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Porto Alegre, RS, Brazil
escrevo a dor e o prazer de viver vivo para escapar da morte morro e acordo cada vez mais forte

domingo, 31 de maio de 2009

Decodificar

Queridos e queridas,
Adivinhem o que eu estava fazendo até agora. Tomando coca-cola, café, chá e agora quentão, e vendo MTV Movie Awards. A grande maioria dos prêmios, com base em votação popular, foi para o filme Crepúsculo. Melhor ator revelação, melhor atriz, melhor beijo, melhor luta, melhor filme, e perdeu em uma categoria que não poderia ter perdido: melhor música, "Decode", de Josh Faro, com Paramore.

Decodificar (Decode)
Como eu posso decidir o que é certo, quando você está o tempo todo em minha mente. Não posso ganhar suas causas perdidas, todo o tempo. Agora, como posso possuir o que é meu, com você sempre mudando de lados. Mas você não vai tirar meu orgulho, Não, não desta vez. Não desta vez. Como nós chegamos aqui? Quando eu costumava te conhecer tão bem. Mas como nós chegamos aqui? Bem, eu acho que sei. A verdade está escondida em seus olhos, e está na ponta de sua língua. Apenas fervendo no meu sangue, Mas você acha que eu não posso ver. Que tipo de homem você é? Se você é um homem mesmo. Bom, eu vou descobrir essa por minha conta... Estou gritando "Eu te amo tanto"... (Por minha conta...) Meus pensamentos você não pode decodificar! Como nós chegamos aqui? Quando eu costumava te conhecer tão bem.
Como nós chegamos aqui? Eu acho que sei. Você vê o que fizemos? Fizemos a nós mesmos de tolos. Você vê o que fizemos? Fizemos a nós mesmos de tolos. Como nós chegamos aqui? Quando eu costumava te conhecer tão bem. Oh, como nós chegamos aqui? Bem, eu costumava te conhecer tão bem... Eu acho que sei. Eu acho que sei. Há algo que eu vejo em você. Isso pode me matar, eu quero que seja verdade.

Como eu escrevi há poucos dias. Crepúsculo não é um filme para adolescentes. Mas se os adolescentes gostaram do filme, apesar de alguns críticos subestimarem, é um bom sinal. Por dois singelos motivos: porque os jovens, e não somente os jovens, gostam de ver filmes, e porque os jovens, e não somente os jovens, gostam de histórias de amor.
Fiquem bem!








sábado, 30 de maio de 2009

Os marginais



Queridos e queridas,

Os cineastas e os cinéfilos marginais tem o que comemorar. Já está disponível a coleção de DVDs Cinema Marginal Brasileiro, com o lançamento dos filmes "Bang, Bang", de Andrea Tonacci, "Sem Essa Aranha", de Rogério Sganzerla, "Os Monstros de Babaloo", de Elyseu Visconti e "Meteorango Kid, o Herói Intergalático", de André Luiz Oliveira. Serão também lançados, pela parceria de Eugenio Puppo com a Lume Filmes, "Lilian M, Relatório Confidencial", de Carlos Reichenbach; "Hitler III Mundo", de José Agrippino de Paula; "O Pornógrafo", de João Callegaro; e "A Margem", de Ozualdo Candeias. As matrizes estão na Cinemateca Brasileira.
O cinema marginal é assim chamado porque foi realizado APESAR da censura e de órgãos como o extinto Instituto Nacional de Cinema, que não emitiu o selo de qualidade para os referidos filmes, que sofreram vários cortes e muitas críticas. APESAR disso, os filmes rotulados de marginais foram adiante. E são marginais também porque foram inovadores, inventivos, libertários. O cineasta Rogério Sganzerla, diretor de "O Bandido da Luz Vermelha", declarou que fez questão de filmar como não se deve filmar.
A declaração de Sganzerla me faz pensar sobre como se deve filmar. Os cursos de cinema estão aí, a preparar novos profissionais a cada ano. Cada vez se dispõe das mais aperfeiçoadas tecnologias para produzir filmes que jamais desejariam ser coroados com o selo do Instituto Nacional de Cinema. 3D é só o começo. O Hall da Fama está congestionado de nomes aclamados pelo cinema oficial. O interessante é que no mercado oficial, na imprensa oficial, o que é rotulado como magnífico, perfeito, e outros superlativos que tais, chega rapidamente no top one. Não interessa saber se é bom de verdade, mas o fato de que se o fulano de tal diz que é bom, então é.
Conheço críticos que destróem um filme não porque o filme é ruim, mas porque eles não gostam daquele filme ou de quem o fez. Eu pergunto por que, e a resposta é porque não gosto. Conheço pessoas de extremo valor, profissionais maravilhosos, que seguem anonimamente e com muitas dificuldades financeiras para trabalhar naquilo que sabem e gostam de fazer: cinema.
Conheço iniciativas oficiais que organizam festivais e premiações nas quais o maior legado é a foto que vai sair na coluna social no dia seguinte. Quem tá bem na foto tá de bem com a oficialidade. Tem futuro. Coisa de primeiro mundo. O resto que não aparece é marginal.

Se fazer cinema marginal é fazer cinema de invenção, olhar além do olhar, experimentar o real e ir além dele, fazer o que é possível e tentar o impossível, com um jeito próprio que possa ser considerado impróprio... então eu estou no caminho certo. Ou errado, como diriam os censores oficiais da sociedade hipócrita que só vê cinema como entretenimento. Ou como hobby, futilidade. Para quem certifica e idolatra apenas quem está na Rede Globo e suas afiliadas, ou em Hollywood e seus blockbusters, a arte é, ainda bem, coisa de gente marginal.
Fiquem bem!




sexta-feira, 29 de maio de 2009

Eu, John Bonham e o peixinho

Queridos e queridas,

Eu me considero uma grande observadora dos seres humanos. O que não impede que eu escorregue na calçada, caia sentada, tropece ao subir na lotação, deixe meu celular cair no chão com a minha "mão de alface" e derrube minha papelada toda no elevador. Lotado, claro. Isto me faz lembrar de minha infância. Já espetei o sofá da casa de meus pais pra ver o que é que tinha dentro. Tomei água com gema de ovo achando que era algum aperitivo de adultos e que escondiam de mim. Bebi água com um mini-filhote de peixinho, era tão micropequenininho que eu nem senti. Foi homicídio culposo. Até hoje me lembro do medo de entrar na água dos rios e no mar. Puro sentimento de culpa.
Fui eleita a primeira princesa da escola, mas no dia do desfile em carro aberto minha mãe não me deixou ir. O tempo estava para chuva, e segundo ela, eu iria me resfriar. Não pude ir e não choveu. Me senti a própria Gata Borralheira. Participei da banda da escola. Ficava no fundão. Toquei pratos, depois fui pra caixa com baquetas, e finalmente fui escolhida para ser uma das duas balizas da banda. O colega loiro de cabelos encaracolados e lânguidos olhos verdes tocava o bombo e olhava, ora para o meu lado, ora para o lado da outra baliza. A coreografia de olhares competia com a coreografia da banda que ensaiamos quase o ano inteiro.
Na festinha de fim de ano, na reunião dançante da turma, ele dançou com a baliza, aquela. Quando ela saiu, ele veio dançar comigo. Dancei. No outro dia, pedi pra sair da banda. Pedi para o meu pai me comprar uma bateria. Bateria?, arregalou ele os olhos de suave olhar. É, bateria, respondi. Eu tinha violão, mas queria aprender a tocar piano. Eu tinha flauta, mas meus pulmões não gostavam daquele exercício respiratório. Eu tinha um triângulo. Mas eu não queria um triângulo. Queria uma bateria, minha primeira terapia.
Ouvi muito Led Zeppelin. John Bonham era o meu grande ídolo. Curei minha primeira grande fossa. Eu era a primeira princesa, mas não tinha príncipe. O rock and roll me livrou da depressão.

No colégio das freiras, eu me transformei no símbolo da revolução. Usava calças jeans no lugar da "saia quatro machos". Tênis no lugar dos sapatinhos pretos com meias brancas até o joelho. E pulava a cerca na aula de Educação Física para ir jogar vôlei na praça ao lado da Escola. O cabelo, que era loiro, começou a escurecer. Elas achavam que eu estava pintando. Juro, isso foi sem querer. Mas eu estava adolescendo. Buscando minha identidade, procurando pelo meu eu. Seria eu a aluna exemplar? A princesa? A gata borralheira?
Até hoje eu não sei. Mas continuo adorando Led Zeppelin, e John Bonham é insubstituível. Há coisas e pessoas na vida da gente que ficam. Mesmo quando vão embora. Por isso, por mais bizarra que eu seja, não há nada melhor do que adolescer. Cair e levantar. Escorregar e rir de si mesmo. Derrubar e juntar. E sobre o peixinho, o coitado do peixinho... superei meu trauma. Em fevereiro deste ano, depois de uma breve mas intensa taquicardia, atravessei um córrego que ia de um lado ao outro nas areias de Siriú. Naquele momento, a Giancarla de minha infância voltou a existir.
Fiquem bem!

quinta-feira, 28 de maio de 2009

O último roteiro

Queridos e queridas,

Eu li que Due Telegrammi, o último roteiro escrito por Michelangelo Antonioni, será produzido por Jeremy All e Zev Gruber, da Jaz Filmes. O célebre diretor italiano tinha 95 anos quando escreveu esta história, sobre três pessoas que se envolvem em uma apaixonada relação de amor e de luta pelo poder. Antonioni morreu em 2007, um pouco depois de terminar esta obra, e desde 1985 carregava graves sequelas de um AVC. Mas só parou de fazer cinema porque morreu. Neste plano. Já muito debilitado, aos 80, 90 anos continuava a fazer filmes, em parcerias com cineastas como Wim Wenders (Além das Nuvens, 1995), e Wong Kar-Wai e Steven Soderbergh (Eros, 2004).
Antonioni foi genial. Porque foi fiel a si mesmo. Fez cinema para si, antes de fazer para os outros. Sentia a necessidade de expressar a angústia que é viver no meio burguês, em meio a alienação, a solidão, ao tédio. Ao contrário do que muitos afirmam, não acho que seus filmes eram lentos. Expressavam a vida modorrenta de muitos e outros e tantos. Seu estilo de filmar não era com pouco movimento. Acompanhava a lentidão do olhar, do caminhar, do pensar, do decidir, do fazer humano. Na cena em que uma mulher fica vagando, vagando, vagando na cidade... Antonioni não estava a se perguntar se agradaria o público ou não. Estava a mostrar, com poesia e maestria, a aflição humana. A melancolia, o desespero. Despia seus personagens de roupagens superficiais. Nem todo o espectador está a fim de se despir de seus preconceitos, de suas próprias fugas. Ele filmou os ricos pobres de espírito. Os casais separados no mesmo teto. Os indiferentes em um mundo que clama por justiça.

Ao contrário de ser lento, seu ritmo mostra, freneticamente, a dor que as pessoas encobrem dos outros e de si mesmas enquanto podem. A frivolidade que ele não romatiza; desmistifica. Antonioni foi cru, cruel. Nas longas sequências, a longa agonia. Como na trilogia sobre a solidão, e no filme A Noite, quando Lidia (Jeanne Moreau) e Giovani (Marcello Mastroiani) conversam sobre o nada em que se transformou o seu casamento. Enquanto isso, em um outro plano, Antonioni continua a contemplar toda a superficialidade das relações sobre as quais ele tanto escreveu e filmou.
Abração.

quarta-feira, 27 de maio de 2009

Um mundo glamuroso


Queridos e queridas,

Como cinéfila, gosto de cinema. Como roteirista, produtora e diretora, gosto de ficção, onde não há limites para voar, e gosto de documentário, onde a gente corta as asas para caminhar no mundo real. O trabalho do documentarista é de muita pesquisa, envolvimento, aprendizagem. É fundamental estabelecer vínculos com os personagens, que não são construídos, mas reais. Escolher, ou melhor dizendo, "ser escolhido" por uma história, um tema, um problema, um conflito. E apresentá-la em sons e imagens, sabendo que há um compromisso ético em retratar a realidade, ainda que seja sob um ponto de vista sempre autoral. E aí entra a questão fundamental em qualquer debate sobre documentário: até que ponto é possível retratar fielmente a realidade? Até que ponto os personagens reais continuam sendo reais quando estão sob a lente da câmera, com um microfone na lapela? Pois eu quero lançar outra questão, além desta, e que me parece muito mais importante. Quais são as responsabilidades do documentarista com a/s pessoa/s com as quais está envolvido na produção do filme?

A falta de divulgação e de uma distribuição minimamente decente de documentários é tão verdadeira quanto é o crescente interesse dos cineastas em realizarem esse tipo de produção. As pautas estão bombando. Nunca vivemos tantas crises simultâneas, o mundo cibernético e multicultural nos espirra conflitos novos a cada segundo. Alguns diretores optam por filmes com um viés de documentário, ou um docudrama, e assim o cinema atual vai miscigenando novas possibilidades de contar uma história real ou imaginária, mas sempre uma história.

Um exemplo para refletir. O diretor Danny Boyle e o produtor Christian Colson, do oscarizado e multi-premiado filme Quem quer ser um milionário?, compraram um apartamento para o ator-mirim indiano Azharuddin Ismail, e anunciaram que vão comprar um apartamento para a atriz-mirim Rubina Ali. As crianças tiveram suas casas destruídas pelas autoridades indianas, sob a alegação de construção irregular. O diretor Boyle declarou que a mídia é responsável pela tensão e pressão criada em torno da situação das crianças indianas. Segundo Boyle, "eles tiveram acesso a um mundo, um mundo extraordinário e glamuroso e, compreensivelmente, querem que suas vidas sejam completamente transformadas". O diretor e o produtor criaram uma fundação para arcar com os custos da educação de Ismail e Ali até os 18 anos, e doaram 500 mil libras a uma ong que atua com crianças em uma favela de Mumbai.

Apesar dessas louváveis iniciativas, a tensão e a pressão as quais Boyle se refere estão longe de chegar ao fim. Por quê? Porque Boyle cortou as asas para caminhar no terreno real da miséria, onde não há glamour, não há nada de extraordinário. Onde todos gostariam de ter suas vidas transformadas. E quando são, são para serem despejados e agredidos, como as crianças que iluminaram o filme. Será que o cinema precisa ter tanto glamour? Será que no mundo real existe alguém que não quer ser milionário?
Fiquem bem.


terça-feira, 26 de maio de 2009

O beijo de Edward e Bela


Queridos e queridas,

Há quase dois meses: Eu e meu filho na locadora. A atendente olha para o meu filho e comenta "Finalmente conseguiu pegar, hein!" Ele olha para baixo, eu dou uma risada, olho para ela e digo, o filme é para mim, eu quero muito ver. Ela fica um pouco surpresa, um pouco por errar o palpite, um pouco por imaginar que o filme, a maior febre dos adolescentes nos últimos tempos, teria mais a ver com ele do que comigo. Eu não ligo. Vou correndo para casa. Quero ver logo o filme. Convido meu filho, mas ele, tal qual a atendente, não entende por que eu quero tanto ver este filme. Eu tento convencê-lo, "não é comédia romântica", gênero que ele critica porque tudo termina sempre do mesmo jeito. Final feliz. Ele não é contra final feliz. É contra a fórmula de roteiro mocinho-mocinha-outrapessoapraatrapalhar-enofinaltudoficabem... óbvio.

Crepúsculo não é comédia, mas é romance. É um filme sobre vampiros, mas não é óbvio. Agrada adolescentes, mas não é um filme para adolescentes. É um filme sobre amor. Desta vez, dirigido por uma mulher, Catherine Hardwicke, e baseado nos livros 'Twilight', que já venderam mais de cinco milhões de cópias no mundo. A jovem Isabela (Kristen Stewart) fica fascinada por Edward (Robert Pattinson). Um segredo os separa. Uma paixão os aproxima. Edward se afasta, Bela não aceita. A paixão de Bela por Edward é maior do que tudo. Ela é humana, ele é vampiro.

Nesta semana, a revista Entertainment Weekly divulgou fotos de Lua Nova, que dá continuidade ao filme Crepúsculo. Bela e Edward se beijam. Não há nada mais maravilhoso do que o beijo. A intimidade, a entrega de um ao outro, o carinho em movimento, o prenúncio da entrega, quando as palavras finalmente não precisam mais ser ditas. Mas Edward deixa Bela, que entra em profunda depressão. Seu amor por Edward passa a ser testado.

O amor é testado o tempo todo. Amor entre pais e filhos, entre irmãos, entre amigos, o amor ao próximo. O amor assusta. Quando os segredos são revelados, as portas são abertas, as máscaras caem, as fraturas são expostas. Quem ama, ama o outro pelo que ele é, como ele é, apesar de ele ser quem é... Quem ama, sofre. Quem ama, compreende quando o amor não é retribuído. E mesmo assim, continua amando. É uma provação, é um calvário. Por isso é verdadeiro.
O filme não é mais um filme sobre vampiros, ou mais um romance. É a delicadeza do sentimento que pode surgir a qualquer momento, em uma troca de olhares, em uma atração inexplicável. Quando as palavras finalmente não precisam mais ser ditas.
Beijo,

segunda-feira, 25 de maio de 2009

Frestas

Queridos e queridas,


Uma das minhas maiores paixões - sim, são várias - é o cinema. Mas outra que me move, absorve, energiza e tranquiliza, é a música, seja erudita, jazz ou rock and roll. Sou democrata, dialética, eclética. Gosto de tudo, gosto de todos. Mas sou clássica em minha modernidade. Gosto de todas as cores, mas gosto mesmo é do preto. Gosto de todos os estilos musicais. mas gosto mesmo é de rock. Gosto de todos os filmes, mas gosto mesmo é de dramas. Gosto da humanidade, mas gosto mesmo é de ... Bom, voltando ao assunto que ainda não comecei. Um dia imaginei que eu acharia a lâmpada mágica de Aladim, e a ele eu pediria: deixai-me assistir filmes e filmes regados a ótimas músicas por toda a eternidade... Mas enquanto eu não encontro Aladim, que está a receber pedidos menos urgentes, como conseguir a casa própria, quitar dívidas, acabar com a miséria e colocar os colarinhos brancos no maior presídio do outro mundo, fico eu aqui, à deriva, e tudo o que eu desejo é que um dia meu sonho se torne realidade.

Sonho e realidade. Um precisa do outro. Um não tem sentido sem o outro. O real é o hoje, o agora, o momento, o presente. O que passou é memória. O que virá, existirá? O sonho move o ser humano, comove e locomove. Sem sonho, a realidade seria uma eterna repetição, pura monotonia. Um tédio. Tédio. Uma das palavras mais interessantes da língua portuguesa. Experimenta falar em voz alta. Tédio. Fala de novo. Té-di-ooooo. Agora, estufa o peito.

Grita TÉDIO!!!!!!!!!!!! E agora, pensa: já sentiu tédio alguma vez na tua vida? A cor cinza. O dia sem sol. A umidade escorregadia. A neblina e a sombra. Um dia só de escuridão. Sozinho na sala, na mansão. No meio da multidão. Trabalhando feito um modem 24 horas no ar... E os dias passam, e o que passou virou passado, e o que virá não sabemos se virá... O real é o hoje, o agora, o momento, o presente. Pressente? Faz o que tem vontade.
Agora é noite, mas eu vejo o sol pedindo licença para entrar pelas frestas da janela.

Bons sonhos!

domingo, 24 de maio de 2009

A pergunta feminina

Queridos e queridas,

O 62º Festival de Cannes terminou, e a Palma de Ouro foi para o filme Das Weisse Band, do cineasta Michael Haneke. Nascido na Alemanha e criado na Áustria, Haneke dirigiu filmes como Caché, O Sétimo Continente e A Professora de Piano. Haneke é um poeta do cinema contemporâneo. Contundente. Surpreendente. Surpreendeu-me hoje ao ler sua manifestação, quando ele soube que era o vencedor: "Às vezes, a minha mulher põe-me uma pergunta muito feminina: és feliz? É-me sempre muito difícil responder-lhe. Mas hoje, este é um momento da minha vida em que posso dizer que sou muito feliz".
Por que seria essa uma pergunta feminina? Haverá perguntas masculinas e perguntas femininas? Ou, indo direto ao ponto: em pleno século Vinte e Um, ainda podemos dividir as perguntas, respostas, visões, palpites, teorias, etc., como sendo ou masculinas ou femininas?

Platão e Aristóteles já teorizavam há séculos sobre o que é a felicidade. Pode se conceber como utópica na República de Platão, a idealização da felicidade é algo sempre desejável mas igualmente irrealizável para o homem concreto, que vive no mundo real, com contas a pagar, filhos para cuidar e livros, cds e dvds para comprar (ok, agora exagerei...).
A felicidade não está no dever ser, mas no ser, como preconiza o realismo aristotélico. Mas como equilibrar a relação entre o "ter" (os bens externos e materiais) com o "ser" (a virtude e a ética)? Os filósofos convergiram para a necessidade de haver a justa medida e uma hierarquia de bens e valores morais.

A felicidade é um tema caro aos filósofos ocidentais, e mais ainda para os orientais, que vislumbram o desapego como a forma mais altruísta para alcançar a verdadeira felicidade. Como muito belamente mostra o cineasta tcheco Bohdan Sláma, no filme Algo como a felicidade (2005), vencer na vida não significa ser feliz.
Confesso que não sei o que é mais difícil: decifrar uma escala de valores de modo que a felicidade de um não cause a infelicidade do outro; habitar um planeta onde os bens materiais não tenham valor algum para tornar alguém feliz; ou entender a pergunta besta de um cineasta genial como Haneke.

Felicidades!




sábado, 23 de maio de 2009

Amantes imortais

Queridos e queridas,

Estive em Paris há muitos anos, mais precisamente entre o final de 1986 e o começo de 1987. Vendi minha moto zero quilômetro, que eu havia recém retirado após pagar cinquenta parcelas em um consórcio. Meus pais e meu ex-marido também me ajudaram. A vontade de conhecer a terra natal de Jean-Paul Sartre, filósofo, dramaturgo e escritor, cuja obra eu devorava, me levou a cruzar fronteiras. Ir para um país onde se fala francês sem eu falar francês. Visitar lugares que eu conhecia apenas nos livros. Ficar longe de pessoas amigas para desbravar uma terra desconhecida. Desenraizar. É difícil.

Não fui como turista. Não fiquei deslumbrada em ver de perto os cartões postais da cidade mais charmosa, mais isso e mais aquilo. Não fui como estudante, ainda que eu tenha aproveitado para conhecer museus, bibliotecas, livrarias, e universidades. Fui movida pela paixão. Pela literatura, pela filosofia. Pelo escritor e pelo filósofo. Fui ao cemitério de Montparnasse e vi no túmulo de Sartre as inscrições de seu nome e de Simone de Beauvoir. Lembrei-me então de um casal de amantes tão ou muito mais apaixonados do que eles, e que tiveram uma relação tão ou muito mais polêmica do que a deles, que foi uma relação aberta, porque viveram na Idade Média, e porque amaram-se demasiadamente apesar dos dogmas religiosos: Abelardo e Heloisa. Eles estão enterrados juntos no cemitério Pére Lachaise.

Sentada sozinha no Cafe Les Deux Magots, um dos preferidos de Sartre, eu degustava um café após o outro, para aquecer o corpo e a alma naquele frio inenarrável, e pensava no que Sartre e Simone deviam ter conversado naquele mesmo local. O que teria atraído um pelo outro, de tal forma que nem a morte os separou. A comparação com Abelardo e Heloisa era inevitável. Havia chama, paixão, desejo, sexo. E o resto tornou-se o resto. Diferentes épocas, diferentes desfechos. Nenhuma das duas relações terminou no "e viveram felizes para sempre", mas eu faria um the end com "e morreram felizes para sempre". Porque Abelardo, mesmo sendo castrado como castigo por amar Heloisa, nunca deixou de amá-la. Heloisa encerrou-se em um convento, maldizendo Deus e a humanidade pela tragédia, mas amando-o mais ainda, se é que isso é possível. Trocaram cartas sempre. Não se falavam nem se encontravam mais, mas nunca deixaram de se comunicar, e o amor, o desejo, a paixão, eram tão ou mais fortes quanto era a ausência física. Simone, mesmo tendo tornado-se ícone do feminismo e da liberação feminina, admitiu que sentia ciúmes de Sartre, e que muitas vezes sentiu-se desconfortável com a relação aberta que mantinham. Amava-o tanto que partilhava desse relacionamento, que é absolutamente diferente do que existe hoje. O "ficar", os "casos", não é nada disso. Amar e desejar tanto alguém e apesar disso saber que o outro é o outro, e que deve respeitar a sua liberdade. Quantos conseguem ter e manter uma relação assim? Uma relação verdadeira é aquela onde a liberdade é preservada. Não somos pássaros na gaiola.
Uma relação dura por vários motivos: o ideal, é que seja por amor, afeto, paixão, desejo. Mas outros tantos motivos também fazem uma relação perdurar: conveniência, comodismo, medo do novo, medo de ficar só, dependência emocional, financeira, submissão, carência, tradição, costume, culpa, medo de gostar de verdade de alguém.
Por isso, Abelardo e Heloisa são exceções, e continuarão sendo, passados séculos do período medieval. Porque eles ousaram, desafiaram, foram corajosos. Amaram-se tantas e tantas vezes, em todos os locais onde puderam, nas sacristias, nos confessionários e nas catedrais. Cederam a seus instintos porque sabiam, como estudiosos da filosofia, que no amor e na paixão a lógica não tem lógica alguma. O sentido da vida, é cada um que constrói pelos seus atos. Abelardo foi um sartreano, e Sartre foi abelardiano.
Hoje, no século do hiper-pós-moderno, as relações estão se tornando cada vez mais efêmeras, coisificadas, baseadas na aparência e na conveniência. O mundo burguês, dos "normais", que Sartre tanto combatia em toda a sua obra,e o mundo dos dogmas e preconceitos que Abelardo desafiou, está mais presente do que nunca.

Enquanto os passarinhos voam e cantam, eu olho e vejo tantos seres engaiolados. Uns sós, outros acompanhados.
Voem e cantem!

sexta-feira, 22 de maio de 2009

Bubble girl

Queridos e queridas,


Uma palavra que eu adoro é "coisa". Ela pode ser usada para tudo, em qualquer momento, situação, perspectiva. Quando falta a palavra certa. Quando ela é a palavra certa. Quando não há mais palavras. Quando não se presta atenção nas palavras. E quando se quer ser ofensivo com as palavras também. - Fulano está muito doente, que coisa triste, hein... - A coisa mais importante é... - Todas as coisas que eu quis fazer foram... - Beltrano é uma coisa querida... - Nada será mais a mesma coisa... - Me diz uma coisa... - Fulana é uma coisa!... - Que coisinha, hein!... e coisa e tal.

Quando olham para minha mão enfaixada, poucos perguntam o que houve. Uns deduzem por conta própria o que deve ter sido... outros apenas olham de lado, constrangidos e imaginando o que possa ser. Para outros, isso não importa nem um pouco. E há ainda os olhares que cruzam com mera curiosidade. E coisa e tal.

Os dias passam e a bolha diminui muito paulatinamente. A enfermeira-general me apelidou de moça-da-bolha. "Lá vem a moça da bolha"! E, que coisa!, eu até estou começando a achá-la simpática. A bolha levou-me até ela. E ela sensibilizou-se com a bolha. Apesar daquele jeitão e vozeirão, ela começa a me transmitir uma coisa que eu poderia chamar de afetuosidade. O olhar preocupado dela trai o seu caminhar em marcha, o esmero em trocar o curativo contrasta com o seu falar vociferador, os vincos no rosto graúdo e avermelhado denunciam que por trás de toda aquela sisudez há uma senhora endurecida pelos anos e anos trabalhando em um posto de saúde.

No filme Bubble boy, de Blair Hayes, o ator Jack Gyllenhaal interpreta um jovem que fica em uma bolha de plástico por problemas em seu sistema imunológico. Até que se apaixona e resolve construir uma bolha móvel em busca de seu amor.

E eu, acostumando-me à companhia de minha bolha, coisa involuntária, indesejável mas já fazendo parte de mim, fico a pensar o que será de mim no dia em que ela desaparecer. Não irei mais visitar a enfermeira-general. Porque lá só se visita com boletim de ocorrência e com doença. Não receberei mais os sermões dela para me cuidar, que eu finjo que detesto mas adoro, por saber que ela se preocupa comigo... A moça da bolha deixará de ser a moça da bolha. Ninguém me chamará de a moça sem bolha. Eu deixarei de ter alguma importância. Voltarei a ser um ser insignificante... Voltarei a habitar minha bolha de plástico, aquela que cada um de nós habita. Aquela bolha que nos protege dos outros, de nós mesmos. Nos deixa "imunes". Não me refiro à imunidade parlamentar, aquela imundície. Refiro-me à imunidade que nos preserva, mas que também nos distancia dos outros, dos verdadeiros relacionamentos. E, na verdade, o que vale a pena é construir uma bolha móvel para ir em busca de seu amor. Ficar sem ar, ficar sem curativo. Mas ficar feliz. E isto é a coisa que realmente importa.
Sejam felizes!

quinta-feira, 21 de maio de 2009

Corte final



Queridos e queridas,


O cineasta francês Alain Resnais declarou no "Cahiers du Cinema" que para se fazer um bom filme eram fundamentais três ingredientes: "un scenario, un scenario et un scenario" (um roteiro, um roteiro e um roteiro). Ai, eu sei que esse é um assunto complexo, cada um puxa pro seu lado, principalmente porque um filme, para ser realizado, precisa de um conjunto de ingredientes, uma série de etapas, um grupo de realizadores, enfim... Diferentemente de um livro, no qual o autor cria uma história de forma solitária, um filme é sempre o resultado de um trabalho de equipe. Mas eu falei em criação... e tudo começa com uma história a ser contada. Voltamos ao roteiro. Um bom roteiro pode gerar um bom filme. Ou não. Mas um roteiro ruim nunca resultará em um bom filme. Então, certo está Resnais ao enfatizar a importância do roteiro. Não é "apenas" escrever uma história, como se isso fosse pouco, mas o bom roteirista sabe que essa história será vista, traduzida em múltiplas imagens e efeitos, e que portanto as idéias e os sentimentos que permearão essa história precisarão ficar muito bem definidos nos personagens, cenas e ações. Sair do lugar-comum, do clichê, dos recursos exaustivamente usados. Ser original. Ser simples. E ser complexo. Uma equação nada matemática. Um processo de criação, recriação, de riscos e rabiscos, de geração de personagens que definirão os rumos da história, da escolha de um ou vários temas que definirão os rumos dos personagens, e desses cruzamentos e encruzilhadas resultará um bom filme, ou não.

Nós somos personagens em nossa vida e roteiristas de nossa vida, o tempo todo. Não escrevemos nossa vida solitariamente, como autores de nosso destino. O enredo, a ação, as cenas todas se desenrolam junto a outros personagens. O tempo todo, em múltiplas locações. Nem sempre dirigimos, produzimos ou montamos. Muitas vezes delegamos aos outros essas funções. Muitos inclusive gostariam de nunca ter que roteirizar sua vida; é a parte mais difícil, com certeza. Mas sempre seremos os roteiristas de nossos destinos. Se isso vai resultar em um blockbuster, uma obra-prima ou um filme trash, eu não sei. A vida, como o cinema, é uma equação nada matemática. É uma arte.


be happy!


quarta-feira, 20 de maio de 2009

Falling down


Queridos e queridas,


Lembrei muito do Michael Douglas hoje. E do dia de fúria dele, de seu personagem William Foster, que ele interpretou em Falling down, de Joel Schumacher.

Todos nós temos nossos dias de fúria, nossos momentos de "parem o mundo que eu quero descer". Eu acho que isso acontece quando o anjo da guarda voa pralgum lugar, pra espairecer um pouco, e nesse meio tempo coisas estranhas e estapafúrdias acontecem. Senão, vejamos: vou no posto da saúde trocar o curativo, no horário em que a enfermeira-general não está. Me quebrei. A recepcionista-coronel me informa que a sala que também usam para curativos está ocupada para outro atendimento. Que eu volte mais tarde. Quando, eu perguntei? Mais tarde, ela re-respondeu, como se eu não tivesse ouvido, ou entendido. Pior: eu ouvi e entendi e tive que ir embora. Tinha muita coisa pra resolver. Como sempre temos, todos os dias. Tinha que ir assinar um documento no banco. Lá chegando, fui informada pela pessoa que combinou comigo pra ir hoje que ela esqueceu, por tudo que é mais sagrado, de me avisar que a assinatura do documento não seria mais hoje. Ela me avisou face to face. E nem ficou vermelha. Eu devo ter ficado. De raiva. E fui embora. Daí fui na farmácia, porque tinha que comprar uma penca de remédios. No cartão de crédito. Três funcionárias se revezando para entender uma máquina, a toda-poderosa máquina que só trabalha se forem decifrados seus códigos. E eu esperando. Esperando. O cartão não passou. Mas como não???? Informe-se no seu banco, ela respondeu tranquilamente, e eu, não tranquilamente, dei outro cartão pra ela e depois de esperar por ela, e pela outra, e pela máquina, recebi o pacote, e fui-me embora. Telefono para saber por que o cartão estava bloqueado. Várias tentativas de discagem depois, disque um para o raio que o parta, disque dois para que o raio não caia duas vezes no mesmo lugar, e assim por diante, finalmente uma voz que parecia ser humana me recebe, pedindo uma e duas e centenas de confirmações. Lá pelas tantas eu penso, mas será que eu sou mesmo eu???? Bem, como ela agradeceu as confirmações, terminei acreditando, pelo menos provisoriamente, em minha própria existência. E ela desvendou o mistério: o cartão não estava bloqueado, a pessoa da farmácia tal (não vou fazer propaganda dela) errou ao digitar o código de segurança. Pois eles sabem tudo, mesmo! O grande irmão!!! Agradeci, raivosamente.

Foi tambem o dia da atendente da imobiliaria me ligar para dizer que o meu salario nao e suficiente para alugar um local que eu tanto queria para trabalhar... imaginem, produtora de cinema e video em fase de formacao... coisa de gente doida...

E, pasmem, depois de toda a irascivel reacao que tomou conta de mim, fui assistir pela milesima vez o documentario Perambulantes, a convite dos organizadores da Semana da Biodiversidade.

Cada vez que assisto esse filme parece ser a primeira. Porque eu embarco na viagem pela Porto Alegre que os porto-alegrenses desconhecem. E o debate com pessoas queridas e super interessadas no assunto, no final da exibicao e da noite, serviu para me mostrar que apos um dia de furia, nada melhor do que resgatar a paz de espirito e a tranquilidade de estar de bem consigo mesmo. E quando eu for dormir, daqui a pouco, vou lembrar das perguntas interessadas daqueles jovens, e vou esquecer das pessoas e das situacoes bizarras que cruzam o caminho da gente. Wiliam Foster, se tu tivesses cruzado com jovens de olhares brilhantes, teu futuro teria sido outro. Tu nao eras emocionalmente perturbado. Tu ficaste, pela dificuldade de lidar com um mundo perturbado.


Fiquem bem.

terça-feira, 19 de maio de 2009

The good, the better and the best


Queridos e queridas,


Quando eu soube que Lars Von Trier declarou ser o melhor diretor do mundo, a primeira coisa que eu pensei foi, mas como ele pode afirmar uma coisa dessas? Porque se há o melhor, ele só há em comparação com o pior, e tudo o que se concluir é com base em... comparações e adjetivações. Esse é o melhor isso, aquele é o melhor aquilo, e forma-se um exército dos melhores. Uma perguntinha, só: no que isso tudo melhora mesmo alguma coisa? O mundo está ficando melhor? As pessoas são pessoas melhores? Comparar é humano, adjetivar, qualificar também é, mas por mais que alguém se ache melhor no que faz, não significa que ele seja melhor. Ele pensa que é. Ou, outros pensam que ele é. Ou, constrói-se uma imagem e a partir dessa construção imaginam que há uns melhores que outros. Como as super-potências, as raças superiores, os arranha-céus, o primeiro mundo, os do primeiro escalão, as celebridades, as divindades... e do outro lado, a reles ralé. De que lado você está? A que tribo você pertence? Você está do lado certo do muro, ou ousa tentar cruzar a linha imaginária para o outro lado? Quando Dr. Hannibal Lecter referia-se à personagem de Jodie Foster como uma caipira, ele fulminou com seus frios olhos azuis o inconsciente de uma persona que pretendia subir na vida pelo estudo, pelo mérito, pela inteligência, pela astúcia. Mas, afinal, uma vez caipira, sempre caipira.

Quando Lars Von Trier acrescentou que outros diretores também pensam ser os melhores, e que ele não está certo de que é, mas sente que é, eu percebi que o que ele quer dizer é que todos devem procurar dar o melhor de si, e não o pior. Os melhores diretores, os melhores filmes, as melhores histórias.

Mas eu ainda acho que há algo muito narcisista, uma fogueira das vaidades nessa humilde constatação de dar o melhor de si. Ser melhor diretor e dizer isso, ser reconhecido e premiado por isso, é uma coisa. Mas alguém lembra de quem é o melhor lixeiro do bairro, o melhor limpador de fossas ou a melhor parteira da periferia? O melhor da elite é sempre melhor do que o melhor da não-elite. Então, até que ponto ser melhor é melhor mesmo???
beijos meus pra vocês



Tudo começou nesta madrugada insone


Queridos e queridas


Até que enfim. Escrevo agora para a posteridade. Nada como uma madrugada insone e muitas e muitas xícaras de café. Já escrevi poemas, contos, roteiros, recados, cartas, bilhetes, ofícios, memorandos, ordens de serviço, redações e monografias. Mas acho que não escrevi o suficiente. É uma compulsão. Querem uma prova? Sou canhota e estou maneta, temporariamente, creio. Uma enfermeira-general tentou impedir que eu continuasse usando as pontas de meus dedinhos canhotos. Enfaixou completamente a minha mão. Mas não enfaixou a outra, que de atriz coadjuvante passou a roubar a cena. Está praticamente canhota. Em tempos hiper-modernos, sem esquerdas e direitas convictas, essa mão está dando uma lição de vida, de luta pela sobrevivência. Ela faz de tudo um pouco, como todo brasileiro que se preze. Anonimamente. Silenciosamente. Graças a ela, o curativo da enfermeira-general foi quase desfeito, e os dedinhos canhotos assanharam-se imediatamente nas teclas do computador. Pariram esse blog, um marco na minha evolução, dos tempos do mimeógrafo e da saudosa Olivetti de meu querido pai, para os tempos de super-hiper-ultra-falta-de-comunicação entre os "humanos". Entrei no jogo. Compulsiva e impulsivamente. Assim sou eu. Quem me conhece, já sabe. Quem não conhece, não sabe quem está perdendo. Porque viver, como viveu e prescreveu Nietzsche, é ser loucamente aflito pelos mistérios da vida e da morte. É roer a corda do abismo, sem medo, sem firulas. Porque quem não tem coragem de atravessar por essa corda, como os insones das madrugadas regadas a xícaras e xícaras de café, contentam-se com uma vida mediana, medíocre, normalzinha... a-cordam no abismo, e fazem de conta que está tudo bem...

bem-vindos, amigos do meu coração louco, porém sincero.