Quem sou eu

Minha foto
Porto Alegre, RS, Brazil
escrevo a dor e o prazer de viver vivo para escapar da morte morro e acordo cada vez mais forte

quinta-feira, 16 de julho de 2009

O mouse, a muleta inflável e a pessoa ideal

Queridos e queridas,
O jornalista Marcelo Perrone escreveu hoje em Zero Hora: "Pessoas introvertidas ao extremo costumam buscar companhia no clique do mouse". É verdade. O clique do mouse para essas pessoas é completamente diferente do clique para a gurizada que joga no computador e trocam mensagens instantâneas, e para os que usam, ou não, o mouse para estudar, trabalhar e viver no mundo pré-apocalíptico-capitalista.
Para algumas pessoas, pode faltar água, gás, comida na geladeira, pode faltar até a geladeira. E o ar.
Mas não o computador.

O que realmente impede um relacionamento verdadeiro? Nem todos os introvertidos são problemáticos, nem todos os tímidos são pessoas com problemas emocionais. Muito pelo contrário, há pessoas extrovertidas que riem de tudo e de todos, menos de si mesmas. As fugas da identidade não escolhem; são escolhidas conforme a infância, as vivências e os traumas de cada um. Mas então por que diabos o computador transformou-se na muleta do século 21?
Porque muitos não suportam o olhar.
Já fizeram essa experiência? É fatal. Olho no olho. O corpo não fala, a voz não fala. O olhar tudo capta, tudo vê. Vê o exterior e enxerga o interior. Quando a gente escreve, a gente manipula letras, palavras, frases inteiras. Eu escrevo que te amo. Mas eu te amo de verdade? Olhe nos meus olhos e saberás. Leia essa frase e nunca terá certeza. O grande Fernando Pessoa já se referia ao poeta, o grande fingidor... Fingimos nossas dores para aparentarmos que somos fortes, falamos em voz alta para aparentarmos que somos poderosos, mas um mero e simples e furtivo olhar rola todos os planos mirabolantes por água abaixo.
Por isso, uns se entopem de remédios, drogas, bebidas, fumacinhas. Anestésicos da dor que é ter que viver. E do prazer que é viver, também.
Eu confesso que anestesia, só na cadeira do dentista.
Voltando ao mouse, à muleta. O diretor Craig Gillespie estréia na direção de um longa-metragem em grande estilo. O filme A garota ideal (2007), uma comédia dramática muito bem interpretada por Ryan Gosling, chega às salas de cinema para comprovar a tese de que a paixão é o mal que nos consome. Apaixonados, somos capazes de enlouquecer e de enlouquecer quem está perto de nós. Então, melhor se apaixonar por um/a boneco/a inflável do que por outro ser humano, tão cheio de carências e problemas como nós. É de rir ou de chorar?

O filme mostra tudo com muita sensibilidade. Foi inclusive indicado ao Oscar como melhor roteiro original e ao Globo de Ouro de melhor ator de comédia. Visitar um site de garotas infláveis pode ser um grande mote para uma ótima comédia. Mas perceber que há pessoas que, deveras a solidão que sentem, são capazes de se imaginar em uma relação dessas, é um drama tão possível e tão contemporâneo que nos faz pensar.
Gente, por que somos tão cruéis com quem gosta da gente?
Abraços!

Nenhum comentário:

Postar um comentário