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escrevo a dor e o prazer de viver vivo para escapar da morte morro e acordo cada vez mais forte

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Lutar, sempre

Queridos e queridas,

Quando assisti Coração Satânico (dir. Alan Parker, 1987), além da atuação do consagrado ator Robert de Niro, chamou-me atenção aquele detetive particular, Harry Angel, que quanto mais se aprofunda na investigação, mais fica e torna o filme tenso, emocionante, um dos melhores filmes de suspense que já vi. O nome desse ator? Mickey Rourke. Um ano antes ele foi o protagonista do filme Nove e meia semanas de amor, de Adrian Lyne, no qual esbanjava charme, beleza e talento. Além de ator, Rourke é boxeador. Seu rosto, antes irretocável, transformou-se em um punhado de peles repuxadas por várias cirurgias, que levaram para o esquecimento os papéis de galã.

O fato é que um ator deve ser mais do que um rosto bonito. Ou melhor, um bom ator não precisa nem ter um rosto bonito. A relação entre beleza e interpretação, entre embalagem e conteúdo, é algo a ser bem debatido. Para alguns produtores e estúdios, um é indispensável ao outro. Felizmente, nem todos pensam assim. Vejam grandes nomes do cinema internacional: Robert de Niro, Jack Nicholson, Harrison Ford, Sean Connery, Anthony Hopkins. A idade está chegando, o corpo dá sinais, e no entanto, seus filmes são sempre imperdíveis.

Mickey Rourke era um homem tão bonito, que ficaram - ele e seu trabalho - literalmente marcados pelas cicatrizes. Então, em 2008, foi a hora da virada. Voltar à cena. Entrar em ação. Dar uma voadora. Um vôo rasante. Pular no abismo. Sob a direção de Darren Aronovsky, Mickey Rourke deu vida ao personagem Randy "The Ram" Robinson, no filme O Lutador. Ele é um lutador de luta-livre decadente e movido a anabolizantes, Um dia tem um ataque cardíaco, e precisa escolher: parar de lutar, ou voltar aos ringues, para uma revanche que poderá levá-lo à vitória e à redenção.

"The Ram" não tem uma boa relação com sua filha, tenta engatar um relacionamento amoroso com uma stripper, tenta sair de sua vida modorrenta de trabalho em um supermercado. Tenta achar um sentido em sua vida. Sentido que encontra quando está nos ringues, na arte da luta.

Hoje eu acordei triste. Não fui em uma reunião, perdi a vontade. À tarde, soube que o projeto de um documentário que havia sido aprovado com três votos, não ficou entre os selecionados para obter financiamento. Mais um projeto engavetado. Mais um sonho partido. Mais um meio ano que passa e pára. Mais um teste para confirmar ou não a nossa vontade, obstinação e persistência em fazer o que gosta, em lutar pelo que se quer.

Ficam as cicatrizes. Não foi a primeira derrota, nem será a última. O rosto, outrora límpido, começa a enrugar-se. Sabedoria do tempo, nada como um dia após o outro. Se há algo que O Lutador e Rourke deixam claro, é que o sentido começa dentro da gente. A beleza, efêmera, deixa rastros na memória. O talento, lapidado, cresce com o tempo se não desistirmos de lutar. Sem anabolizantes. Sem fugas. Lutar é subir no ringue. Já estou no aquecimento.

Boa noite!

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