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escrevo a dor e o prazer de viver vivo para escapar da morte morro e acordo cada vez mais forte

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Gargalhadas

Queridos e queridas,

A vida é movimento. Em uma frase, o que eu penso, o que pensava Heráclito, filósofo nascido na segunda metade do século VI a.C., em Éfeso. Em vez de acompanhar os políticos, ou tornar-se um deles, Heráclito preferiu a vida solitária. Preferia as crianças aos adultos. É dele também a declaração "O tempo é uma criança brincando; o poder real é o de um menino" (fragmento 32). Eu também concordo. Não gosto de propagandas, em geral, porque na maioria das vezes a publicidade é a ilusória forma de embalar um produto que não tem um conteúdo que preste. Marketing político, por exemplo. Mas tem um comercial em que um bebê solta uma gargalhada tão linda, mas tão linda, que eu curo minha depressão no mesmo instante em que vejo a cena e escuto o riso.
Terapia pura. Um sorriso, uma gargalhada, e todos os problemas desaparecem. Heráclito era sábio. Sabia que o dia se torna noite, o inverno vai e vem o verão, e assim por diante. Tudo se movimenta, se transforma. Até a luta é a harmonia dos contrários. Enquanto nossa mente racionaliza, nossos sonhos fantasiam. Percebemos o mundo pelos sentidos, pela razão, e pelo conflito dos contrários. Dialética. Somos o contrário de nós mesmos, frente e verso da mesma página. Ontem éramos rascunho, hoje somos passados a limpo, amanhã apagaremos ou passaremos a ferro, e depois de amanhã... quem sabe?

Um dos cineastas mais sensíveis de todos os tempos transmitia essas metamorfoses e conflitos do ser humano: Akira Kurosawa. Apesar de ter popularizado o cinema japonês no Ocidente, muitas vezes não foi compreendido em sua terra natal, sendo criticado pela ocidentalização de seus filmes. Foram 32 obras com dramas realistas, filmes históricos samurais, filmes onde o que importava era expor os conflitos e os fantasmas psicológicos. Era um cineasta perfeccionista, que atuava desde o roteiro e direção, até o corte final com o montador. Seu cinema era movimento, o conteúdo de seus filmes movimentava-se o tempo todo, mesmo quando não havia quase narrativa. Os cenários, a fotografia, a beleza, a eloquência de um olhar, de um silêncio. Por ser como era, conquistou a admiração de cineastas como Francis Ford Coppola, Scorsese, George Lucas. Entre suas obras, estão Rashomon (1950), Dersu Usala (1975), Sonhos (1990). Nesta obra-prima, Akira Kurosawa apresenta oito episódios. Todos diferentes, todos em comum. Os fanstasmas do inconsciente se revelam de múltiplas formas. De uma mesma forma estética - poética. Como, por exemplo, o encontro do alter-ego do cineasta com Van Gogh, interpretado por Martin Scorsese.

As obras-primas de Akira Kurosawa foram escritas com o coração. Que pulsa, que pára. Tic. Tac. Como sonhos, que a gente tem, que a gente não tem. Como gargalhadas. Como lágrimas. Movimento heracliteano, nunca nos banhamos duas vezes no mesmo rio, e nunca um filme de Kurosawa é o mesmo.
Hoje, um sonho meu, que não é só meu, começou a se realizar. Movimento, gargalhadas. É o coração, batendo mais rápido. A gargalhada de uma criança. Da criança que existe em mim. Que sábio, esse Heráclito! Nada como um dia após o outro.
Beijos!

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