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terça-feira, 7 de julho de 2009

Talento, fama e o maiô vermelho

Queridos e queridas,
A atriz Farrah-Fawcett foi enterrada discretamente, e discretamente a imprensa noticiou que ela deixou em seu testamento parte de sua fortuna para mulheres vítimas de violência doméstica. Farrah atuou no filme Cama Ardente (1984), no qual interpretou uma mulher violentada pelo marido. Por sua atuação, foi indicada ao prêmio Emmy. Mas a imagem de Farrah ficará sempre vinculada à loira pantera do maiô vermelho. Eu achei muito curiosa esta declaração da atriz: "Os homens admiram as mulheres mais pela beleza do que pela inteligência, porque enxergam melhor do que pensam". A loira pantera era mais do que bela, e sabia muito bem o valor que seu sorriso e seu maiô vermelho tiveram para ser famosa, não para ter reconhecido o seu talento.
Talento e fama. Eis aqui dois itens que normalmente fazem parte do meio cinematográfico. Normalmente, porque nem sempre quem tem talento fica famoso, e nem sempre quem é famoso tem talento. O ideal é que um (a fama) fosse consequência natural do outro (talento). Mas não é. O outro célebre enterrado hoje, M. J., tinha talento e fama. Foi graças ao talento que cantou e encantou platéias de todo o mundo, que dançou e criou um estilo único. Com a fama que se alastrou pelos cantos do planeta, o seu próprio talento saiu de controle, do controle emocional.
Reconhecer as próprias habilidades, capacidades, vocação, como uns preferem chamar, já não é tarefa simples. Exige autoconhecimento, humildade para reconhecer limitações e para estar sempre disposto a aprender. Como conciliar essas habilidades com o repentino, muitas vezes fugaz e efêmero sucesso? O que isso implica, muda, transforma, e melhora a vida de um artista?
Melhora a conta bancária, o assédio, os novos negócios.
A imagem. Imagem é tudo, já dizia aquele slogan... E, de novo, vem o fantasma do equilíbrio emocional. De saber lidar com o que vem de verdadeiro, e de ilusório. Lembrem-se dos manequins a que M. J. se referiu, e ao sarcasmo de Farrah ao se referir aos homens. Muitos artistas fazem o jogo de cena, continuam interpretando mesmo quando estão fora de cena. Se tiverem que se deparar com o seu próprio ego, não saberão o que fazer. A diferença entre a vida privada e a pública é separada por uma foto, por um "furo" no jornal.
Quando os artistas envelhecem, e com as mulheres isso acontece a partir dos quarenta, o talento passa a ter mais valor do que a fama. Na verdade, com raras exceções, artistas outrora renomados e galãs, tornam-se vovôs, titios, coadjuvantes dos coadjuvantes.
No mundo acelerado em que vivemos, não há tempo para cultuar a memória, para respeitar a sabedoria, para passar o bastão para as gerações mais jovens. Muitas vezes esses jovens aspirantes querem começar pela fama, esquecendo do talento.
E não é que o maiô vermelho de Farrah ainda funciona?
Hoje, o show do enterro. Amanhã, se morrer algum outro grande ícone mundial, haverá outra super-cobertura, o "circo" ao qual Elizabeth Taylor se referiu. M.J. era o homem solitário mais rodeado pela multidão que eu já vi, em meus 43 anos. Mas ele me lembra aquele personagem de Edgar Allan Poe. Solitário na multidão. M. J., cantando e dançando para espantar os males. Libertava-se pelo talento, e aprisionava-se pela fama. Até mesmo depois de morto. Afinal, para quem ainda fica, o show tem que continuar...
Abraços!

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