Quem sou eu
- Giancarla Brunetto
- Porto Alegre, RS, Brazil
- escrevo a dor e o prazer de viver vivo para escapar da morte morro e acordo cada vez mais forte
segunda-feira, 31 de agosto de 2009
um pedido de socorro
domingo, 30 de agosto de 2009
A vitória dos losers
sábado, 29 de agosto de 2009
O som do pássaro da meia-noite
Na sessão de cinema sem pipoca aqui em casa, revi ontem à noite Crepúsculo. O meu genrinho ainda não tinha assistido, e como eu adoro esse filme, ao contrário de meus filhos, resolvemos ver de novo e depois fazer uma roda crítica. Claro que o genrinho achou "emo", talvez um pouco influenciado pela minha filha (embora ele negue, claro)... Mas eu não mudei de opinião.
Eu me emociono cada vez que revejo essa história. É para adolescentes? Sim e não. Não, porque é uma história de vampiros e é uma história de amor. Uma linguagem estética moderna, diferente, com uma trilha sonora ótima, com uma química ótima entre os protagonistas, com uma releitura da histórica maldição de ser vampiro. Eu adoro desde sempre filmes sobre vampiros - desde criança eu via Drácula, em preto e branco, com atores como Bela Lugosi, Peter Cushing e Christopher Lee em atuações fenomenais. Eu não tinha medo, na verdade me sentia hipnotizada por essas histórias fantásticas. Na verdade, o mais assustador dos vampiros se chama Nosferatu.
Nosferatu (Eine Symphonie des Grauens) foi filmado em 1922, sob a direção de F. W. Murnau. A história é sobre o conde Graf Orlock, um vampiro que tem sede de sangue e de poder, e que espalha terror em Bremen, na Alemanha. Uma refilmagem dirigida por Werner Herzog traz Bruno Ganz interpretando Jonathan Harker, que se confronta com o vampiro interpretado por Klaus Kinski.
Nosferatu nasceu da obra Drácula, de Bram Stoker (1897). Murnau produziu essa belíssima versão para o cinema porque não obteve autorização da viúva de Stoker para filmar a história original. O Conde Drácula é o Conde Orlock, macabro com seu nariz e orelhas grandes, seus dentes afiados, sua figura esquálida e assustadora. É a encarnação do mal, do terror. O mundo das sombras, das trevas, da escuridão. Nosferatu é a metáfora da violência sob todas as suas formas, da guerra, do Holocausto, do nazifascismo, da intolerância política, religiosa, do vampirismo econômico do capitalismo pré-apocalíptico.
Na abertura do filme lemos: "Nosferatu é a palavra que se parece com o som do pássaro da morte da meia-noite".
sexta-feira, 28 de agosto de 2009
A máquina caloteira, o estorno e o estorvo
quinta-feira, 27 de agosto de 2009
Noites brancas e noites escuras
quarta-feira, 26 de agosto de 2009
O amor, e ponto final
terça-feira, 25 de agosto de 2009
Brad Pitt me dá sono
segunda-feira, 24 de agosto de 2009
Lutar, sempre
Quando assisti Coração Satânico (dir. Alan Parker, 1987), além da atuação do consagrado ator Robert de Niro, chamou-me atenção aquele detetive particular, Harry Angel, que quanto mais se aprofunda na investigação, mais fica e torna o filme tenso, emocionante, um dos melhores filmes de suspense que já vi. O nome desse ator? Mickey Rourke. Um ano antes ele foi o protagonista do filme Nove e meia semanas de amor, de Adrian Lyne, no qual esbanjava charme, beleza e talento. Além de ator, Rourke é boxeador. Seu rosto, antes irretocável, transformou-se em um punhado de peles repuxadas por várias cirurgias, que levaram para o esquecimento os papéis de galã.
O fato é que um ator deve ser mais do que um rosto bonito. Ou melhor, um bom ator não precisa nem ter um rosto bonito. A relação entre beleza e interpretação, entre embalagem e conteúdo, é algo a ser bem debatido. Para alguns produtores e estúdios, um é indispensável ao outro. Felizmente, nem todos pensam assim. Vejam grandes nomes do cinema internacional: Robert de Niro, Jack Nicholson, Harrison Ford, Sean Connery, Anthony Hopkins. A idade está chegando, o corpo dá sinais, e no entanto, seus filmes são sempre imperdíveis.
Mickey Rourke era um homem tão bonito, que ficaram - ele e seu trabalho - literalmente marcados pelas cicatrizes. Então, em 2008, foi a hora da virada. Voltar à cena. Entrar em ação. Dar uma voadora. Um vôo rasante. Pular no abismo. Sob a direção de Darren Aronovsky, Mickey Rourke deu vida ao personagem Randy "The Ram" Robinson, no filme O Lutador. Ele é um lutador de luta-livre decadente e movido a anabolizantes, Um dia tem um ataque cardíaco, e precisa escolher: parar de lutar, ou voltar aos ringues, para uma revanche que poderá levá-lo à vitória e à redenção.
"The Ram" não tem uma boa relação com sua filha, tenta engatar um relacionamento amoroso com uma stripper, tenta sair de sua vida modorrenta de trabalho em um supermercado. Tenta achar um sentido em sua vida. Sentido que encontra quando está nos ringues, na arte da luta.
Hoje eu acordei triste. Não fui em uma reunião, perdi a vontade. À tarde, soube que o projeto de um documentário que havia sido aprovado com três votos, não ficou entre os selecionados para obter financiamento. Mais um projeto engavetado. Mais um sonho partido. Mais um meio ano que passa e pára. Mais um teste para confirmar ou não a nossa vontade, obstinação e persistência em fazer o que gosta, em lutar pelo que se quer.
Ficam as cicatrizes. Não foi a primeira derrota, nem será a última. O rosto, outrora límpido, começa a enrugar-se. Sabedoria do tempo, nada como um dia após o outro. Se há algo que O Lutador e Rourke deixam claro, é que o sentido começa dentro da gente. A beleza, efêmera, deixa rastros na memória. O talento, lapidado, cresce com o tempo se não desistirmos de lutar. Sem anabolizantes. Sem fugas. Lutar é subir no ringue. Já estou no aquecimento.
Boa noite!
domingo, 23 de agosto de 2009
Discos de vinil e um homem de verdade
sábado, 22 de agosto de 2009
Os quatro Lebowskis
sexta-feira, 21 de agosto de 2009
Procura-se Lebowski
Estou com sono, mas não vou dormir antes de escrever. Nem vou conseguir escrever pensando em dormir. Nem quero dormir sentada, como quase aconteceu há instantes. Quero ter uma idéia, uma sugestão de inspiração, e ela não chega. Então, pergunto a mim mesma: se eu tivesse que falar sobre algum filme diferente, sobre qual eu falaria? Minha memória vai imediatamente para o ano de 1991. Lá estava um grande ator, no papel de um grandão e grande personagem, Jeff Lebowski.
Lebowski é um hippie, tudo o que ele quer da vida é ficar na paz e no amor. Nesta comédia excêntrica dos Irmãos Coen, o "dude", cara que se acha, é um grande bobalhão. Ele se envolve em confusões, quebra-cabeças, sequestros, ameaças. Sua vida pode ser tudo, menos sem graça. Lebowski tem a capacidade de não fazer nada e ainda assim se incomodar. Quanto mais ele quer fumar o cachimbo da paz, mais o seu grande e neurótico e veterano de guerra e amigo Walter (John Goodman) o empurra para mais confusões.
O que há de especial nesse filme, além de ser, como eu já disse, excêntrico? Para alguns, é considerado um filme menor dos cultuados irmãos Coen. Para outros, um dos filmes que mais simbolizam a criatividade, a ousadia e a linguagem peculiar dos irmãos Coen. Para mim, O Grande Lebowski é um Grande Filme em primeiro lugar porque conta com a atuação maravilhosa e inspirada de Jeff Bridges. Jeff já fez vários papéis, do drama ao suspense, e em todos está sempre muito bem. Mas neste filme eu fico com a sensação de que existe um Lebowski de verdade, é impossível que não exista, depois de ver sua performance. Ele é um cara legal, muito gente boa, ele parece um urso, grande e acolhedor, ele é desajeitado e por isso é charmoso, ele é sem-grana e por isso muito semelhante às pessoas reais. Sabe aquele cara que senta no bar para conversar, que fuma um baseado para viajar, que sempre tem um ombro para ouvir pela milésima vez o desabafo de um amigo, por mais pirado que ele seja? Ele é o cara.
Em segundo lugar, a história. Se vocês prestarem bem atenção, encontrarão várias semelhanças entre O Grande Lebowski e Fargo, esse filme, sim, a verdadeira obra-prima dos Irmãos Coen, e um dos meus filmes de cabeceira. Além de serem dos Coen, existe suspense, sequestro, uma mala, segredos, confusões, mal-entendidos, ganância pelo dinheiro, e um protagonista que é um grande bobalhão. Me parece que os Irmãos Coen brincam e se divertem o tempo todo, enquanto escrevem, enquanto dirigem. Talvez por isso seus filmes são de um humor diferente, de uma inteligência perspicaz. Eles viajam enquanto filmam, eles levam ao pé da letra a vontade de criar uma história, de transformar essa história em filme. Viajam mesmo. Escolhem os atores certos, e temperam com um humor refinado que nos presenteia com filmes como Fargo, e, é claro, o nosso querido amigo azarado, ruim de grana, bobalhão, mas simplesmente irresistível: Lebowski.
Lebowski é um daqueles personagens que eu gostaria de rever em outro filme, é uma daquelas pessoas que se conhece por uma casualidade do destino, que apareceu e que se foi, mas deixou sua marca. Que você não esquecerá. Que você ficará feliz se reencontrar. Por ser tão simples, Lebowski é um dos personagens mais complexos, na minha apreciação. Suas ações, as mais banais ações, nos faz refletir sobre como é difícil para alguém de verdade ser simples assim. Se nos anos 90 Lebowski encarnava o último grande hippie, como viveria ele hoje, no século 21, em pleno mundo capitalista pré-apocalíptico? Ou será que seu ressurgimento poderia significar uma opção para combater esse mundo em queda livre? Imagine um exército de Lebowskis. Gente do bem do tipo pode-me-provocar-que-eu-não-to-nem-aí. A não ser que levem o tapete dele.
Procura-se Lebowski!
quinta-feira, 20 de agosto de 2009
Os olhos verdes e Lenine
DICA DA CINÉFILA:Uma mostra de filmes já disponíveis na internet, e que objetiva abordar temas relativos ao movimento anti-globalização e a contemporaneidade, será exibido nos dias 22 e 29 de agosto, e nos dias 05, 12, 19 e 26 de setembro, sempre às três da tarde, no Auditório da Escola Téncnica da UFRGS.
quarta-feira, 19 de agosto de 2009
A terra prometida e o terremoto
Escrevo hoje sobre Terra Prometida, primeiro porque é um de meus curtas prediletos, e segundo porque há poucos dias falei que o Festival de Gramado precisa de uma auto-avaliação urgente. Qual é a relação? É que foi este Festival, no ano de 2006, que premiou Terra Prometida com os Kikitos de melhor filme, melhor direção em curta 16mm, e melhor atriz, para Aracy Esteves. E deveria ter premiado também o Alfredo Barros pela montagem, que nesta obra já fazia emergir o seu estilo alfrediano de montar, tão irrepreensível quanto sensível. Cinema puro. Pura arte.
Canabarro é um fazendeiro que vai ao velório de Chico, seu empregado, para prestar sua solidariedade à família e, é claro, não perder a ocasião para manifestar seu interesse em ajudar a família, cujas terras são de seu interesse. Há ocasião melhor do que um velório para tratar de negócios? A mãe de Chico, porém, desconfia das intenções e da causa da morte do filho. Acidente de trabalho? De percurso? Ou conflito de interesses? Olhares e silêncios fulminam, falam por si.
Terra Prometida recebeu vários outros prêmios, no 39º Festival de Brasília, 8ª Mostra Londrina de Cinema, 1º Festival de Cinema e Vídeo de Muriaé, e Menção especial pela direção e brilhante interpretação de Araci Esteves, Festival Internacional de Cortometrajes "Oberá en cortos".
Filmes como Terra Prometida mostram que o cinema gaúcho promete. E faz o que promete. Filmes de qualidade técnica, e especialmente realizados por cineastas que tem essa sensibilidade, essa perspicácia para transformar dores, perdas, intrigas, segundas intenções, deslealdades, ingenuidades, e toda a sorte de ditos, não ditos e mal-ditos por meio da linguagem audiovisual.
Filmes como Terra Prometida mostram que há uma razão de ser para a existência dos festivais. Que existam, e que tenham vida longa, desde que realizados com a intenção e a coerência de exibir, debater e premiar obras que vieram ao mundo para dizer alguma coisa.
Enquanto aqui, na semana passada, homenageava-se a Xuxa, logo ali, em São Paulo, o festival de Curtas exibirá mais de 300 filmes com entrada gratuita. O evento completa 20 anos, com o nome de Curta Kinoforum - Festival Internacional de Curtas-Metragens de São Paulo.
Começa nesta quinta e vai até o dia 28, com a exibição de centenas de filmes nacionais e estrangeiros, em onze salas da capital paulista. Tem produções de diversos estados, que serão distribuídos nas chamadas Mostra Brasil, Panorama Paulista, Mostra Internacional, Mostra Latino-Americana, Mostra Infantil. Uma Mostra Chilena, também.
Cineastas e cinéfilos dos pampas, esta Terra promete. Outras terras, enquanto isso, fazem verdadeiros terremotos culturais, para o bem da arte cinematográfica.
Bom dia!
terça-feira, 18 de agosto de 2009
Dois mil dólares de carinho
Sobre o que escreverei hoje? Olho em torno de mim, de olhos fechados. Penso: onde meus olhos abrirem e pousarem o olhar, aí estará a história de hoje. Abro os olhos, e miro um livro de Jean-Paul Sartre. Aproximo o olhar para ler o nome do livro. Quando leio, cerro os olhos, meio que envergonhada, meio que excitada. A Prostituta Respeitosa. Entre as várias obras do escritor e filósofo francês, esta pode ser considerada mais amena, menos complexa. É uma peça teatral em um ato e dois quadros. Mas basta começar a ler a história da prostituta Lizzie, para compreender a profunda metáfora que ele cria em torno da França, um país dividido entre os alemães e os aliados, os colaboracionistas e a resistência. Vender-se. Para quem e por que?
Nesta peça escrita em 1946, Sartre aborda situações de violência, opressão e racismo, critica a sociedade norte-americana baseada na exploração. Uma grande potência que se espalha sobre países em desenvolvimento. Os tempos passam. Mudam os nomes, mas não a situação. A exploração de um sobre o outro. Quem se vende para quem, e por que?
A sociedade trata com respeito a prostituta de luxo, e trata com desprezo a prostituta do lixo. Há níveis na sociedade da hipocrisia. Do tráfico à exploração sexual de menores, e do oferecimento de sexo pago a senhores de fina classe, há uma tênue, porém, marcante diferença. Na primeira situação, crianças e adolescentes são vítimas de um sistema abusivo, mercenário, que mira lucrar 100 por cento com custo zero. Na outra situação, a complexidade psicanalítica de um ato sexual que é tão somente um ato sexual e ao mesmo tempo é muito mais do que um ato sexual.
O filme Anjos do sol (2006) dirigido por Rudi Lagemann, mostra a vida de Maria, uma menina nordestina que aos 12 anos de idade é vendida pela própria família para um recrutador de prostitutas. Ela faz sexo pago. Ela é prostituta? Ela sofre abusos.
O cineasta norte-americano Steven Soderbergh faz uma apresentação mais respeitosa, diria Sartre, sobre a vida de Chelsea, uma garota de programa de luxo que oferece um pacote incluindo sexo, conversa, acolhimento aos seus carentes e ricos clientes da alta sociedade. Ela é prostituta? Ela é uma namorada de aluguel, é um oráculo de prazer, é uma mulher que trabalha e ganha dois mil dólares em uma hora de trabalho.
O filme, "Confissões de uma garota de programa" (2009) mostra a possibilidade de que, em uma sociedade capitalista pré-falimentar, ou, nos meus termos, na sociedade capitalista pré-apocalíptica, se possa vender a idéia de um tempo de prazer associado a uma relação humana autêntica, íntima, de entrega total, tanto sexual como interpessoal. Por dois mil dólares, é possível se entregar ao prazer, se entregar ao êxtase. Pagar para conversar. Pagar para dar e receber conselhos. Pagar para se queixar da vida, do dia-a-dia. Pagar para pedir atenção. Depois, volta-se para a vida de sempre, com a crise econômica, com a campanha eleitoral, com a concorrência por um lugar ao sol.
No meio de tanta carência afetiva, de tanta falta de sentido na vida, a prostituta respeitosa, do luxo e do lixo, nada mais são do que os oráculos de uma sociedade que grita emudecida pela falta de mais entrega verdadeira, de mais doação de amor de verdade. O fato de Soderbergh dirigir uma atriz pornô em um filme no qual ela não faz sexo, uma prostituta que confessa e que é confessionária, é uma visão bem interessante deste cineasta que assina filmes como Traffic, Che, Erin Brockovich e o clássico Sexo, mentiras e videotape.
Fecho o livro do Sartre, imagino a peça encenada, e fecho os olhos lembrando da triste cena em
Anjos do sol quando uma das meninas é arrastada por uma corda amarrada em uma caminhonete, até a morte, porque tentou fugir daquela vida. O sistema de exploração só existe, se sustenta e se mantém porque existe o explorador e existe o explorado. Com todo o respeito, o sistema invade os lares, os casais, as famílias, quebrando a bolsa, desvalorizando o dólar, reacendendo a guerra fria. Vender-se para quem, e por que? Se tudo o que todo mundo precisa, como bem sabem Lizzie, Maria e Chelsea, é apenas carinho.
Boa noite.
segunda-feira, 17 de agosto de 2009
Elementar, meus caros leitores
domingo, 16 de agosto de 2009
Álbum de família
sábado, 15 de agosto de 2009
Uma loira vencedora no tapete vermelho
sexta-feira, 14 de agosto de 2009
Melhor do que o amor
quinta-feira, 13 de agosto de 2009
Jigme
No dia 26 de março de 2008, Dhondup Wangchen, 34 anos, foi preso. Conseguiu fugir três meses depois, e voltou a ser detido. Foi torturado, maltratado. Continua sendo torturado, sofrendo maus tratos. Sofre de Hepatite B, e não recebe tratamento. Seus familiares não tem contato com ele, nem tampouco receberam notificação oficial, sob a alegação de ser "segredo de Estado". A família contratou dois advogados, que foram retirados do caso, pouco tempo depois.
O crime: Dhondup Wangchen é cineasta. Acusado de praticar jornalismo ilegal, de incitar a subversão do poder do Estado, de incitar o separatismo em Xining, capital da província de Qinghai, no oeste da China.
A motivação do crime? O direito à liberdade de expressão. Dhondup Wangchen realizou um documentário no qual os tibetanos tem voz. Eles, deixando o medo para trás, falam sobre as agruras, todo o tipo de sofrimento aos quais são submetidos pelo governo chinês, que não reconhece a cultura tibetana. Não somente não reconhece, como a massacra, passa o rolo compressor do autoritarismo, da censura, da total violação aos direitos humanos do povo tibetano. Povo que está se desintegrando, por assim dizer, a cada dia, tendo em vista o aparato policial de controle sobre o ar que respiram. Mas que não teme em deixar o medo para trás em cada oportunidade que tem, em cada janela que se abre, para falarem, para mostrarem ao mundo os abusos aos quais vem sendo submetidos. O cineasta e preso político Dhondup Wangchen reúne no documentário intitulado Jidgrel (Leaving Fear Behind) entrevistas que mostram as principais lutas deste povo que agoniza sob a ocupação chinesa. Juntamente com dois primos, o cineasta viajou munido de três perguntas na bagagem: como os tibetanos se sentem em relação ao Dalai Lama, à China, e aos Jogos Olímpicos em Pequim.
O crime estava consumado: vieram as respostas, as imagens, o filme. Que foi contrabandeado para fora do Tibete m 2008.
O jovem cineasta teve a coragem, a ousadia e a honestidade com sua própria consciência ao filmar o que realmente acontece no Tibete. Ele sabia muito bem o que esse filme lhe acarretaria. Talvez, ou exatamente por isso, seu apelido nas filmagens é Jigme, significa sem medo.
Ainda que não haja quase advogados de direitos humanos na China (vários perderam suas licenças, outros ainda não as tem...), apesar de o governo chinês propalar uma imagem oficial de estar preservando a linguagem e a cultura tibetana, Jigme continuou, até terminar o filme, até divulgar o filme para o mundo.
Agora, não podemos mais fazer de conta que essa situação não existe. Não podemos mais ignorar o sofrimento, a luta e a bravura do povo tibetano. Jigme.
Se por um lado o governo chinês está se saindo muito bem no gênero ficção, beirando o fantástico, recheado de efeitos de montagem como os que assistimos nos Jogos Olímpicos, o documentário nu e cru de Jigme mostra que enquanto houver coragem, haverá esperança.
Peço-lhes que apóiem Jigme, seus familiares, para que ele não seja um desaparecido ou um suicida fabricado por um sistema opressor. Assinem a petição neste link, enviem para amigos, se mobilizem pela liberdade de expressão na arte cinematográfica, pelo direito à liberdade, à vida, à justiça:
Thank you for taking the time to send an email to Qinghai's Party Secretary, asking for the release of Tibetan film-maker. Please forward this action link - https://webmail.ufrgs.br/services/go.php?url=http%3A%2F%2Forg2.democracyinaction.org%2Fo%2F5380%2Ft%2F4574%2Fp%2Fdia%2Faction%2Fpublic%2F%3Faction_KEY%3D1009 - to any friends or family whom you think would also like to help in this campaign, and remember to visit https://webmail.ufrgs.br/services/go.php?url=http%3A%2F%2Fwww.tibetnetwork.org for updates.Thank you!The International Tibet Support Network team
Jigme!