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escrevo a dor e o prazer de viver vivo para escapar da morte morro e acordo cada vez mais forte

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Lançamento do Projeto Itinerante em Direitos Humanos

Queridos e queridas,

A Liga dos Direitos Humanos da UFRGS promove a partir de 21 de outubro deste ano, até junho de 2010, o I Projeto Itinerante de Capacitação para Defensoras e Defensores de Direitos Humanos no Rio Grande do Sul. A atividade é inédita no Brasil, e objetiva qualificar, apoiar e orientar membros da sociedade civil para agirem como multiplicadores de ações promotoras e preventivas de direitos humanos, no que se refere ao combate à discriminação e à violência institucional. Será também um importante momento presencial para interagir com as comunidades locais, e documentar os principais problemas que as afetam.

Esta iniciativa pioneira será realizada em municípios representativos das micro e mesorregiões que compõem o Estado do Rio Grande do Sul: Porto Alegre, Santa Cruz do Sul, São Leopoldo, Bagé, Imbé, Torres, Pelotas, Novo Hamburgo, Passo Fundo, Santa Maria, Ijuí, Uruguaiana, Caxias do Sul, e nas ilhas do Delta do Jacuí.

Especialistas como procuradores, juízes, promotores de justiça e educadores ministrarão aulas abertas, cinedebates e oficinas sobre temas relacionados aos conceitos de direitos humanos, diversidade e discriminação, e o acesso à justiça. São oferecidas 50 vagas para cada município. A atividade é gratuita, com certificado. O Projeto Itinerante tem financiamento do Fundo Brasil de Direitos Humanos. Esta iniciativa foi selecionada entre 700 projetos inscritos de todo o Brasil, e será realizada em parceria com o Instituto Recriar, a Comissão de Cidadania e Direitos Humanos da Assembléia Legislativa e o Programa de Pós-Graduação em Educação da FACED/UFRGS.

PROJETO ITINERANTE DE CAPACITAÇÃO PARA DEFENSORES DE DIREITOS HUMANOS NO RIO GRANDE DO SUL

Dia 21 de outubro, às 14h, no Salão Nobre da Faculdade de Direito da UFRGS, e às 19h, no Plenarinho da Assembléia Legislativa do Rio Grande do Sul.
Entrada franca. Informações:
ligadireitoshumanos@ufrgs.br


Programação de Lançamento do Projeto
Dia 21/10 Salão Nobre da Faculdade de Direito da UFRGS

Coordenação: Dr. Johannes Doll (Diretor da Faculdade de Educação da UFRGS) e
Giancarla Brunetto (Coordenadora da Liga dos Direitos Humanos)


14h Aula Inaugural
A Capacitação de Defensores em Direitos Humanos: Por que e para quem?
Ministrante: Drª Fernanda Brandão Lapa
(Diretora do Instituto de Desenvolvimento e Direitos Humanos/SC, professora da Faculdade de Direito/CESUSC, professora e coordenadora da Clínica de Direitos Humanos/UNIVILLE)

15h Painelistas
Dr. Mauro Luís Silva de Souza (Promotor de Justiça Criminal e Vice-Presidente Administrativo e Financeiro do Ministério Público/RS, professor da FMP/RS)
Dr. Carlos César D’Elia (Procurador do Estado RS, Presidente do Conselho Deliberativo do Programa de Proteção a Testemunhas Ameaçadas do RS, e do Colégio Nacional de Presidentes de Conselhos Deliberativos dos Programas de Proteção a Testemunhas)
Drª Virgínia Feix (Coordenadora da Cátedra de Direitos Humanos do IPA, Coordenadora do eixo Educação Ensino Superior do CEEDH/RS)

17h30 Cinedhebate
Filme O Cabide Azul
Debatedor: Dr. Bruno Costa (Psiquiatra, Diretor do Sindicato Médico/RS e da DIST)

Dia 21/10 19h Plenarinho da Assembléia Legislativa
Coordenação: Jorge Alberto Rosa Ribeiro (Coordenador do Programa de
Pós-Graduação em Educação/FACED/UFRGS) e Dr. Paulo Gilberto Cogo Leivas (Procurador Regional da República/MPF)

Aula Aberta
Direitos Humanos são direitos de todos?
Ministrante: Drª Fernanda Brandão Lapa

(Diretora do Instituto de Desenvolvimento e Direitos Humanos/SC, professora da Faculdade de Direito/CESUSC, professora e coordenadora da Clínica de Direitos Humanos/UNIVILLE)

Painelistas:
Dr. Dionilso Marcon (Presidente da Comissão de Cidadania e Direitos Humanos/AL/RS)
Dr. Jair Krischke (Fundador e Conselheiro do Movimento de Justiça e Direitos Humanos)
Dr. Eugênio Paes Amorim (Promotor de Justiça do Tribunal de Júri de Porto Alegre)
Drª Miriam Balestro (Promotora de Justiça de Defesa dos Direitos Humanos/MP-RS)
Dr. Luiz Carlos Bombassaro (Professor da Faculdade de Educação da UFRGS)

TODOS LÁ!!!! Beijos!

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Nunca baixe a guarda

Queridos e queridas,

Quisera eu poder escrever aqui diariamente, como vinha fazendo. Mas daí o dia precisaria ter mais de 24 horas. Ou eu poderia não dormir mais. A proximidade do lançamento de uma ação em direitos humanos absorve meu pensamento, meu trabalho e minhas intuições. Sobre o lançamento desse projeto, prometo falar aqui amanhã. Porque hoje quero falar sobre as motivações que me levaram a idealizar esse projeto.

Vivemos em um mundo que quer paz, mas vive na violência. Vivemos em um mundo coletivo, onde cada um vive em sua gaiola. Vivemos em um mundo onde o céu é para todos, assim como o ar e a água. E milhões de pessoas morrem todos os dias. Na miséria, na doença, e, de novo, como vítimas da violência. E quando se fala na existência de defensores dos direitos humanos, uma das afirmações que mais se ouve é "direitos humanos é coisa pra defender bandidos. Quem defende as vítimas dos bandidos? Onde estão, nesse caso, os tais defensores dos direitos humanos?"

Todos e todas somos, potencialmente, defensores ou violadores de direitos humanos. Agimos em defesa ou contra, conforme nossas ações, inações e omissões. A violência institucional se alastra, com profundas e históricas entranhas em todos os cantos do mundo. Ditaduras, torturas, falta ou negligência na efetivação de políticas públicas. E há um lado mais profundo, perverso e perplexo, pecado capital mesmo: os narcisismos, os joguinhos de poder, de prepotência intelectual, institucional, político-partidária, ideológica... infelizmente, esse inimigo oculto do ser humano também compactua, e muito, com as violações cometidas. E na minha intuição, esse é o pior problema. Questão de valor, de ética, de consciência, de personalidade. Nas entranhas do inconsciente a violência se mostra de outras formas, mais sutis mas nem por isso menores.

Hoje, reunida com o meu melhor amigo e mestre Ilgo, entre um gole e outro de um maravilhoso suco de açaí, tive que responder a uma saraivada de perguntas inteligentes e pertinentes: por que eu insisto em atuar nessa causa perdida, que envolve pessoas ligadas a órgãos governamentais, que envolve a falta de apoio da sociedade, que envolve a antipatia dos empresários, que envolve entidades com discursos e recursos, mas que não investem os recursos e não saem dos discursos... enquanto a violência continua, enquanto as vítimas sofrem, órfãs, enquanto o mundo rola sabe-se para onde...

Apesar de eu responder prontamente a todas as suas perguntas, percebi, comovida, que foi ele que me deu a resposta. Com um olhar um tanto cético com relação a possíveis mudanças para melhor em nossa realidade, ele disse que só por um motivo poderia colaborar nesse projeto.
Por minha causa.

O que torna as pessoas melhores, e portanto, o mundo melhor, é ter uma causa. Eu só fiz e faço e farei coisas por causas. Meus filhos são a causa de minha vida. Meus amigos também.
Meu melhor amigo também. E todos aqueles que conheço e que não conheço, mas que precisam de ajuda, também. Essa é a resposta.

Nunca baixar a guarda. Nunca perder a esperança.
O lindo e brilhante ator Russel Crowe, clone do Eddie Vedder, brilha na pele do personagem Braddock, no filme A luta pela esperança (Cinderella Man, 2005, direção de Ron Howard). Ele luta não apenas por ser um lutador de boxe, naquele roteiro previsível do homem que conhece a fama, a decadência e depois tenta subir os degraus novamente. O mundo do boxe nesse filme, é uma alegoria ao mundo real, um ringue onde estamos sempre lutando, tentando desesperadamente fugir do nocaute. Ninguém quer perder. Queremos o campeonato mundial, a liderança. Lá pelas tantas o personagem Braddock, desanimado, se questiona: lutar por que? Contra a fome? A ganância? Não se pode lutar contra o que não se vê. Braddock volta a vencer quando percebe que há, sim, motivos para lutar. Seus filhos, sua mulher, o gosto pelo que faz. Ele engole o orgulho, se humilha, ele valoriza o que realmente tem valor. E seu amigo e agente (o formidável ator Paul Giamatti) é quem lhe motiva, intui o seu valor e é dele a frase:
Nunca baixe a guarda.

Então, é simples assim. Difícil é levar golpes na vida e levantar de novo. Mas, vejam, um suco, uma frase, uma causa, e um, e dois e vários, juntos, unidos, podemos transformar desilusões em sonhos, utopias em realidades. Sonhando acordados, acordando para uma realidade melhor.
Eu tenho certeza que isso é possível.
Ótimo feriadão!

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

O nariz de Benigni, sem efeitos especiais

Queridos e queridas,

Estava eu novamente com saudades de aparecer aqui. Mas desde que fui a Carazinho, na sexta-feira passada, não tive tempo de me dedicar a este espaço como ele merece: sentada a derramar no teclado os pensamentos e sentimentos que me vierem a tona. É que eu fiquei literalmente derramando os pensamentos e sentimentos lá naquele município que foi tão acolhedor, com as professoras da Escola La Salle que organizaram um congresso internacional impecável, e que apesar de todo o trabalho encontraram tempo para rir, rir muito em uma casa de massas com direito a sofiotti e muitas histórias engraçadas, a começar pela minha mais nova amiga, a professora Eloísa, que vai se casar nesse próximo fim de semana após dez anos de namoro. Com despedida de solteira, festa na igreja e imaginem o galeto com polenta e o festerê depois do yes, I do.

Minha filha tem razão, eu realmente sofro da síndrome de querer não retornar dos lugares para onde vou. A vantagem é que quando eu partir desta para a melhor, certamente não voltarei aqui para assombrar ninguém... Ou, olhando por outro ângulo, sou a existencialista mais otimista que conheço. Aprendi, após levar muitos golpes e estocadas metafóricos, que nos fortalecemos quando aprendemos a lidar com os problemas, em vez de negá-los ou delegá-los. Quando aprendemos a ver um mesmo ponto sob vários ângulos. Quando nos desapegamos de nossos problemas, de nossos conflitos, e nos colocamos no lugar dos outros e aí então percebemos que ninguém é melhor do que ninguém, que nenhum problema é tão maior ou pior do que o de outra pessoa. Que rir ainda é, sim, o melhor remédio.


Daí o fato de eu gostar de comédias, mas as de humor negro. Como A Vida é Bela. Mas como, comédia? É um baita drama! Segunda guerra, alemães nazistas, perseguição aos judeus, o Holocausto, os campos de concentração. Onde está a graça? (afinal, eu não sou nazista!). A graça está, em primeiro lugar, em olhar o nariz e o que sobrou do rosto do protagonista do filme, o italiano Roberto Benigni. E está, em segundo lugar, nas brincadeiras, trejeitos e trapalhadas que seu personagem Guido cria para seu pequeno filho, na Itália dos anos 40, enquanto eles ficam em um campo de concentração. Guido faz de tudo para o filho acreditar que eles estão em um grande jogo, e que tudo o que acontece com e em volta deles são parte do jogo. Por maior que seja o terror, por pior que seja a violência, tudo faz parte do jogo.

Humor negro, eu falei. Assim é a nossa vida, um grande campo de concentração, um grande caldeirão, onde somos jogados ou aprendemos a jogar. O inferno, para Sartre, são os outros, não é o diabo. Então, a grande sabedoria é jogar para driblar os problemas, as quedas, os conflitos, as situações, ou provações, se assim preferirem, que todos, em algum momento da vida, passam. Doença, fossa, dívida, dúvida, transtorno. Amar demais. Amar de menos. Podemos escolher no jogo: somos Guido, o louquinho que foge da realidade, ou podemos ser Guido, o sábio que burla os problemas para, sorrindo, tocar a vida pra frente, pois que ela só começa a acabar quando a gente desiste dela primeiro.

A Vida é Bela, de 1997 e dirigida pelo próprio Benigni, recebeu três Oscars. Comoveu milhões de pessoas. A mim dizem, que filme triste. Se o filme é triste, como pode a vida ser bela?

Quando Benigni, por exemplo, olhou-se bem no espelho e percebeu que seu nariz seria seu maior defeito ou seu maior charme. Quando resolveu rir de si mesmo, antes de fazer os outros rirem. E quando decidiu tirar proveito de algo que poderia faze-lo quebrar todos os espelhos deste planeta.

Quando eu vejo uma mãe que abraça seu filho em uma praça, enquanto o único abraço que essa mãe recebe é do frio que encobre nossa cidade, eu penso, como pode a vida ser bela? Mas daí eu olho bem nos olhos dela, e vejo um brilho no seu olhar. Como o sorriso das minhas novas amigas de Carazinho. Que noite bela! Como a companhia dos amigos que vieram me ver no meu derradeiro aniversário. Que dia belo! Como eu e meu filho Thomas brincando de jogar balão. Sensacional é a vida. Como degustar os pratos elaborados com os temperos do afeto e do carinho de minha filha Chef Rafaela e do meu genrinho Chef Umberto. Não tem preço.

A vida é bela. Comédia dramática, drama, e sem efeitos especiais.
Boa noite!

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

O melhor dos mundos

Queridos e queridas,

Fala-se na existência do primeiro mundo. Subentende-se que seja o melhor dos mundos, o mais belo, o mais próspero, o mais justo. No outro lado, o terceiro mundo. O pior, o mais pobre, o mais violento, o mais subdesenvolvido. De um lado, os poderosos, os mais importantes. Do outro lado, os coitados, os invisíveis. Se um tsunami ocorrer no Primeiro Mundo, será o fim do mundo. Mas se porventura ele ocorrer no Terceiro Mundo, será uma salvação para o planeta. Salvam-se os que valem, varrem-se os que estorvam. Equilíbrio total...

Entretanto. (Adoro essa palavra, ela sugere que tudo o que foi dito antes dela não valia nada). E não valia mesmo. Entretanto, quem se atreve a impor uma linha imaginária ou real que separa uns dos outros? Que coloca os terno-e-gravata na sala Very Important Person, e os demais um pouco depois do fim do mundo... Quem se outorga o direito de afirmar que esse país ou aquele outro são superiores, são melhores, são exemplares?

Sempre que viajo fico, na véspera, apreensiva. Sei lá porque. Minha filha Chef Rafaela sorri e me diz - é sempre assim, depois tu volta querendo morar no lugar onde foi... Ela tem razão. Entretanto... em Paris não foi assim. Foi uma experiência inesquecível, com certeza. Vinhos de primeiro mundo. Paisagens de primeiro mundo. Os cafés, meu Deus, os cafés. Queria morar neles. Entretanto. Não me senti em casa. E não foi por causa do idioma, e por obviamente estar do outro lado do mapa. É porque as pessoas que lá conheci foram, no máximo, diplomatique. Faltou essa afetividade, essa sensibilidade, esse acolhimento. Isso, sim, é coisa de primeiro mundo. Remonta ao mundo original, uterino. Quando nos sentimos seguros, aquecidos, protegidos pelo instinto maternal, pelo cordão umbilical. Lá, do outro lado do mapa, nós brasileiros somos ainda confundidos com argentinos, Porto Alegre com Buenos Aires, e Pelé ainda é o ídolo mais importante e planetário que nos representa. Um círculo que corre para todos os lados é o que simboliza nossa brasilidade. E a floresta amazônica, com índios pululando por todos os lados, com bananas, muitas bananas. Esse é o Brazil for export, em tese. Ah, e Lula, o maior estadista brasileiro desde sempre... pena que não o conheceram quando ele era o Lula original.

Daí que quando estive em Dourados me dei conta de que o primeiro mundo está onde nós o construimos. Nós desenvolvemos, ou não. Nós nos empoderamos, ou não. Dentro deste país, deste imenso país, há o melhor e o pior dos mundos. Não é fantástico esse paradoxo? Nós colocamos uma linha imaginária e nos contentamos com o estigma de sermos o país do futuro. Já fomos o milagre brasileiro, e parece que não aprendemos nada com isso. O Brasil é carnaval, futebol e também não é só carnaval, só futebol. O Brasil é um road-movie.

Como o maravilhoso filme Cinema, aspirinas e urubus, de Marcelo Gomes. Realizado em 2005, essa pequena obra-prima mostra o ano de 1942, em plena II Grande Guerra. Um alemão viaja pelo Brasil, fugindo das notícias da guerra, onde conhece o morador de um vilarejo, que por sua vez viaja em busca de uma vida melhor, em um lugar mais desenvolvido, como o Rio de Janeiro.

Não por acaso eles se conhecem em uma estrada de chão batido, terra de ninguém. Não por acaso eles começam uma nova viagem, aquela derradeira viagem que significa uma jornada interior, em busca de novos e verdadeiros significados. A aventura maior que existe, descobrir sentidos para viver onde se está, e para onde se vai. Nem sempre o lugar mais industrializado é o melhor para se viver. Nem sempre o retirado fim do mundo é o pior lugar para estar. O estado de espírito, o espírito de luta, estão conosco, ou não, onde estivermos, e para onde formos. Depende de nós, ficamros nos entupindo de aspirinas, anestesiados das agruras da vida, a mercê da ação dos urubus de todos os tipos: especuladores, politiqueiros, bajuladores... ou tocarmos a vida pra frente, pra próxima parada, de carona, a pé, na direção, na contramão... o melhor dos mundos existe. Entretanto... cada um é que o faz. Ou desfaz.
Baci!