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Porto Alegre, RS, Brazil
escrevo a dor e o prazer de viver vivo para escapar da morte morro e acordo cada vez mais forte

sábado, 25 de julho de 2009

Salve-se quem puder

Queridos e queridas,

Olhem bem este cartaz. Vocês estão vendo essas pessoas sentadas ao lado de Michael Moore? Para elas, não há motivo para rir. É assim que o atual sistema de saúde não trata as pessoas. Não há dignidade, nem competência, nem prioridade à assistência médica, hospitalar, dentária e social. Com exceção, óbvio, para os donos do poder e do dinheiro.
Dinheiro, sempre ele. A causa de todos os males.

No documentário Sicko (2007) o cultuado documentarista apresenta várias histórias de cidadãos norte-americanos que foram mal-tratados pelo SISTEMA de saúde. Há os sem seguro-saúde, os com seguro-saúde e nem por isso com a garantia de um bom atendimento. Nos Estados Unidos, o único serviço público gratuito na área da saúde é a vacinação e emergências graves.
O filme mostra ainda outros sistemas de saúde, em países como Canadá, Inglaterra, França e Cuba.
Nesses países o atendimento médico é gratuito, e nem por isso perde a qualidade, muito pelo contrário. No Brasil, o SUS é um sistema que em tese é perfeito e justo. Universal, como diz o nome. Só que na prática não é assim. Há mais doentes do que leitos, há mais doentes do que hospitais, há mais doentes do que médicos aptos a atender pelo Sistema, há mais doentes do que laboratórios para realizar exames pelo Sistema, há mais doentes do que tratamentos ágeis e eficazes no tratamento, na prevenção e na solução de problemas de saúde. A saúde está doente. O diagnóstico é, aparentemente, câncer generalizado.

Não me vejam como uma das gregas cassandras a trazer maus augúrios.
Quem adoece, ou conhece alguém na família ou amigos que adoecem, ou sofrem acidentes, sabem do que estou falando.

O mundo é dos com, e o submundo é dos sem. Com dinheiro. Sem dinheiro. Com dinheiro, e daí há planos de saúde, seguros de saúde, hospitais com quartos privativos que parecem flats ou quartos de hotéis de luxo. Os médicos te recebem por pelo menos uma hora, e realmente prestam atenção no que você está falando. Os exames, dos mais simples aos mais complexos, são feitos na hora marcada. Às vezes você esquece da doença, acha que está em férias.

As pessoas se preocupam contigo, te dão atenção, alimentação, e depois, quando felizmente você está plenamente recuperado, assina quinhentas mil autorizações e volta para a sua vida, saindo pela mesma porta que entrou: a particular, com escada de granito, pelo elevador privativo.

Então, você não terá cruzado com centenas de pessoas que diariamente aguardam desde a madrugada para conseguir marcar uma consulta. Você não terá visto crianças chorando, mães com olheiras profundas, pais com cara de colono do interior que só vem na cidade porque seu filho está muito doente. São pessoas com câncer, com AVC, com diabetes, com problemas cardíacos. Não importa. Seja qual for o diagnóstico, aguardem a chamada pelo número da senha, ou voltem em outro dia, outro mês, outro ano. Quando funciona, é ótimo.
Mas e quando não funciona? Mais uma morte, e nada mais.

Eu sou contra planos de saúde pelo mesmo motivo que sou contra cursinhos pré-vestibular. São criações de um SISTEMA que não funciona, um no caso da saúde, e outro no caso da educação.
Com o detalhe que ganham, em ambos os casos, muito dinheiro. Porque há gente com muito dinheiro para pagar. E porque há gente que cada vez tem menos dinheiro, mas que ainda paga, pelo medo, pelo pavor, pelo desespero que tem de sentar ali, no cartaz ao lado de Michael Moore, ou ao lado das pessoas que não estão no andar privativo.
A descida dos degraus para o submundo é mais tênue do que se imagina.

Quando faremos alguma coisa para mudar essa situação? Por que uns ganham tanto dinheiro às custas do sofrimento, da doença e da própria morte?

Sicko é uma crítica mordaz ao sistema norte-americano de saúde. E se há algo no qual o Brasil também continua a reproduzir o tal sistema, é na saúde. Para os com-dinheiro, a vida e a sobrevida. Para os sem-dinheiro, o discurso retórico e político pela vida e a prática do salve-se quem puder.
Abraços.

2 comentários:

  1. Perfeito amiga, é assim mesmo.
    Os sem dinheiro para os lucrativos-extorsivos Planos de Saúde são como sombras. A vida vale menos, são judiados em exames com práticas arcaicas quando o hospital de caridade possui o top de linha em instrumentos de invertigação.
    Se teu paciente (amigo, parente,sei lá quem) não possui o PLANO DE SAÚDE, eles fazem o que chamam um questionamento Humanitário: O que a senhora acha, tenho uma vaga na CTI, o seu paciente de 80 e alguns anos, muito doente, séptico e um rapaz de 22. Francamente, sra. vou ter de optar pelo mais jovem, que tem mais chances. E a gente engole, pensando vagamente como ser´na nossa vez...

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  2. parabens. temos os pacientes de primeira classe e os pacientes de segunda classe.
    Vejamos o caso do vice-presidente Alencar.
    Estaria vivo hoje se estivesse no vagão da segunda classe?

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