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escrevo a dor e o prazer de viver vivo para escapar da morte morro e acordo cada vez mais forte

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Corta!

Queridos e queridas,

Minha mais recente incursão cinemaníaca foi para a produção de um preview de um minuto e trinta segundos de duração. É uma insanidade, e é um desafio. Como gosto de coisas insanas e de desafios, lá fui eu. Os detalhes deste trabalho eu falarei outro dia. Hoje quero aqui me reportar aos cortes. Porque, para chegar nestes exatos um minuto e trinta segundos, há que se cortar, e muito. E, apesar desses cortes, manter uma coesão narrativa e técnica que dê qualidade ao trabalho. Eu avisei que é insano e que é um desafio.

Eu ainda estou sob o efeito dos cortes. Por isso, a palavra corte me fez lembrar de um filme bem interessante de um cineasta que gosta de abordar o desafio de viver em um mundo autoritário e insano: Costa-Gavras.

Konstantinos Gavras, o nome entrega que é grego, apesar de ser naturalizado francês e viver nos Estados Unidos, é conhecido e reconhecido por ter feito filmes como Z, e Desaparecido, exemplos de obras nas quais aborda o tema da ditadura militar. No filme Z (1969, Oscar e Globo de Ouro de Melhor Filme Estrangeiro), Costa-Gavras denuncia as violações cometidas durante a ditadura militar na Grécia. Em Missing (1982), ele retoma o tema da ditadura no Chile, no governo de Augusto Pinochet. Outro tema polêmico, além da política, é o que abordou no filme Amém (2002).
A história mostra relações da Igreja Católica com o Nazismo.

Mas eu falava em corte. Costa-Gavras faz um corte em seus trabalhos anteriores com a realização de um de seus mais recentes filmes, cujo tema, desta vez, tem um viés mais voltado para a crítica econômica, do capitalismo global e o seu pior legado: o desemprego. O Corte (2005) apresenta um executivo realizado em seu trabalho, em uma fábrica de papel. Após ser demitido junto com vários colegas, por causa de um corte nas despesas da empresa, ele passa a conhecer um lado da vida que até então ignorava. Durante três anos, ele tenta um novo emprego, por saber ser qualificado, experiente, competente, leal e etcetera e tal... e percebe que "só" isso não é suficiente para voltar a ter um lugar ao sol no mundo capitalista pré-apocalíptico.
Há vários outros que também são competentes, experientes, qualificados, leais e etcetera e tal... e igualmente desempregados. A concorrência torna-se cada vez mais acirrada, e quase todos perdem para as máquinas. Talvez um fique com a vaga. Então, o protagonista desempregado percebe que, para vencer o desafio nesse mundo insano, terá que ser igualmente insano e encarar o desafio: cortar, literalmente, todos os que estiverem atravancando o seu caminho.

Humor negro, cáustico, ou simplesmente, uma viagem de Costa-Gavras pelo mundo do inconsciente coletivo de uma penca de trabalhadores que até hoje, em 2009, integram ou estão às vésperas de integrar o batalhão dos desempregados, dos subempregados, dos free lancers, dos autônomos, dos comerciantes informais, dos segurados-pelo-desemprego, dos explorados pelos estágios intermináveis, da economia informal, da exploração explícita ou implícita do labor humano. Trabalha-se muito, emprega-se pouco, valoriza-se quase nada. E corta!
Boa noite!

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