores de Cinema da Suiça, esse país pode sofrer um grande abalo, se for conivente com essa armação, por eles chamada de escândalo jurídico.

Embora a Justiça Americana alegue agir dentro da legalidade do que prevê um tratado internacional, o que mais causa estranheza é que o motivo - a adolescente de 13 anos com quem o cineasta teve uma relação há mais de trinta anos - pediu o fim do caso.
Cinema e direitos humanos, direitos humanos no cinema. Enquanto os próximos dias revelarão uma quebra de braço entre os operadores da Justiça americana e os defensores de Polanski, uma coisa fica certa, clara e transparente: uma história mal resolvida é como um filme que parou de ser rodado, ficou incompleto, para decepção daquele que o criou. O filme pode ficar lá em um canto, uma fita, um HD. Pode ficar ignorado, mas não esquecido. O que foi feito, foi feito.

Uma história mal resolvida é algo que pode até dar um certo ar de complexidade, de dramaticidade a quem a vive, como é o caso de Polanski. Mas é algo que lhe tira a paz de espírito, que transforma sua vida em algo controverso. O genial diretor de filmes como Armadilha do Destino (1966), Dança com Vampiros (1967), O bebê de Rosemary (1968), Chinatown (1974), O Inquilino (1976), e o oscarizado O Pianista (2002) é autor de mais de 40 longa-metragens. Ator, produtor e diretor, imprimiu sua marca autoral que o transformou em um dos mais respeitáveis nomes do cinema, e igualmente uma história de vida das mais atribuladas. Eu particulamente acho genial o filme Repulsa ao Sexo (1965), no qual Catherine Deneuve, a maravilhosa atriz de A Bela da Tarde, já realizava nesse filme a interpretação magistral de uma louca assassina, em um filme de terror com uma profundidade psicológica que nos remete aos maravilhosos filmes de Alfred Hitchcock.
Roman Polanski, como seus filmes, e esse em particular, é um homem que pode causar repulsa, por ele ser quem é e como é. Perturbador, como seus filmes.
Boa noite!

domingo, 27 de setembro de 2009

Quem faz os filmes?

Queridos e queridas,

Eu falei ontem em chuva torrencial. Quem não é daqui de Porto Alegre, não faz idéia do quanto aqui choveu neste fim de semana. Há poucos instantes, a chuva parou. E não voltou. Deve ter algo errado. Porque este domingo foi avassaladoramente molhado, úmido, chuvoso. Fiquei ilhada dentro de casa, imaginando como seria esta situação durante uma semana, um mês, o ano inteiro assim. Chovendo sem parar. Pensei em começar a escrever uma história assim. Uma mulher que não sabe nadar fica presa em sua própria casa, devido a uma inundação.

Vislumbro essa história em um livro. Um conto, por exemplo. Vislumbro também esse argumento como origem de um filme. Um curta-metragem. Consigo visualizar todos os elementos. A protagonista - mulher que não sabe nadar, as locações, os objetos de cena, as sequências com a chuva reinante na história inteira. A questão que aqui se impõe é uma frase do célebre Stanley Kubrick: "Livro é livro, filme é filme". Afinal, a chuva no livro pode ser uma metáfora. Não é uma chuva real. É uma chuva de problemas, de dúvidas, de interrogações, de dilemas, que geram uma inundação interior na personagem, que não sabe nadar, ou seja, que não sabe como resolver essa situação. No livro, o escritor pode usar de todos os artifícios literários para explorar essas nuances, as subjetividades e as entrelinhas. No filme, a linguagem é outra. Será possível dar o mesmo tratamento que no livro? E é necessário e desejável que seja assim?

A liberdade de criação na narrativa literária e na narrativa fílmica é um dos assuntos que mais me fascina quando falo sobre cinema e literatura. Para mim, que escrevo, são almas gêmeas, caras metades. Cada qual, porém, com sua identidade e limitações próprias. No livro, tudo é possível. No cinema, não. A imaginação, a criatividade que o escritor coloca no texto, não pode ser sempre explícita em um roteiro cinematográfico. E nem deve ser. O trabalho autoral transforma-se em um trabalho de equipe, sob as vistas de uma direção que apontará os rumos da obra. Adaptação, é verdade, mas que poderá ser mais ou menos fiel ao original. São outras cabeças pensantes sobre um pensamento original. Alguns exemplos:

Scott Fitzgerald escreveu o conto O Curioso Caso de Benjamin Button, e o romance O grande Gatsby, ambos levados às telas do cinema. Henry James, um dos maiores nomes da literatura americana, escreveu os romances A volta do parafuso, que resultou no filme Os inocentes, e As asas da pomba, que originou o filme As asas do amor. Martin Scorsese dirigiu em 1993 o filme A idade da inocência, a partir da obra de autoria de Edith Warthon. Stanley Kubrick adorava a aproximação e a cumplicidade entre a literatura e o cinema. Exemplo dessa relação: 2001 - Uma odisséia no espaço, cujo argumento criado por ele e pelo escritordArthur Clarke originaram o conto O sentinela. Já o escritor Ernest Hemingway é o maior exemplo de um autor cuja obra já nasceu para ser filmada: O sol tabém se levanta, e Por quem os sinos dobram são exemplos disso.

Como afirmou o genial escritor Gore Vidal, autor de 24 roteiros de filmes, como Ben Hur: o roteirista é o verdadeiro gênio insubstituível por trás de um filme. Para ele, os diretores de cinema tem o apuro técnico, mas quando se trata de adaptações de obras literárias, o roteirista é indispensável para transpor para a telona a essência dos caminhos que uma obra literária mostra ou sugere.
A chuva parou. O que a mulher vai fazer? Mãos à obra. Um novo texto, quiçá um novo filme.
Boa semana!

sábado, 26 de setembro de 2009

A derradeira luta do samurai

Queridos e queridas,

Choveu de repente hoje à noite, aqui em Porto Alegre. Bem, não tão de repente, se levarmos em conta o quanto este inverno primaveril, ou esta primavera invernal estão sendo temperamentais. Esquenta, esfria, esquenta, esfria. Faz sol, cai chuva. Sob inspiração desta chuva torrencial, escolhi o filme de hoje: Depois da chuva.

Já falei Cantando na Chuva, e já falei de Antes da Chuva. Cada um e cada qual, em seu estilo, são filmes fenomenais. O mesmo digo em relação a Depois da Chuva, esta multipremiada produção de 1999, que tem o roteiro do grande mestre Akira Kurosawa e direção de seu assistente e discípulo, Takashi Koizumi. A história é baseada em um conto de Shugoro Yamamoto, sobre um samurai, o Japão medieval, e o desapego. Sim, esses são os três pontos principais que fazem deste um belíssimo e comovente filme, que só foi levado às telas um ano após a morte do grande cineasta Kurosawa.

O roteiro escrito por Kurosawa, um dos últimos antes de sua morte, apresenta a história de Misawa, um samurai sem emprego que fica com sua mulher em uma hospedaria por causa de uma chuva torrencial que se transforma em uma enchente. O samurai passa a lutar, em troca de dinheiro e em busca de alimento para os que lá estão hospedados. Sua ação passa a causar desconfiança em sua mulher, com relação aos reais interesses do samurai.

Embora trate da história de um samurai, esta não é uma história de artes marciais, tão comum em filmes japoneses. É uma obra sobre a necessidade, a importância e o valor do desapego, e também sobre as mudanças que ocorrem em uma cultura, com menos valores, menos nobreza, e mais empobrecimento,tanto material como ético.

A luta do personagem samurai é a luta de uma cultura na qual outrora predominavam valores nobres de conduta, para uma outra fase, na qual a bravura, o caráter e a humildade são muitas vezes valores relegados. Em Depois da Chuva, a principal luta do samurai não é com a espada, mas com seus próprios valores. Lutar pelo que? Lutar por quê? E por quem? Uma luta somente se justifica se for por quem se ama, seja uma pessoa, uma causa, uma coletividade.

Então, enquanto continua aqui a chover todas as lágrimas do mundo, eu fico a pensar sobre a primorosa fotografia e história de um samurai que queria ser nobre, ser bom. Acho que todo o ser humano deveria ser assim. Pergunto por que isso é tão difícil de se efetivar. A nobreza de caráter, a retidão, o equilíbrio, a harmonia... mais do que treinar a mente e o corpo, é uma questão de treinar valores e posturas diante das coisas que acontecem na vida. Somos testados o tempo todo, em nossa vida pessoal, familiar, profissional. Problemas surgem o tempo todo. Como uma chuva que surge de repente, e que de repente inunda a casa, a estrada, a cidade, transforma-se em uma enchente, que carrega tudo o que vê pela frente. Quantas vezes nossa vida se transforma e transborda como uma enchente? Como uma chuva de lágrimas?

Mas...
Depois da chuva. Vem o sol. Dias melhores. Arco-íris. O desapego é um exercício contínuo. É uma luta que temos com o nosso eu. Um desafio ao autoconhecimento. Com sua extrema sensibilidade, Akira Kurosawa, o grande mestre, sabia, e seu grande discípulo, Takashi Koizumi, também soube conduzir essa obra com uma delicadeza ímpar. Todos podemos ser samurais, lutadores, guerreiros. Mais do que escolher a espada, é fundamental saber escolher o motivo. Desapegar-se para viver. Essa é a grande e derradeira luta, o grande embate, em busca da descoberta do nosso verdadeiro "eu".
Bom domingo!

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Perambulando em Dourados




Queridos e queridas,

Saudade de escrever aqui! Mas nesses dias em que estive em Dourados, no Mato Grosso do Sul, vivi momentos muito bonitos e energizantes. Fui trabalhar, participar de um evento na área de direitos humanos, o Congresso Transdisciplinar de Direito e Cidadania. Lá, palestrei e participei de outras palestras. Conheci professores e pesquisadores envolvidos e entusiasmados com a causa dos direitos humanos. Pessoas de vários estados e países, cada um falando um pouco sobre o que está acontecendo em sua região, e sobre o que estão pesquisando. Conversei com moradores da região, que embora cravada no centro-oeste brasileiro, é constituída por um número enorme de gaúchos e de outros sulistas, como catarinenses e curitibanos. Descobri pouquíssimos douradenses de nascimento, mas fui muito bem recebida por todos, todos mesmo, desde à chegada até o retorno ao aeroporto.

Fiquei com bolhas nos pés e sorriso escancarado no rosto ao caminhar pelas ruas retas e planas da cidade, povoada por muito comércio, ruas arborizadas, calçadas com rampas de acessibilidade para cadeirantes, e muito fluxo de motos e bicicletas. Descobri um café simplesmente formidável, no qual eu gostaria de pernoitar ou morar, se pudesse, até terminar de tomar todo o estoque de cafés, especialmente o cappuccino preparado naquele lugar. Fiz novos contatos, e melhor ainda, novas amizades. Em um congresso transnacional, relacionamentos transnacionais. Pessoas muito queridas, mesmo. Eu estava com muita saudade daqui, dos que me são caros, e voltei com muita saudade dos que me receberam tão fraternalmente, e os quais espero rever sempre que possível.

Cinema. Um dos motivos que lá me levaram. Apesar de não ser um pólo cultural, não ter múltiplas salas de cinema, na Universidade Federal da Grande de Dourados há o cineclubismo, e um projeto do curso de Direito denominado Cinema e Direito, com a exibição de filmes e debates focados em temas de direitos humanos. E eu tive a oportunidade e o privilégio de lá exibir o documentário que pesquisei, roteirizei e co-dirigi, Perambulantes.

Foi um momento único em minha vida. Especial mesmo. E por múltiplas razões. Não vou aqui falar sobre elas. Apenas sobre uma. A principal. Estava eu naquela cidade, naquele Estado, naquela região, onde há reservas indígenas, onde há milhares de indígenas de várias etnias que vivem ali, colados na cidade, no meio urbano. Vivem em condições precárias. Sem sustentabilidade, com crianças morrendo, com jovens se suicidando, com assassinatos de indígenas, com exploração da mão-de-obra na terra do agronegócio, nas lutas pelas terras produtivas, na demarcação de terras, na falta de uma assistência efetiva da Funai, nos preconceitos que essas comunidades enfrentam, nos seus pedidos de ajuda, de pão velho, de qualquer coisa que os ajudem a sobreviver. Continuam tutelados, 509 anos depois.

A luta pela visibilidade dos problemas que afligem as comunidades indígenas está ali, pulsante, sangrando, e aparentemente está tudo normal. É o que vemos quando caminhamos pelas ruas centrais e arborizadas e tranquilas da cidade. É o que vemos ao lermos os jornas locais. Felizmente, os professores universitários desenvolvem ações como este congresso, para abrir um debate sobre a sangria que escorre, para não mais tapar o sol com a peneira. E lá estive eu, vendo mais uma vez o filme, e desta vez juntamente com uma atenta platéia formada especialmente por alunos e professores dos cursos de direito do Mato Grosso. E por indígenas. Conversei com índios Terena que lá estudam. Um deles me disse que os índios de lá não tem perspectivas. Há motivações para morrer, e não para viver.

Talvez por ter tido essa conversa, minha fala para esta platéia foi um desabafo. Um testemunho de alguém que quando começou a fazer este filme, tinha o ideal de fazer algo que mudasse, que transformasse uma realidade tão dura como a dos indígenas. Depois me dei conta das limitações que um filme envolve. Mesmo se tratando de um documentário, um filme é e sempre será um filme. Uma história contada por alguém. Construída em imagens e sons por uma equipe, mediante uma direção que aponta caminhos, técnicas e um fim em um determinado tempo.

Após o filme ficar pronto, ser lançado, ser distribuído, caiu a ficha. Das limitações que temos enquanto realizadores para efetivamente mudar uma situação real, concreta, que exige mudanças urgentes. O filme é um poema, o filme é uma denúncia, o filme é uma história que abre várias portas: a porta da história, da educação, do direito, da antropologia. O filme é a busca de um diálogo entre etnias e culturas distintas. É a estréia no roteiro e na direção de uma aspirante a transformar problemas em soluções, e que terminou encontrando mais problemas do que soluções.

Compartilhei essas experiências e aprendizados com uma platéia especial, que participou do debate com perguntas enriquecedoras, com opiniões baseadas em visões críticas. Foi, para mim, uma aula sobre cinema e direitos humanos. E, depois de três anos trabalhando nesse tema, da pesquisa à exibição, senti um sentimento lindo e puro, como há muito não sentia: a alma leve, flutuando, por estar ali, ao lado de jovens que anseiam por mudanças. E ao injetar ânimo e coragem neles, renovei a mim mesma. Tenho certeza de que todos saíram de lá com uma visão diferente sobre a realidade indígena. Com respeito, e com a necessidade de fazer algo por eles. Como eu disse na palestra: fazer por eles é fazer por nós mesmos. Porque em tudo há uma ligação. Até onde vale a pena fazer tudo o que se faz pelo mundo do capital? Onde esse mundo está nos levando?

O que eu sei, é que enquanto houver a resistência, não haverá a extinção. Precisamos, às vezes, quebrar as regras para transformar o direito em justiça. Resumo o valor desses dias em uma palavra: gratidão.
Bom fim de semana!

sábado, 19 de setembro de 2009

Voar, viver e arriscar

Queridos e queridas,

Serei breve hoje. Estou prestes a viajar, e com um frio no estômago. Porque adoro viajar de avião, especialmente decolar e aterrissar. Aquela adrenalina da velocidade, subindo, descendo, acho muito bom. Gostaria de poder fazer isso muitas vezes. O problema em um vôo, como na vida, não está necessariamente no começo ou no fim ,mas no durante. Explico: depois que estamos no ar, tudo está bom se funciona bem, sem panes. But, se houver panes, as nossas chances são infames. Comparei o vôo à vida porque voar é uma libertação. Nos dá as asas que não temos nem teremos. Não somos pássaros nem anjos. Mas voar é também arriscar. Cruzar nuvens, desafiar os deuses. E as panes acontecem, às vezes.

Como no filme Náufrago (2000). Dirigido por Robert Zemeckis, com Tom Hanks interpretando Chuck Noland, um inspetor da multinacional FedEx. Durante uma viagem entre as várias que ele costumeiramente fazia a trabalho, ocorre um desastre, uma pane aérea filmada à perfeição. Eu diria que é a melhor cena de desastre aéreo no cinema, na minha modesta opinião. É uma agonia só. Ele acorda em uma ilha na qual vai praticamente voltar à Idade da Pedra na luta pela sobrevivência. Sozinho,por quatro anos.

O filme rendeu duas indicações ao Oscar. Tom Hanks é sabidamente um grande ator, um dos melhores, e deu tudo de si nesse papel. É emocionante testemunharmos a luta de um homem para entender por que isso aconteceu, e apesar disso, não desistir, não enlouquecer. Nem que para isso pareça um louco que conversa com uma bola chamada Wilson. Nos momentos mais dramáticos de nossas vidas, nos vemos de repente segurando objetos que nos lembram momentos, emoções, pessoas que nos são caras. Uma foto, um bicho de pelúcia, um bilhete, até mesmo um lenço de papel que lembre a rinite alérgica de alguém que amamos...

Náufrago é um filme extremamente humano. Na solidão um homem encontra a si mesmo. Às vezes é preciso naufragar, ir no fundo do poço, na tota escuridão, para nadar até à superfície, voltar para o topo, retornar a ver a luz. Voar e viver. É arriscar. Movimentos, subidas, descidas, panes. Mas muita adrenalina, também.

Então, fica aqui a sugestão para ver ou rever um filme que emociona pelo começo, pelo durante e pelo fim. E eu, agora, vou arrumar minha pequena bagagem. Com a lembrança de um almoço-surpresa especial feito pela minha filha Chef Rafaela. Com o compromisso de ver Transformers com meu filho Thomas, SEM FALTA!!!!, quando eu retornar. E pelas saudades que já tenho dos que amo e que me querem bem.
Saudades!

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

O happy end

Queridos e queridas,

Retomo o tema da postagem anterior, sobre a crítica às comédias românticas feitas atualmente. Mas agora para falar sobre a importância de um roteiro bem feito, e a diferença que se percebe no resultado, no filme. O exemplo que eu trago é com uma atriz que já fez das piores às melhores comédias românticas norte-americanas recentes: Jennifer Aniston.

Não vou aqui mostrar a cinebiografia da atriz, mas uma rápida passagem em alguns dos filmes nos quais ela atuou desde que deixou de ser apenas a Rachel do seriado Friends. Filmes como Paixão de Ocasião (1997), Quero ficar com Polly (2004) e Separados pelo Casamento (2006) são alguns exemplos de como rasa e superficial pode ser uma história. E Jennifer estava lá, como protagonista, em todas elas. Talvez por isso tenha ficado muito mais conhecida pelo seu casamento, e mais ainda com a separação de Brad Pitt, do que pela sua filmografia. Ou ainda, por ser multi-premiada como a personagem Rachel Green, uma menina mimada que vai morar com amigos e, entre uns cafés e outros, amadurece em seus amores e escolhas de vida.

Acontece que Jennifer Aniston também atuou em filmes como A Razão do meu afeto (1998), Por um sentido na vida (2002), e Amigas com dinheiro (2006). Nestes filmes existem histórias consistentes, e também uma atriz que não "interpreta" a mimada, a patricinha, a chorosa, a ingênua, a bonitinha, a insossa. Jennifer cresce e aparece. Uma mulher desglamourizada, que prende a atenção e convence por sua atuação, e não pelo seu físico ou fama ou qualquer outro penduricalho.

Destes filmes, gosto especialmente de A Razão do meu afeto. O filme tem direção de Nicholas Hytner, roteiro de Wendy Wasserstein, baseado em livro de Stephen McCauley. Jennifer interpreta uma assistente social que conhece um gay (Paul Rudd). Eles tornam-se amigos e vão morar juntos. Embora grávida de seu namorado, ela passa a querer cada vez mais a companhia de seu amigo gay, por quem está se apaixonando.

Aqui temos algo, conteúdo, potencial para uma boa história. Um caso de amor diferente. Uma possibilidade de um outro tipo de happy end. Ou de que não tenhamos um happy end. Ou que nem tenhamos um caso de amor. Quando o amor é possível? Quando o amor é correspondido? E quando ele é impossível? E quando ele não é correspondido?

Se fosse um filme europeu, a abordagem poderia ser mais densa, eu acho. Mas, por se tratar de um filme norte-americano, é um dos poucos, em minha modesta opinião, que trata com leveza sem ser fútil, e com densidade, sem ser profundo, o tema do amor não correspondido. Algo profundamente humano, possível de acontecer com qualquer um de nós, reles mortais. Ou ainda: quando o amor, platonicamente é correspondido, mas não como gostaríamos que fosse. E o filme deixa possibilidades, portas e janelas abertas, sem fechar a questão. O que é muito bom, por se tratar de um filme. Já na vida real tudo o que se quer são respostas, definições, soluções. Correspondências.

Talvez por isso, voltando um pouco ao post de ontem, as pessoas de um modo geral gostam de -boas - comédias românticas, dramáticas, e mesmo dramas e romances (estes, sempre mais densos). É um momento de dar vazão às fantasias, à imaginação, ao sonho. Com ou sem happy end, mas com histórias que cativem, que emocionem, que sejam verossímeis. Jennifer foi indicada por sua atuação em Um sentido na vida. Mas neste filme, A Razão do meu afeto, ela já demonstrava que pode ser uma ótima atriz. Precisa saber escolher melhor os roteiros. Ou escrever, ela mesma, a sua própria história. Por que uma mulher bonita, bem sucedida, não consegue ser feliz? Por que parece que, para ser feliz, é preciso ser um par? Qual é a história que pode, realmente, chegar a um happy end?
Bom fim de semana!

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Tragicomédia...

Queridos e queridas,


Eu estava lendo o guia com as sinopses de filmes em exibição nas salas de cinema aqui em Porto Alegre. Quando chegar a sexta-feira, haverá novidades, estréias. Mas nesse fim de semana viajarei para Mato Grosso do Sul, e talvez por uns quatro dias eu não escreva aqui. E também não irei assistir a estréias ou a algum dos filmes que vi no roteiro de hoje. Há o caso de uns filmes que eu não iria assistir nem se eu estivesse aqui no fim de semana, ou se me dessem o ingresso. Não me entendam mal. Não é preconceito. É perda de tempo, o que é bem diferente. Refiro-me ao gênero das comédias românticas.


Quem é meu leitor assíduo, sabe que é com certa frequência que eu escrevo sobre esse gênero. Então, não seria uma contradição? Não. Porque, apesar de eu ser crítica com relação à atual produção de filmes nesse gênero, ainda é uma das melhores formas de escrever roteiros e ter bom público. O que está realmente faltando é qualidade nos roteiros. Isso sim, está matando um gênero que se celebrizou com clássicos como Harry e Sally, feitos um para o outro. A comédia e o romance foram feitos um para o outro, assim como o drama e o romance e a comédia também são o triângulo amoroso perfeito. Amor é risos e lágrimas. Paixão é alegria e dor. Tragicomédia. Essa é a vida real. Daí o motivo que o público em geral, independente de faixa etária, gosta e se identifica com uma boa comédia romântica, ou uma boa comédia dramática. O que ninguém aguenta mais são as histórias previsíveis. Primeiro, porque a vida não é previsível. Segundo, porque ninguém quer ver novela das oito no cinema.


Apesar disso, o estilo hollywoodiano de des-fazer cinema continua a apostar em novos rostos, no melhor estilo "namoradinha do Brasil". Atrizes como Jennifer Aniston, Sandra Bullock, Jennifer Lopez, e mais recentemente, Katherine Heigl, são fortes candidatas ao título de "nova Meg Ryan da hora das comédias românticas". Só que de histórias medianas a medíocres. A Verdade Nua e Crua, por exemplo, filme dirigido por Robert Luketic, é o mais novo fenômeno dessa leva, que inclui outros filmes recentes como A Proposta, ou Vestida para Casar. Puro clichê. Mocinho e mocinha que se odeiam porque se amam e porque vão ficar juntos no happy end. Essa é a sinopse. Em uma linha já se percebe que é óbvio ululante que não justifica fazer um filme como esse, investir uma fortuna nesse tipo de filme que, antes que acabe, já não faz falta. Hollywood tem dinheiro mesmo, porque pode se dar ao luxo de investir em lixo.


Desculpem se fui rude. Não costumo criticar radicalmente, a não ser que seja necessário. E eu não aguento mais ler guias de filmes nas páginas de jornais, e nos sites de imprensa, no qual há produtos de consumo absolutamente descartáveis, e que custam uma fortuna para serem produzidos, distribuidos e comercializados. E tem apoio!!


Enquanto isso, os denominados filmes de autor, filmes de arte, ficam na grande maioria das vezes nas tocas, nos circuitos alternativos, na ação-entre-amigos, sem espaços de divulgação, sem incentivos para produção, tanto por parte do governo como por parte do meio empresarial. Este, só investe se tiver abatimento no Rei Leão, e não por investir em cultura. Quanto ao governo, cada vez há menos editais, com verbas curtas e uma demanda enorme. Os produtores independentes estão se tornando cada vez mais dependentes por falta desse olhar, dessa sensibilidade para um apoio de verdade. Esse apoio só vem quando o anônimo artista se torna uma celebridade. Que ludibriador esse mundinho capitalista pré-apocalíptico que também mostra seus tentáculos no mundo do cinema. Isso sim, é uma tragicomédia...
Boa noite!

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

As rosas vermelhas e a rosa púrpura

Queridos e queridas,

Pela primeira vez desde que comecei a escrever aqui, pensei em tirar o dia de folga. Meu aniversário. Mais um (ainda bem!). Quanto mais o tempo passa, melhor eu me sinto, em todos os sentidos. Não sinto saudade dos meus vinte anos, porque era muito mais rebelde, mas muito mais ansiosa, e em função disso atropelei muitas situações. Inexperiência? Aprendizagem? Ou imaturidade? Acho, hoje, que foi um pouco de tudo isso. Houve muitas coisas boas, e outras que prefiro nem lembrar mais.

Os 30 vieram para acalentar sonhos, projetos, centrar mais na vida, família, trabalho... Ou não? Sei lá, passaram tão rápido... Mas a magia dos 30 era imaginar que poderia ficar sempre por aí e não ir adiante. Uma espécie de auge, de apogeu feminino. Corpo, sexualidade, mente. Uma engenhosidade da natureza que aparentemente está em seu melhor momento. Aparentemente, porque na verdade os 30 estão apenas preparando terreno para a temida e destemida idade dos 40. Quando a mulher torna-se mulher. Muitas são mães, como eu. Muitas estão separadas, como eu. Muitas estão na luta pela afirmação de seus sonhos, não tão delirantes como os dos 20, mas muito mais ardentes, mais sedentos e mais serenos. A vida respira ofegante, pede passagem. Vigor, vitalidade, energia. É tempo de rever o que se plantou, fazer as podas necessárias, semear na mudança de estação. Porque os 40, ao contrário do que se imaginava um tempo atrás, não são o começo do fim, são apenas o começo. Ou o recomeço.

Eu tive um dia lindo, especial, com meus filhos que amo mais do que tudo nesta vida, Bruninho, Rafaela e Thomas. Com o apoio do meu ex-marido. Com a lembrança dos parentes e dos amigos, por telefonemas, emails, mensagens no celular, postadas no Facebook, no Orkut e assim por diante.

Com meu Olhos Verdes. Com rosas vermelhas. Sinto-me uma mulher amada e que ama muito. Olho para essas rosas, relembro do filme A Rosa Púrpura do Cairo, o preferido de Woody Allen, que o roteirizou e dirigiu em 1985. A louca história de Cecilia, a desempregada garçonete que foge de sua vida problemática na sala de cinema, até que o ator sai da tela para o coração de Cecilia. Este filme recebeu vários prêmios:Globo de Ouro, Bafta, César, Fipresci no Festival de Cannes, Saturno, Bodil e uma indicação ao Oscar.

Cecilia sonhou. Cecilia encarnou seus sonhos. Hoje eu tive um dia de Cecilia, com um ator, o Poderoso Chefão Marlon Brando, que não me trouxe uma, mas uma dúzia de rosas vermelhas.
E esse roteiro original não é o preferido do Woody, é o meu!!!!
Baci!!
Mensagem de minha amigairmã Valéria:
A Flor rara
Enquanto vamos rumando para a primavera, prá lá do meio de setembro, é o aniversário daquela que eu costumo chamar de Flor Rara. Flor rara é destas mulheres especiais que povoam a terra, com a graça de Deus. Elas estão por aí,f alando de séculos atrás ou borboleteando pelos dias de hoje.
Quando as encontramos, ficamos imóveis, meio pensativos. Sabemos estar diante de alguma coisa ou pessoa diferente.A minha amiga que faz aniversário hoje, dia 16.09.2009, é uma destas pessoas.Primeiro eu soube que ela adora o Pearl Jam, que é maluca pelo House, que cursou filosofia, faz filmes, tem um blog fantástico (acordanoabismo) onde pode mostrar sua maestria em escrever. Minha amiga é múltipla, diferente, corajosa a não mais poder, decidida, pragmática.
Minha amiga é romântica e já publicou um livro de poesias. Ela é mãe de três lindos rebentos, é dona de casa, faz jardinagem, está a frente da Liga dos Direitos Humanos. Voando sempre, voando muito! Imagino a Giancarla, minha amiga-irmã, como uma flor que nasce belíssima na parede íngreme de uma montanha, no alto de uma cascata, só do outro lado do rio. Não precisa de estufa, não se incomoda com o vento, nem com a umidade, nem com a lonjura.
Às vezes vejo nela a sombra de uma índia, os traços de uma dama antiga, o sorriso de menina. Hoje é o dia do aniversário da Gian e eu nem sei o que desejar a ela. Talvez devesse dizer seja sempre assim, meio flor, meio índia, meio menina mas eu sei da sua incansável transformação,da sua busca; por isso só posso agradecer por sua amizade-irmandade, por tê-la encontrado assim, no meio do caminho, me permitindo com seu entusiasmo abraçar uma causa apaixonante que começa a me fazer feliz. Gian-seja muito, muito, muito FELIZ. Beijos!

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Heróis, anti-heróis e losers

Queridos e queridas,

Estava eu a pensar sobre o tema do post de hoje. Fiquei sabendo que novos heróis saídos das histórias em quadrinhos irão em 2010 para as telas do cinema: The Losers. A direção é de Sylvain White, com produção de Joel Silver, que também produziu Matrix. O roteiro, de Peter Berg e Janes Vanderbilt, foi baseado nos quadrinhos de Andy Diggle (argumentos) e Jock (ilustrações). O filme vai apresentar a história de membros das Forças Especiais dos Estados Unidos que partem em uma missão na Bolívia, onde uma emboscada os aguarda. O grupo é dado como morto. Mas eles voltam, disfarçados, para impedir que o inimigo chamado Max comece uma guerra tecnológica no mundo.

Estava eu escrevendo esse texto quando o meu genrinho chega e me pergunta, à queima-roupa: Carla, tu preferes Batman ou Watchmen?, e eu, imediatamente, revido: O que??? E ele, calmamente, repete a pergunta. Mas como é que eu posso escolher entre Batman e Watchmen? Ele continua aguardando minha resposta, inabalável. Então, eu, meio gaguejante, tento responder que, se tenho realmente que escolher, será Batman. Afinal, Batman é meu alter-ego, Batman é meu ídolo de infância, das histórias em quadrinhos, e depois no seriado de televisão, e depois no cinema, e agora repetidamente no DVD.
Batman, Coringa, Darth Vader, Rorscharch... como vou escolher O herói? Meus leitores, minhas leitoras. Eu sei o que vocês estão pensando. Heróis? Darth Vader é herói? Coringa???? E Rorscharch, aquele sinistro psicótico?? E o Batman, sinistro, amargurado, o justiceiro das linhas tortas...

Meu genrinho resolve a questão. Ele não aguenta esperar a chegada da minha filha e nem a chegada da meia-noite e um segundo para dar meu presente de aniversário. Me estende dois pacotes. Daí eu entendo tudo. A resposta correta é Batman E Watchmen. Óbvio!!!! E eu, muito, muito emocionada, abro os pacotes, cuidadosamente, logo eu que quando abro um envelope rasgo a carta, invariavelmente. Todo o meu cuidado é recompensado quando abro a primeira embalagem e vejo, com as mãos e os olhos trêmulos, a edição especial dos quadrinhos Watchmen, de Alan Moore e Dave Gibbons. Volume Um e Volume 2. Daí, vou abrindo a próxima embalagem enquanto vou imaginando, com meus superpoderes de olhos de raio-X, que verei... BATMAN, o meu ídolo de histórias em quadrinhos.

Acho que não caí no choro porque os tornados da vida me endureceram um pouco. Só um pouco. Cada página que comecei a folhear me conduziram imediatamente para minha infância. Minha vida entrou em um quadrinho, em balõezinhos com muito PAF! POF! BUM! e com riscos e rabiscos de desenhos com muita ação, adrenalina, aventura, emoção, e diálogos curtos e profundos. A busca da justiça, a busca pelo fim da violência, a busca da superação de traumas. Batman, o cavaleiro das trevas, edição definitiva. O Batman de Frank Miller, Klaus Janson, Lynn Varley, e letreiramento original de John Constanza e Todd Klein. O Batman criado por Bob Kane. O Batman que dá uma surra no Super-Homem, que em vez de cuidar da cidade, passa a cuidar dos interesses do governo. Esse Batman sombrio, que Frank Miller transformou, em 1987, no consagrado personagem de graphic novel, no super-herói que aos 60 anos volta com a roupa do homem-morcego para a igualmente sombria e violenta Gotham City.

O meu mais novo livro de cabeceira já começa assim: "Aquele livro horrível apelava para o medo dos pais com relação aos próprios filhos. As Histórias em Quadrinhos foram rotuladas como a principal razão da delinquência juvenil". Esta citação, de Frank Miller, prossegue assim, mais adiante: "Se a natureza humana é imutável, o espírito criativo é indomável... O Cavaleiro das Trevas é, obviamente, uma história do Batman. Em grande parte, procurei usar a escalada da criminalidade no mundo ao meu redor para retratar um mundo que precisava de um gênio obsessivo, hercúleo, e razoavelmente maníaco para pôr as coisas em ordem."

Então, meu aniversário começou muito, mas muito bem mesmo. Acredito na importância de cultivarmos a imaginação, e por que não, a idolatria pelos super-heróis, ou anti-heróis, ou losers. Como muito bem disse Frank Miller, ao concluir a introdução: Os heróis fazem o que eles sempre precisam fazer: perseverar, ou morrer tentando. Esse é o meu lema.
Beijos!!!
Dedico esse post ao genrinho Umberto, pelo tesouro que me deu neste aniversário.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Suavemente, até o fim

Queridos e queridas,

Patrick Swayze morreu nesta segunda-feira, não sem lutar há quase dois anos contra o câncer de pâncreas. Lutou fazendo o tratamento, e lutou fazendo o que gostava de fazer: filmes. As fotos recentes do ator em nada lembravam o corpo do bailarino que se tornou famoso no filme Dirty Dancing (1987), uma história romântica na qual ele era um instrutor de dança que se envolvia com uma jovem (Jennifer Gray). Cenas memoráveis de danças ao ritmo de músicas que formam uma trilha maravilhosa, como a oscarizada música I've had the time of my life. O ator se consagraria no ano de 1990, como protagonista do filme Ghost- Do outro lado da vida, ao lado de Demi Moore. Uma nova história romântica, desta vez dramática, ao tratar de temas como a morte e a vida após a morte. Swayze foi indicado ao Globo de Ouro como melhor ator por seu trabalho nesses filmes.

Assisti esses dois filmes várias vezes, em momentos diferentes de minha vida. Sempre gostei de ve-los. Dirty Dancing é um daqueles filmes que podem ser vistos na Sessão da Tarde. Amenidades. Assisti-lo hoje poderia parecer ver um filme antigo, datado, levando em conta o figurino, a fotografia, por exemplo. Mas a dança é o que envolve o espectador. O tempo todo. Todas as vezes em que o filme é visto. A dança é mágica, Patrick Swayze é um grande bailarino. Então, Dirty Dancing entra para a lista dos melhores filmes de dança, como Footlose.

Já Ghost me comove, e acredito que a quase todos os que viram esse filme, pela suavidade do envolvimento amoroso. Swayze está lá, não como um galã, mas como um homem, corpo, espírito, que ama uma mulher. A suavidade dos passos de dança de Swayze estão presentes na suavidade de sua interpretação.

Seu primeiro papel de destaque foi em Vidas Sem Rumo (1983), dirigido por Francis Ford Coppola, ao lado de atores como Tom Cruise, Matt Dillon e Rob Lowe. Este filme, cujo título original - belíssimo - é Outsiders, trata da juventude. Os dilemas pelos quais passam os jovens, que tem nessa fase a mais alta potência da vida, mas não tem a mínima noção do que fazer com isso. E acabam se envolvendo em encrencas e situações de risco,
como "ratos de rua", nas palavras de Coppola.

Filho de uma coreógrafa, estudou balé clássico e teatro. Um dos galãs de Hollywood nos anos 80 e 90, que atuou em vários filmes, apesar de ter ficado meio escanteado nos anos 2000, e que ficou vivendo nos últimos dois anos em um inferno, como ele mesmo declarou na primeira entrevista que deu quando soube que estava com câncer.
Ele disse: Estou assustado, estou zangado. Por que eu?

Essa pergunta a gente se faz quando se olha no espelho, diante de alguma situação ruim que nos acontece. Problemas múltiplos: perdas, dores, traumas. Doenças, dívidas, mentiras, traições, sentimentos negativos, proximidade da morte. Ou a sua quase sentença, como no caso dele, que sabia ser o câncer de pâncreas um dos tipos de mais remota recuperação.

Pois Swayze, esquálido, ossudo, desfigurado, cabelos ralos, sem nenhum vestígio de juventude, e de galã com corpo de bailarino, demonstrou mais uma vez a sua suavidade, na forma como viveu o tempo que tinha. Não se escondeu. Não desistiu. Eu imagino Swayze tirando a morte para dançar. Durante quase dois anos, ele a conduziu, levantou-a, deitou-a, rodopiou e puxou-a para bem perto de si. A morte, ofegante, estupefata, lisonjeada e ligeiramente ruborizada com tanta suavidade, dançou, dançou e dançou. Os dois sabiam qual seria o final da dança. E ele, como um dos maiores nomes na arte da dança no cinema, a conduziu, suavemente, até o fim.
Boa noite.

domingo, 13 de setembro de 2009

A difícil arte de ser simples

Queridos e queridas,

Ontem escrevi sobre um filme no qual atua Edward Burns. E fiquei com vontade de escrever mais sobre ele. No filme 15 minutos, por exemplo, Burns atua ao lado do grande Robert de Niro, que nem fica o tempo todo no filme, ele é assassinado acho que lá pela metade da história. Então, o jovem, charmoso e tímido bombeiro (Burns) tem a (difícil) missão de segurar a história até o fim, investigar quem são os assassinos, e fazer justiça em um sistema de corrupção que envolve a polícia e a imprensa. E ele está muito bem no papel. Assim como no Resgate do Soldado Ryan, e em vários outros. Mas o que muitos ainda não dão o devido valor é ao excelente trabalho que Edward Burns faz atrás das câmeras, como roteirista, produtor e diretor.

Começando pelo seu filme de estréia, em 1995, Os Irmãos McMullen. Burns apresenta a história de um família de irlandeses católicos, são três irmãos que vivem crises distintas, e que os aproxima. Temas como amor, religião, valores, são cruzados nestas histórias paralelas: um está vivendo um casamento falido, o outro tem aversão a relacionamentos sérios, e o terceiro está dividido entre o amor por uma mulher de uma etnia e religião diferente da sua. Como roteirista, Burns escreveu uma história comovente, com diálogos nos quais sua vocação para um humor fino, no melhor estilo woodyalleano, está presente. Mas sua direção lhe dá uma identidade própria, bem como ele é: simples e profundo nesta simplicidade. Há uma, eu diria, uma elegância na forma de conduzir as cenas, das mais engraçadas às mais dramáticas. A gente se sente na história. Simples assim. O que não é nada fácil de fazer.
E Burns faz.

Como no outro filme que ele dirigiu, produziu e roteirizou, além de atuar, Nosso tipo de mulher. Além de conseguir no elenco nomes já famosos, como de Cameron Diaz e Jennifer Aniston, este filme consegue o que propõe: uma história bonita sobre o amor. Um homem com uma sensibilidade e sarcasmo para os pontos de vista masculino e feminino. Várias versões do mesmo fato. Várias perguntas em busca de uma mesma resposta: amar e ser feliz.
E Burns consegue, de novo.

No ano de 1998, Edward Burns escreveu seu primeiro drama, o qual dirigiu e foi um dos protagonistas, juntamente com Jon Bon Jovi e Lauren Holly: Uma Chance para Ser Feliz. Prefiro o título no original, No Looking Back. Essa é a essência do filme, mais centrado ainda sob o ponto de vista feminino em busca de ser feliz. Nesta história, que em princípio não tem nada demais, uma mulher mora em uma pequena cidade, vive com um rapaz de quem gosta, mas não o suficiente para casar. Falta algo mais, que ela não sabe bem o que é. Talvez seja a ausência do homem que a amou, e a abandonou há muito tempo. Quando ele reaparece, ela percebe que o passado ainda não passou, o presente é uma dúvida e o futuro é a obrigação de fazer uma escolha definitiva. Ficar com alguém que a ama, ficar com alguém que agora retorna e por quem ainda sente algo? Ficar só? Ou ...?

O que Burns mostra nesse filme é que, mais importante do que escolher com qual deles ficar, é ela saber que precisa ficar bem consigo mesma. Para ser feliz, tem que estar de bem consigo. Lembram da paz interior a qual me referi no post anterior? Pois é isso. Errando e acertando, escolhendo caminhos, pensando e agindo. Vamos fazendo nossa vida, traçando nosso futuro. Por isso, No Looking Back é um nome lindo, para um filme em que Burns está mais uma vez conduzindo e atuando com um talento que lhe é peculiar: ele é simples, original, e fala de coisas que dizem respeito a todos. (Não vou me referir aqui também ao olhar, à voz dele, é puro charme, mas daí já é tietagem...)

Burns recebeu críticas após fazer esse filme porque todos esperam dele algo que supere seu filme de estréia. Mas percebam a ironia da crítica: Os Irmãos McMullen foi filmado com um elenco de pessoas amigas de Burns, com um orçamento baixo, teve como principal locação a casa de seus pais, e o apoio técnico veio de colegas seus da produção do programa Entertainment Tonight, onde Burns trabalhava. Vários distribuidores torceram o nariz para o filme. E aí, no Sundance Film Festival, o maior festival de cinema independente norte-americano, o flme recebeu o Prêmio do Grande Júri. Estourou. Na verdade, o que o festival fez foi justiça a um grande e jovem cineasta que prima por boas histórias, em vez de megaproduções com olhos nos cifrões. Grande cara, esse Edward Burns.
Boa semana!