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escrevo a dor e o prazer de viver vivo para escapar da morte morro e acordo cada vez mais forte

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Ele, ela e os olhos verdes

Queridos e queridas,

Hoje quebrei meu próprio recorde. Só virei noites inteiras sem dormir trabalhando, na etapa de montagem de alguns vídeos ou na véspera de entregar algum projeto. Fora isso, são noites insones, algumas madrugadas que teimam em me carregar com elas para testemunhar que sempre é possível um novo dia emergir. Mas hoje foi demais esse testemunho. Eu queria escrever e tentar ir dormir. Daí o meu computador congelou totalmente. Entre eu e este blog estavam abertas dezenas de janelinhas indesejadas, inoportunas, invasoras mesmo.

Como são algumas pessoas e algumas situações em nossa vida. Chegam de repente, e de repente partem. Congelam nossas vidas, nem que seja apenas por um interminável milésimo de segundo.

Os relógios param, as pilhas vazam, os cronômetros zeram, o Big Ben deixa de tocar, e o Clock Tower fica com seus ponteiros londrinos absolutamente desregulados. Com os batimentos cardíacos, idem.
Assim acontece na vida. Nocaute. O problema não é a chegada do problema, mas a sua partida.
Como se levantar?
A escritora, roteirista e cineasta Marguerite Duras trouxe algumas reflexões a respeito. Nascida na Indochina francesa, escreveu muito, e variadamente. Foram peças de teatro, novelas, e obras como O Amante, A Dor, O Amante da China, O Deslumbramento. Entre as obras adaptadas para o cinema está O Amante. O filme recebeu o prêmio Goncourt, foi traduzido para mais de 40 línguas e levado às telas por Jean-Jacques Annaud. Outro de seus trabalhos conhecido é o roteiro de Hiroshima mon amour, de Alain Resnais, uma das obras primas da Nouvelle Vague.
Em O Amante, existe Ele,existe Ela. E a relação arrebatadora. O nocaute.

Também nocauteantes são os textos recolhidos no livro Os Olhos Verdes. Esta publicação resultou de vários textos que Duras escreveu para a Cahiers du Cinéma. Ela fala, por exemplo, sobre o seu compromisso consigo mesma, de fazer um filme para poucas pessoas, porém com fidelidade ao que acredita, sem se render a qualquer tipo de pressão. É claro que isso resultou em trabalhar com produções baseadas em orçamentos ridiculamente baixos. Mas Duras era dura (desculpem o trocadilho estapafúrdio). Ela optou por pensar e realizar uma produção cinematográfica que fosse fiel às suas concepções, mesmo que essa relação não resultasse em grandes obras, ao alcance de um grande público. Isso se resumiu em uma coisa: ela só fez o que quis fazer. Eis aqui uma resposta para se levantar de um nocaute.
Bom dia!

Olhos Verdes (Gonçalves Dias)

São uns olhos verdes, verdes, Uns olhos de verde-mar, Quando o tempo vai bonança; Uns olhos cor de esperança, Uns olhos por que morri;
Que ai de mim! Nem já sei qual fiquei sendo Depois que os vi! Como duas esmeraldas, Iguais na forma e na cor, Têm luz mais branda e mais forte, Diz uma — vida, outra — morte;
Uma — loucura, outra — amor.

Mas ai de mim! Nem já sei qual fiquei sendo Depois que os vi! São verdes da cor do prado, Exprimem qualquer paixão, Tão facilmente se inflamam,
Tão meigamente derramam Fogo e luz do coração

Mas ai de mim! Nem já sei qual fiquei sendo depois que os vi! São uns olhos verdes, verdes, Que podem também brilhar; Não são de um verde embaçado, Mas verdes da cor do prado,
Mas verdes da cor do mar.

Mas ai de mim! Nem já sei qual fiquei sendo Depois que os vi! Como se lê num espelho, Pude ler nos olhos seus! Os olhos mostram a alma, Que as ondas postas em calma
Também refletem os céus;

Mas ai de mim! Nem já sei qual fiquei sendo Depois que os vi! Dizei vós, ó meus amigos, Se vos perguntam por mim, Que eu vivo só da lembrança De uns olhos cor de esperança,
De uns olhos verdes que vi!

Que ai de mim! Nem já sei qual fiquei sendo Depois que os vi! Dizei vós: Triste do bardo! Deixou-se de amor finar! Viu uns olhos verdes, verdes, uns olhos da cor do mar: Eram verdes sem esp’rança, Davam amor sem amar! Dizei-o vós, meus amigos,
Que ai de mim! Não pertenço mais à vida
Depois que os vi!

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