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segunda-feira, 27 de julho de 2009

Vilões

Queridos e queridas,

Não existiria o herói se não existisse o vilão. Ou, por causa da existência do vilão, é que surge o herói. Seja nas histórias em quadrinhos, seriados, novelas, ou nos filmes de cinema, a figura do vilão sempre ganha destaque. Às vezes ganha tanto, que o vilão deixa de ser coadjuvante para se transformar no quase protagonista. Quase, porque nosso mundo pré-apocalíptico capitalista não aprovaria que o mal triunfasse sobre o bem, que o vilão vencesse o herói. Não na ficção. Não é politicamente correto. Então, nos desenhos e nas fábulas o vilão vai para trás das grades, perde o duelo, não fica com a mocinha. Alguém lembra do Dik Vigarista e seu inseparável e rabujento cão Mutley? Pois eu via a Corrida Maluca por causa deles. Eles nunca venciam a corrida, porque trapaceavam.
Mas a corrida só tinha graça por causa deles.

Já na vida real, acontece normalmente exatamente o contrário. A violência cresce, e com ela aumentam os homicídios, latrocínios, tráfico de drogas, de menores... A corrupção se alastra, e com ela a impunidade que serve como um troféu para políticos e outros que com eles formam uma verdadeira rede ilícita e endêmica. O cidadão paga heroicamente os impostos, os juros, o crédito rotativo, os endividamentos que protelam sua derrocada e sua dignidade. Os sem-teto tem o super-poder de sobreviver ao frio, ao gélido e cortante frio do inverno gaúcho.
Os excluídos rumam, heroicamente, para a esperança de que um dia as coisas melhorem.

Enquanto isso, os poderosos representantes dos países mais poderosos do planeta Terra se reúnem para fruirem jantares dantescos, proferem discursos que não redigiram e não leram. É um show de protocolares formalidades, onde o que mais preocupa a grande mídia é divulgar o novo vestido de Carla Bruni ou o novo penteado de Michele Obama. Quantos morreram hoje no Afeganistão? Como estão sendo assistidos os refugiados de guerra?
Que governantes estão realmente cumprindo os tratados de paz? Deixando de investir em armamentos, reformas na decoração e infindáveis reuniões para decidir que não decidiram nada?

Nos filmes, a realidade inspira, e como inspira, a criação de vilões. Dos mais citados e requisitados, está Darth Vader. O lado negro da força. O vilão mais elegante, a voz mais inconfundível de todos os tempos. O vilão dos vilões. O alter-ego do belo e atormentado Anakyn, que de maior discípulo de Obi Wan se transformou em seu maior opositor. "I hate you!" esbraveja Anakyn na luta contra Obi Wan. Esta relação de amor e ódio é o que separa e é o que une o herói ao anti-herói. Cordão umbilical. Feitos um para o outro. Esse é também o caso de Batman e Coringa. De todos os vilões que Batman enfrenta, e é uma verdadeira galeria de super-vilões, Coringa é o mais intrigante, é o melhor e pior vilão de todos. Melhor porque seu riso e seu sadismo o tornam um vilão irresistível e carismático. Pior, porque é sombrio, sombrio como Batman. O espelho de Batman. O outro lado do justiceiro, o da vingança.
Por isso Batman nunca ri. Por isso Coringa ri o tempo todo.

Existem outros famosos vilões, e não pretendo aqui citá-los todos, a não ser alguns que me ocorrem agora, como o Dr. Hannibal Lecter, o psiquiatra canibal de gélidos olhos azuis; os clássicos Nosferatu e Conde Drácula, vampiros que são fonte de inspiração para todos os vampiros que vieram depois; Sauron, a força maligna em O Senhor dos Anéis; Voldemort, o arquiinimigo do bruxo do bem Harry Potter. Leatherface, do filme O Massacre da serra Elétrica, e Mike Myers, dos filmes Halloween, os assassinos Fredy Kruger e Jason, são outros vilões no gênero espirra sangue-que-tem-gente-que-gosta.
Os vilões mais vilanescos são os cerebrais, estrategistas, dissimulados. Porque são os mais humanos, os que quase convencem que o que fazem é porque faz parte da natureza humana, e não por maldade. Um deles é Jigsaw, de Jogos Mortais. O outro está no famoso filme de suspense Os Suspeitos (1995), de Bryan Singer. O vilão Kayser Soze é um homem ardiloso e inescrupuloso. Mas parece ser o tempo todo um idiota. Quem vai se preocupar com as palavras e as ações de um idiota? Um roteiro espetacular, com atuações igualmente fantásticas, especialmente a de Kevin Spacey como Kayser Soze, fazem o ponto de virada bem no final do filme, quando o idiota se revela um vilão com pós-doutorado cinco estrelas. Filme que ganhou Oscar de melhor roteiro original e melhor ator coadjuvante (ou vilão coadjuvante), para um dos atores que mais gosto, Kevin Spacey.
O vilão é sorrateiro. Ri de todos, da idiotice dos outros, mesmo quando está sério. O verdadeiro vilão, a essência do mal, dá um sorriso de lado, faz um olhar comprido. Saboreia o gosto da mentira, da trapaça, da falcatrua. Os vilões fazem os filmes de ação terem ação, os filmes de suspense manterem suspense, as comédias nos fazerem rir, e os dramas se tornarem intensos. Sem vilão, não ha motivo para existir um herói.

Mas os vilões anônimos, esses que assinam acordos pela guerra e não pela paz, que desviam recursos públicos que poderiam matar a fome de muitos flagelados, esses estão bem mais perto de nós do que podemos supor. E até Darth Vader e Kayser Soze ficam envergonhados, por saberem que com esses vilões ainda tem muito a "aprender".
Abraços!

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