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escrevo a dor e o prazer de viver vivo para escapar da morte morro e acordo cada vez mais forte

domingo, 30 de agosto de 2009

A vitória dos losers

Queridos e queridas,

Só vence na vida quem já perdeu. Mas a abissal diferença que existe entre os vencedores e os perdedores reside no fato de que ninguém gosta e quer perder. Todos querem vencer. Vencer um concurso, uma prova, uma competição. Ganhar: dinheiro, presente, amor, amizade... Perder é para os fracos, vencer é para os fortes. Será?

Os filmes de ação em geral polarizam essa questão, do bem e do mal, dos vencedores, que são os heróis, e dos perdedores, que são os vilões. Quando acontece o contrário, e os heróis perdem, muitas vezes com a própria vida (Coração Valente, Gladiador, por exemplo) eles se tornam mártires, ícones de uma luta, uma causa. Então, perder não é necessariamente perder.

Perder para saber vencer. Enquanto na história da humanidade há os que nasceram em berços de ouro, herdeiros de dinastias, fortunas e impérios, há os que nasceram no fundo do poço, na escuridão dos becos , nas latrinas dos ruelas. Cada um em seu "lugar", em seu "status", cada um crescendo em um mundo, em um submundo. Quem vai vencer, quem vai perder?

Ganhar um troféu, uma distinção, uma homenagem, um prêmio, uma honraria, torna alguém melhor? Não ganhar, torna alguém pior? Na verdade, essas criações humanas tem um simbolismo de compartilhar com a comunidade as conquistas de pessoas que se destacam por algo que fazem, em tese, para a melhoria da própria comunidade. Mas, no mundo capitalista pré-apocalíptico, vencer significa subir os degraus de uma luta por poder, por mais dinheiro, por mais status, mesmo que isso implique no uso das novas formas pós-modernas de exploração da mão-de-obra. Como Jean-Paul Sartre escreveu no conto "A Infância de um Chefe", uns nascem para vencer, para serem chefes. Outros, para serem comandados. A desigualdade social é um abismo sem fim, porque os vencedores muitas vezes não são os que se distinguem por terem feito algo para a melhoria da comunidade, mas para a consagração de seu narcisismo pessoal, econômico, político.

Um filme que me sensibilizou profundamente trata de uma família de losers, Pequena Miss Sunshine (2006). Dirigido por Jonathan Dayton e Valerie Faris, traz um grande elenco - Abigail Brelin, Greg Kinneat, Paul Dano, Alan Arkin, Toni Collete, Steven Carrell - como uma família problemática que se une primeiramente mais por necessidade do que vontade. A menina Olive vai participar de um concurso na Califórnia, o que dá início a um road movie em uma kombi amarela na qual varias situações bizarras passam a acontecer. Entre sonhos, frustrações, momentos de alegria e de tristeza, eles vão descobrir os laços que os unem. Eles não são perdedores, eles estavam se deixando perder.

Pequena Miss Sunshine demorou cinco anos para ser concluído, por problemas financeiros. Poderia ter sido um filme loser. Entretanto, ganhou dois Oscars - melhor ator coadjuvante (Alan Arkin) e melhor roteiro original. Ganhou quatro Independent Spirits Awards, dois prêmios Bafta.

Um filme que não seria perdedor ainda que não tivesse recebido esses e outros prêmios. Porque só é perdedor quem deixa de tentar, de lutar, de acreditar.
Os vencedores, muitas vezes, são iludidos por si mesmos. Grandes potências, poderosos chefões. A vida é momento, a vida é movimento, e vários losers unidos em uma kombi amarela são capazes de fazer coisas realmente incríveis, como, por exemplo, acreditar em si mesmo e no outro, lutar, tentar. Esse é o único caminho verdadeiro para vencer.
Uma ótima semana!

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