Quem sou eu

Minha foto
Porto Alegre, RS, Brazil
escrevo a dor e o prazer de viver vivo para escapar da morte morro e acordo cada vez mais forte

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Nunca baixe a guarda

Queridos e queridas,

Quisera eu poder escrever aqui diariamente, como vinha fazendo. Mas daí o dia precisaria ter mais de 24 horas. Ou eu poderia não dormir mais. A proximidade do lançamento de uma ação em direitos humanos absorve meu pensamento, meu trabalho e minhas intuições. Sobre o lançamento desse projeto, prometo falar aqui amanhã. Porque hoje quero falar sobre as motivações que me levaram a idealizar esse projeto.

Vivemos em um mundo que quer paz, mas vive na violência. Vivemos em um mundo coletivo, onde cada um vive em sua gaiola. Vivemos em um mundo onde o céu é para todos, assim como o ar e a água. E milhões de pessoas morrem todos os dias. Na miséria, na doença, e, de novo, como vítimas da violência. E quando se fala na existência de defensores dos direitos humanos, uma das afirmações que mais se ouve é "direitos humanos é coisa pra defender bandidos. Quem defende as vítimas dos bandidos? Onde estão, nesse caso, os tais defensores dos direitos humanos?"

Todos e todas somos, potencialmente, defensores ou violadores de direitos humanos. Agimos em defesa ou contra, conforme nossas ações, inações e omissões. A violência institucional se alastra, com profundas e históricas entranhas em todos os cantos do mundo. Ditaduras, torturas, falta ou negligência na efetivação de políticas públicas. E há um lado mais profundo, perverso e perplexo, pecado capital mesmo: os narcisismos, os joguinhos de poder, de prepotência intelectual, institucional, político-partidária, ideológica... infelizmente, esse inimigo oculto do ser humano também compactua, e muito, com as violações cometidas. E na minha intuição, esse é o pior problema. Questão de valor, de ética, de consciência, de personalidade. Nas entranhas do inconsciente a violência se mostra de outras formas, mais sutis mas nem por isso menores.

Hoje, reunida com o meu melhor amigo e mestre Ilgo, entre um gole e outro de um maravilhoso suco de açaí, tive que responder a uma saraivada de perguntas inteligentes e pertinentes: por que eu insisto em atuar nessa causa perdida, que envolve pessoas ligadas a órgãos governamentais, que envolve a falta de apoio da sociedade, que envolve a antipatia dos empresários, que envolve entidades com discursos e recursos, mas que não investem os recursos e não saem dos discursos... enquanto a violência continua, enquanto as vítimas sofrem, órfãs, enquanto o mundo rola sabe-se para onde...

Apesar de eu responder prontamente a todas as suas perguntas, percebi, comovida, que foi ele que me deu a resposta. Com um olhar um tanto cético com relação a possíveis mudanças para melhor em nossa realidade, ele disse que só por um motivo poderia colaborar nesse projeto.
Por minha causa.

O que torna as pessoas melhores, e portanto, o mundo melhor, é ter uma causa. Eu só fiz e faço e farei coisas por causas. Meus filhos são a causa de minha vida. Meus amigos também.
Meu melhor amigo também. E todos aqueles que conheço e que não conheço, mas que precisam de ajuda, também. Essa é a resposta.

Nunca baixar a guarda. Nunca perder a esperança.
O lindo e brilhante ator Russel Crowe, clone do Eddie Vedder, brilha na pele do personagem Braddock, no filme A luta pela esperança (Cinderella Man, 2005, direção de Ron Howard). Ele luta não apenas por ser um lutador de boxe, naquele roteiro previsível do homem que conhece a fama, a decadência e depois tenta subir os degraus novamente. O mundo do boxe nesse filme, é uma alegoria ao mundo real, um ringue onde estamos sempre lutando, tentando desesperadamente fugir do nocaute. Ninguém quer perder. Queremos o campeonato mundial, a liderança. Lá pelas tantas o personagem Braddock, desanimado, se questiona: lutar por que? Contra a fome? A ganância? Não se pode lutar contra o que não se vê. Braddock volta a vencer quando percebe que há, sim, motivos para lutar. Seus filhos, sua mulher, o gosto pelo que faz. Ele engole o orgulho, se humilha, ele valoriza o que realmente tem valor. E seu amigo e agente (o formidável ator Paul Giamatti) é quem lhe motiva, intui o seu valor e é dele a frase:
Nunca baixe a guarda.

Então, é simples assim. Difícil é levar golpes na vida e levantar de novo. Mas, vejam, um suco, uma frase, uma causa, e um, e dois e vários, juntos, unidos, podemos transformar desilusões em sonhos, utopias em realidades. Sonhando acordados, acordando para uma realidade melhor.
Eu tenho certeza que isso é possível.
Ótimo feriadão!

Nenhum comentário:

Postar um comentário