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escrevo a dor e o prazer de viver vivo para escapar da morte morro e acordo cada vez mais forte

domingo, 26 de julho de 2009

Xeque-Mate

Queridos e queridas,

Hoje é para mim um dia melancólico. Vou escrever um pouco sobre o cineasta da melancolia, Ingmar Bergman. Autor de Fanny e Alexander (1982) e de outros clássicos, como Noites de Circo (1953), A Fonte da Donzela (1960), Gritos e Sussurros (1972), O Ovo da Serpente (1977), Sonata de Outono (1978). O sueco realizador de mais de cinqüenta filmes, além de peças para rádio e teatro, é o cineasta preferido do meu cineasta preferido, Woody Allen.

É referência fundamental para quem gosta de cinema. Para quem gosta da vida e questiona a existência. A propósito desse questionamento constante em toda a obra bergmaniana, está o clássico "O Sétimo Selo". Realizado em 1957, mostra uma poética e contundente reflexão sobre o encontro com a morte. Uma alegoria filmada em preto e branco, que se passa no século XIII, em um mundo corroído pela peste negra. A morte vem buscar Antonius (Max Von Sidow), mas ele não quer partir antes de compreender o sentido da vida.
Propõe um jogo de xadrez, no qual a morte, perdedora, continua a persegui-lo.

É pelo encontro com a morte que compreenderemos finalmente o sentido da vida? Ou a sua falta de sentido? Durante a caminhada, não parece ser saudável ficarmos paralisados diante da única e inexorável certeza que temos, que é o encontro com a morte. Talvez como defesa, ou como contra-ataque, ficamos a ocupar o nosso tempo fazendo coisas. Estudamos, trabalhamos, casamos, descasamos, perdemos o emprego, achamos outro, ou não, paramos de estudar, ou nos formamos, acertamos, erramos. Vivemos.
Mais do que respirar, para alguns. Respirar e um pouco mais, para outros.
Cada um procura, a sua maneira, um sentido para a vida.
Cada um adia, a sua maneira, o encontro com a sombra e seu cajado.

O Sétimo Selo, apesar de ter sido realizado em 1957, mostra um mundo atual, o mundo caótico. A dança com a morte apresenta todos os males e os maes de todos. A genialidade e a atualidade de Bergman estão aí, a mostrar que morremos um pouco todos os dias, nos matamos como civilização, e ao mesmo tempo olhamos com distanciamento, como se isso não nos afetasse, apenas aos outros. Mas esse jogo de xadrez será jogado por todos. Xeque-mate.
Onde o vencedor é sempre o mesmo. Jogo sujo, golpe baixo.

A melancolia de Bergman é este dar-se conta da efemeridade da vida, e do que fazemos nesse interim. Melancolia que me toca profundamente hoje, por receber mais um choque, mais uma perda brutal.
O querido educador, professor Nilton Bueno Fischer, da Faculdade de Educação da UFRGS, deixou-nos hoje. Assim, subitamente.

Fico a imaginar um plano aberto, mostrando um tabuleiro gigante. Nele vejo Frei Rovílio e professor Hugo, caminhando lado a lado, e recebendo, de braços bem abertos, o professor Nilton. Alguém se aproxima deles. Em um plano bem fechado, vê-se que é Ingmar Bergman.
Eu tenho certeza que esse encontro será lindo, com poesia, piadas, sabedoria, solidariedade.

Talvez pessoas que se tornam referências em nossas vidas pelo seu exemplo, pela sua forma humana de ser, ensinar e agir, tenham compreendido o sentido da vida. E por isso se vão.
Eu prefiro pensar assim. Na partida da vida, todos partem.
A nós, fica a próxima jogada, até o dia do Xeque-Mate.
Abraços.

2 comentários:

  1. Que coincidência... Só li teu blog agora, e o post de hj tem a ver com a frase do meu MSN. Melancolia é um sentimento estranho. Acho tão difícil conseguir definir, explicar... Parece uma daquelas palavras que nem um dicionário consegue definir com precisão, pq é uma palavra tão forte que fica acima de qlqr definição. Bom, de qlqr forma, não sei o pq da minha melancolia, nem de onde veio. Só sei que hj me senti assim. Talvez sejam vários fatores: saudade dos que já se foram e não estão mais aqui com a gnt; talvez um pouco de medo pq o futuro é incerto; talvez um pouco de irritação cmg mesma por não saber o que fazer com a vida; e talvez um pouco inconformada pq a gnt vive num mundo onde mtas vzs as nossas obrigações e deveres são maiores do que os momentos de diversão e de ócio produtivo.

    Lembrei de um trecho de uma música do Renato Russo:

    Eu nem sei porque
    Me sinto assim
    Vem de repente um anjo
    Triste perto de mim...

    Beijo!!!

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  2. Gostei do seu comentário, aliás, no dia 30, faz dois anos da morte do grande cineasta I. Bergman, o meu favorito! Visite o meu blog. Abraços. J. Luiz

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