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sexta-feira, 10 de julho de 2009

Os Alfie e o vinho chileno

Queridos e queridas,

Uma sexta-feira fria, muito fria, pede um bom vinho, um bom filme, e uma boa companhia. O vinho, eu já tinha em casa, um chileno que vinha guardando para uma ocasião especial. O filme. Resolvi rever um, em vez de escolher na locadora algum lançamento. Minhas escolhas eu faço conforme o estado de espírito. Vou ver Alfie, de novo. Quem vê este filme, e conhece a história de seu protagonista, interpretado pelo lindo Jude Law, dispensa a boa companhia para degustar o vinho. Essa produção de 2004, dirigida por Charles Shyer, já havia sido realizada em 1966, tendo Michael Caine no papel do charmoso, sedutor e canalha Alfie.
Os Alfie são todos iguais. Usam estratégias diferentes, mas o objetivo é o mesmo, a caça. Pode ser a ação de componentes no inconsciente primitivo, do homem caçador, predador. Mas a civilização não adiantou em nada, mesmo. Hoje, os Alfie não arrastam suas presas pela cabeleira, pelo contrário, lançam um olhar tímido de quem não quer nada demais, e em vez de pronunciar um eloquente uga-buga, eles hoje escutam atentamente o que o alvo tem a dizer para então concordar, dar o seu apoio moral, e logo se torna a pessoa mais querida da turma, o amigão do grupo, o "cara". Irresistível. O marido te traiu? Ele te apóia. O colega te ferrou? Ele te ajuda. Tu já passou dos 30? Ele diz que a mulher melhora com o tempo. Tu não é magra como uma top model? Ele diz que homem gosta de mulher que tem o que mostrar. Caras mais novos preferem as mais velhas, e assim por diante. Alfie e seu irmão gêmeo, Daniel Cleaver, são personagens que sempre estarão em papéis de destaque em filmes de comédia, romance, e mesmo drama. Porque se eles existem na realidade e na ficção, é porque existem as mulheres que, não somente são presas, como parecem ter um radar para serem presas por personas assim.

É um caso psi, não? Mulheres carentes e inseguras, por mais talentosas ou inteligentes que sejam, são as mais prováveis de terem suas cabeleiras e corações arrastados pelos caninos desses vampiros. Elas sabem, mas não conseguem se libertar. Os Alfie não prometem, não se comprometem, até porque muitos já são comprometidos. Os Alfie são sinceros em sua falta de sinceridade.

É uma pena que os Alfie continuem Alfie, mesmo depois de terem uma história de vida que se resume a colecionar corpos femininos. Os Alfie são capazes de amar?
É igualmente uma pena que muitas mulheres se vêem apenas como vítimas, como presas em corpos femininos desses predadores. Isso é o que na ciência se chama de consentimento informado. O vampiro avisa, eu vou te sugar, como sugaria o sangue de todas. A presa, ainda tendo quinze segundos para cair fora, já está hipnotizada. É tudo o que ela não quer, mas é tudo o que ela quer. Uma pseudo-relação imatura, infantil, doente. Ambos enganam a si mesmos. Um porque se acha o centro do universo, e a outra porque acha que em todo o universo só restou Alfie.

Pior do que isso, só se Alfie fosse casado, e ainda dissesse que ama a esposa, a top model mais perfeita do universo. Que nem o vinho, sabe, quanto mais velho, melhor.
Por isso, vou rever esse filme, regado a vinho chileno, e saboreando a companhia espiritual de meu primeiro amor. Que morreu jovem, afogado, por causa de uma rede de pesca. Apesar de seus lindos olhos verdes, não era Alfie. Seu nome era Álvaro, e eu fui muito feliz com ele.
Beijos!

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