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escrevo a dor e o prazer de viver vivo para escapar da morte morro e acordo cada vez mais forte

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

A morte não cansa

Queridos e queridas,

O professor Jorge Ribeiro coordena o Programa de Pós-Graduação em Educação da UFRGS. Ele, o professor Johannes Doll, diretor e a professora Denise Comerlato, vice-diretora da Faculdade de Educação, reuniram-se há poucos dias para trocar idéias sobre a organização de uma homenagem ao querido professor Nilton Bueno Fischer, recentemente
e abruptamente falecido.
Como sempre a morte é, abrupta. Não importa que seja fruto de um ataque cardíaco fulminante, de um acidente inesperado, ou de uma longa doença. Nunca se aceita o fim. É o corte entre dois pontos. É não cruzar mais a ponte para o outro lado. É não ser mais visto, ouvido e tocado por aqueles a quem cativou.

No entanto, pessoas morrem todos os dias. Em todos os cantos do planeta. De todas as formas. Em todos os tempos. E nem assim, nos acostumamos. Não nos acostumamos com a saudade, com a ausência. Não nos acostumamos em nos defrontar com a nossa própria mortalidade, nossa impotência, nossa finitude.

Se existe alguma finalidade nesta passagem, imagino que seja criarmos laços de amor. Amor que se expressa nas formas de carinho, amizade, afeto, solidariedade. De sermos prestativos, generosos, de ajudarmos quem precisa, de fazermos algo de bom.

Mas a morte não cansa. Abrupto. Um mal estar. Há algumas horas, ela estava viva, há poucos dias a vi no elevador, há menos de um ano, gravei uma entrevista com ela, por ser uma das mais antigas e dedicadas e queridas funcionárias da Faced, secretária do Programa de Pós-graduação em Educação. Mary Ignez Pires, todos a conhecem como Mary. Mary foi hoje, abruptamente, porque seu coração parou de bater. E os corações de seus amigos, colegas passaram a bater mais rápido, com emoção, com comoção, com incredulidade.

A incredulidade que o cineasta Fritz Lang retratou em sua primeira obra-prima, A morte cansada (1921). A morte chega num vilarejo perdido no tempo e compra um terreno ao lado do cemitério local, onde constrói um gigantesco muro ao redor dele. A morte segue um jovem casal em lua-de-mel, e resolve levar o rapaz para um passeio. A garota vai à sua procura, até chegar ao cemitério, onde vê uma manada de almas adentrando o muro, sendo ele um dos mortos. Desesperada, ela vai buscar conforto na casa de um velho alquimista que lhe oferece ajuda. Lá, ela lê uma passagem na Bíblia que dizia que "o amor é mais forte que a morte", e resolve se suicidar para se encontrar com a morte e pedir a vida do marido de volta. No escritório da Morte tem uma sala cheia de velas, onde cada vela é uma vida. Nesta obra expressionista, a questão é saber se nesse duelo entre a morte e a vida há como se mudar o destino.

O amor é mais forte que a morte. E mesmo se a morte não cansa, o amor, sendo mais incansável ainda, por mais triste, por mais doloroso e abalado que esteja, resiste, posto que é sincero, e sendo eterno, é forte.
Saudades de ti, Mary.

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