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sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Procura-se Lebowski

Queridos e queridas,


Estou com sono, mas não vou dormir antes de escrever. Nem vou conseguir escrever pensando em dormir. Nem quero dormir sentada, como quase aconteceu há instantes. Quero ter uma idéia, uma sugestão de inspiração, e ela não chega. Então, pergunto a mim mesma: se eu tivesse que falar sobre algum filme diferente, sobre qual eu falaria? Minha memória vai imediatamente para o ano de 1991. Lá estava um grande ator, no papel de um grandão e grande personagem, Jeff Lebowski.


Lebowski é um hippie, tudo o que ele quer da vida é ficar na paz e no amor. Nesta comédia excêntrica dos Irmãos Coen, o "dude", cara que se acha, é um grande bobalhão. Ele se envolve em confusões, quebra-cabeças, sequestros, ameaças. Sua vida pode ser tudo, menos sem graça. Lebowski tem a capacidade de não fazer nada e ainda assim se incomodar. Quanto mais ele quer fumar o cachimbo da paz, mais o seu grande e neurótico e veterano de guerra e amigo Walter (John Goodman) o empurra para mais confusões.


O que há de especial nesse filme, além de ser, como eu já disse, excêntrico? Para alguns, é considerado um filme menor dos cultuados irmãos Coen. Para outros, um dos filmes que mais simbolizam a criatividade, a ousadia e a linguagem peculiar dos irmãos Coen. Para mim, O Grande Lebowski é um Grande Filme em primeiro lugar porque conta com a atuação maravilhosa e inspirada de Jeff Bridges. Jeff já fez vários papéis, do drama ao suspense, e em todos está sempre muito bem. Mas neste filme eu fico com a sensação de que existe um Lebowski de verdade, é impossível que não exista, depois de ver sua performance. Ele é um cara legal, muito gente boa, ele parece um urso, grande e acolhedor, ele é desajeitado e por isso é charmoso, ele é sem-grana e por isso muito semelhante às pessoas reais. Sabe aquele cara que senta no bar para conversar, que fuma um baseado para viajar, que sempre tem um ombro para ouvir pela milésima vez o desabafo de um amigo, por mais pirado que ele seja? Ele é o cara.


Em segundo lugar, a história. Se vocês prestarem bem atenção, encontrarão várias semelhanças entre O Grande Lebowski e Fargo, esse filme, sim, a verdadeira obra-prima dos Irmãos Coen, e um dos meus filmes de cabeceira. Além de serem dos Coen, existe suspense, sequestro, uma mala, segredos, confusões, mal-entendidos, ganância pelo dinheiro, e um protagonista que é um grande bobalhão. Me parece que os Irmãos Coen brincam e se divertem o tempo todo, enquanto escrevem, enquanto dirigem. Talvez por isso seus filmes são de um humor diferente, de uma inteligência perspicaz. Eles viajam enquanto filmam, eles levam ao pé da letra a vontade de criar uma história, de transformar essa história em filme. Viajam mesmo. Escolhem os atores certos, e temperam com um humor refinado que nos presenteia com filmes como Fargo, e, é claro, o nosso querido amigo azarado, ruim de grana, bobalhão, mas simplesmente irresistível: Lebowski.


Lebowski é um daqueles personagens que eu gostaria de rever em outro filme, é uma daquelas pessoas que se conhece por uma casualidade do destino, que apareceu e que se foi, mas deixou sua marca. Que você não esquecerá. Que você ficará feliz se reencontrar. Por ser tão simples, Lebowski é um dos personagens mais complexos, na minha apreciação. Suas ações, as mais banais ações, nos faz refletir sobre como é difícil para alguém de verdade ser simples assim. Se nos anos 90 Lebowski encarnava o último grande hippie, como viveria ele hoje, no século 21, em pleno mundo capitalista pré-apocalíptico? Ou será que seu ressurgimento poderia significar uma opção para combater esse mundo em queda livre? Imagine um exército de Lebowskis. Gente do bem do tipo pode-me-provocar-que-eu-não-to-nem-aí. A não ser que levem o tapete dele.
Procura-se Lebowski!

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