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escrevo a dor e o prazer de viver vivo para escapar da morte morro e acordo cada vez mais forte

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

A terra prometida e o terremoto

Queridos e queridas,

Uma história sensível, uma adaptação sensível para o cinema, com uma direção e atuações tocantes e impecáveis. Um filme para ser visto sempre, e em cada vez se perceberá algo de novo naqueles silêncios e naqueles olhares. Esta é a minha apreciação sobre o curta-metragem Terra Prometida (2006). Com roteiro e direção de Guilherme Castro, o filme é baseado no conto homônimo de Tailor Diniz, publicado no livro Trégua para o Silêncio (1994).

Escrevo hoje sobre Terra Prometida, primeiro porque é um de meus curtas prediletos, e segundo porque há poucos dias falei que o Festival de Gramado precisa de uma auto-avaliação urgente. Qual é a relação? É que foi este Festival, no ano de 2006, que premiou Terra Prometida com os Kikitos de melhor filme, melhor direção em curta 16mm, e melhor atriz, para Aracy Esteves. E deveria ter premiado também o Alfredo Barros pela montagem, que nesta obra já fazia emergir o seu estilo alfrediano de montar, tão irrepreensível quanto sensível. Cinema puro. Pura arte.

Canabarro é um fazendeiro que vai ao velório de Chico, seu empregado, para prestar sua solidariedade à família e, é claro, não perder a ocasião para manifestar seu interesse em ajudar a família, cujas terras são de seu interesse. Há ocasião melhor do que um velório para tratar de negócios? A mãe de Chico, porém, desconfia das intenções e da causa da morte do filho. Acidente de trabalho? De percurso? Ou conflito de interesses? Olhares e silêncios fulminam, falam por si.

Terra Prometida recebeu vários outros prêmios, no 39º Festival de Brasília, 8ª Mostra Londrina de Cinema, 1º Festival de Cinema e Vídeo de Muriaé, e Menção especial pela direção e brilhante interpretação de Araci Esteves, Festival Internacional de Cortometrajes "Oberá en cortos".

Filmes como Terra Prometida mostram que o cinema gaúcho promete. E faz o que promete. Filmes de qualidade técnica, e especialmente realizados por cineastas que tem essa sensibilidade, essa perspicácia para transformar dores, perdas, intrigas, segundas intenções, deslealdades, ingenuidades, e toda a sorte de ditos, não ditos e mal-ditos por meio da linguagem audiovisual.

Filmes como Terra Prometida mostram que há uma razão de ser para a existência dos festivais. Que existam, e que tenham vida longa, desde que realizados com a intenção e a coerência de exibir, debater e premiar obras que vieram ao mundo para dizer alguma coisa.

Enquanto aqui, na semana passada, homenageava-se a Xuxa, logo ali, em São Paulo, o festival de Curtas exibirá mais de 300 filmes com entrada gratuita. O evento completa 20 anos, com o nome de Curta Kinoforum - Festival Internacional de Curtas-Metragens de São Paulo.
Começa nesta quinta e vai até o dia 28, com a exibição de centenas de filmes nacionais e estrangeiros, em onze salas da capital paulista. Tem produções de diversos estados, que serão distribuídos nas chamadas Mostra Brasil, Panorama Paulista, Mostra Internacional, Mostra Latino-Americana, Mostra Infantil. Uma Mostra Chilena, também.

E para matar de vez e de inveja os cinéfilos que lá não poderão estar, como eu, haverá também programas especiais e atividades paralelas como Escritas de Cinema, com o debate sobre a importância dos curtas na atualidade, relacionando as novas mídias, as diversas formas de produzir e exibir vídeos. Terá o Colóquio Pensar e Fazer Cinema, e oficinas como Crítica Curta, com Sérgio Rizzo, produção de textos e de vídeos de até três minutos.

Cineastas e cinéfilos dos pampas, esta Terra promete. Outras terras, enquanto isso, fazem verdadeiros terremotos culturais, para o bem da arte cinematográfica.
Bom dia!

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