Quem sou eu
- Giancarla Brunetto
- Porto Alegre, RS, Brazil
- escrevo a dor e o prazer de viver vivo para escapar da morte morro e acordo cada vez mais forte
domingo, 31 de maio de 2009
Decodificar
sábado, 30 de maio de 2009
Os marginais
sexta-feira, 29 de maio de 2009
Eu, John Bonham e o peixinho
quinta-feira, 28 de maio de 2009
O último roteiro
quarta-feira, 27 de maio de 2009
Um mundo glamuroso
terça-feira, 26 de maio de 2009
O beijo de Edward e Bela
Queridos e queridas,
segunda-feira, 25 de maio de 2009
Frestas
Uma das minhas maiores paixões - sim, são várias - é o cinema. Mas outra que me move, absorve, energiza e tranquiliza, é a música, seja erudita, jazz ou rock and roll. Sou democrata, dialética, eclética. Gosto de tudo, gosto de todos. Mas sou clássica em minha modernidade. Gosto de todas as cores, mas gosto mesmo é do preto. Gosto de todos os estilos musicais. mas gosto mesmo é de rock. Gosto de todos os filmes, mas gosto mesmo é de dramas. Gosto da humanidade, mas gosto mesmo é de ... Bom, voltando ao assunto que ainda não comecei. Um dia imaginei que eu acharia a lâmpada mágica de Aladim, e a ele eu pediria: deixai-me assistir filmes e filmes regados a ótimas músicas por toda a eternidade... Mas enquanto eu não encontro Aladim, que está a receber pedidos menos urgentes, como conseguir a casa própria, quitar dívidas, acabar com a miséria e colocar os colarinhos brancos no maior presídio do outro mundo, fico eu aqui, à deriva, e tudo o que eu desejo é que um dia meu sonho se torne realidade.
domingo, 24 de maio de 2009
A pergunta feminina
O 62º Festival de Cannes terminou, e a Palma de Ouro foi para o filme Das Weisse Band, do cineasta Michael Haneke. Nascido na Alemanha e criado na Áustria, Haneke dirigiu filmes como Caché, O Sétimo Continente e A Professora de Piano. Haneke é um poeta do cinema contemporâneo. Contundente. Surpreendente. Surpreendeu-me hoje ao ler sua manifestação, quando ele soube que era o vencedor: "Às vezes, a minha mulher põe-me uma pergunta muito feminina: és feliz? É-me sempre muito difícil responder-lhe. Mas hoje, este é um momento da minha vida em que posso dizer que sou muito feliz".
Felicidades!
sábado, 23 de maio de 2009
Amantes imortais
Estive em Paris há muitos anos, mais precisamente entre o final de 1986 e o começo de 1987. Vendi minha moto zero quilômetro, que eu havia recém retirado após pagar cinquenta parcelas em um consórcio. Meus pais e meu ex-marido também me ajudaram. A vontade de conhecer a terra natal de Jean-Paul Sartre, filósofo, dramaturgo e escritor, cuja obra eu devorava, me levou a cruzar fronteiras. Ir para um país onde se fala francês sem eu falar francês. Visitar lugares que eu conhecia apenas nos livros. Ficar longe de pessoas amigas para desbravar uma terra desconhecida. Desenraizar. É difícil.
Não fui como turista. Não fiquei deslumbrada em ver de perto os cartões postais da cidade mais charmosa, mais isso e mais aquilo. Não fui como estudante, ainda que eu tenha aproveitado para conhecer museus, bibliotecas, livrarias, e universidades. Fui movida pela paixão. Pela literatura, pela filosofia. Pelo escritor e pelo filósofo. Fui ao cemitério de Montparnasse e vi no túmulo de Sartre as inscrições de seu nome e de Simone de Beauvoir. Lembrei-me então de um casal de amantes tão ou muito mais apaixonados do que eles, e que tiveram uma relação tão ou muito mais polêmica do que a deles, que foi uma relação aberta, porque viveram na Idade Média, e porque amaram-se demasiadamente apesar dos dogmas religiosos: Abelardo e Heloisa. Eles estão enterrados juntos no cemitério Pére Lachaise.
Hoje, no século do hiper-pós-moderno, as relações estão se tornando cada vez mais efêmeras, coisificadas, baseadas na aparência e na conveniência. O mundo burguês, dos "normais", que Sartre tanto combatia em toda a sua obra,e o mundo dos dogmas e preconceitos que Abelardo desafiou, está mais presente do que nunca.
sexta-feira, 22 de maio de 2009
Bubble girl
Uma palavra que eu adoro é "coisa". Ela pode ser usada para tudo, em qualquer momento, situação, perspectiva. Quando falta a palavra certa. Quando ela é a palavra certa. Quando não há mais palavras. Quando não se presta atenção nas palavras. E quando se quer ser ofensivo com as palavras também. - Fulano está muito doente, que coisa triste, hein... - A coisa mais importante é... - Todas as coisas que eu quis fazer foram... - Beltrano é uma coisa querida... - Nada será mais a mesma coisa... - Me diz uma coisa... - Fulana é uma coisa!... - Que coisinha, hein!... e coisa e tal.
Quando olham para minha mão enfaixada, poucos perguntam o que houve. Uns deduzem por conta própria o que deve ter sido... outros apenas olham de lado, constrangidos e imaginando o que possa ser. Para outros, isso não importa nem um pouco. E há ainda os olhares que cruzam com mera curiosidade. E coisa e tal.
Os dias passam e a bolha diminui muito paulatinamente. A enfermeira-general me apelidou de moça-da-bolha. "Lá vem a moça da bolha"! E, que coisa!, eu até estou começando a achá-la simpática. A bolha levou-me até ela. E ela sensibilizou-se com a bolha. Apesar daquele jeitão e vozeirão, ela começa a me transmitir uma coisa que eu poderia chamar de afetuosidade. O olhar preocupado dela trai o seu caminhar em marcha, o esmero em trocar o curativo contrasta com o seu falar vociferador, os vincos no rosto graúdo e avermelhado denunciam que por trás de toda aquela sisudez há uma senhora endurecida pelos anos e anos trabalhando em um posto de saúde.
E eu, acostumando-me à companhia de minha bolha, coisa involuntária, indesejável mas já fazendo parte de mim, fico a pensar o que será de mim no dia em que ela desaparecer. Não irei mais visitar a enfermeira-general. Porque lá só se visita com boletim de ocorrência e com doença. Não receberei mais os sermões dela para me cuidar, que eu finjo que detesto mas adoro, por saber que ela se preocupa comigo... A moça da bolha deixará de ser a moça da bolha. Ninguém me chamará de a moça sem bolha. Eu deixarei de ter alguma importância. Voltarei a ser um ser insignificante... Voltarei a habitar minha bolha de plástico, aquela que cada um de nós habita. Aquela bolha que nos protege dos outros, de nós mesmos. Nos deixa "imunes". Não me refiro à imunidade parlamentar, aquela imundície. Refiro-me à imunidade que nos preserva, mas que também nos distancia dos outros, dos verdadeiros relacionamentos. E, na verdade, o que vale a pena é construir uma bolha móvel para ir em busca de seu amor. Ficar sem ar, ficar sem curativo. Mas ficar feliz. E isto é a coisa que realmente importa.