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escrevo a dor e o prazer de viver vivo para escapar da morte morro e acordo cada vez mais forte

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Uma nova revolução

Queridos e queridas,

Em tempos de twitter, ainda se escrevem cartas?
Escrever a palavra "carta" já parece algo de uma galáxia muito, muito distante. Escrever uma carta de amor, então, é algo medieval, que seria aceito no máximo como lembrança do passado de nossos avós. No tempo de nossos pais já se usavam bilhetes e cartões. Dos anos 60 para cá, as cartas de amor deram lugar para os manifestos revolucionários. Passamos a amar causas, ainda que perdidas. Não deixa de ser uma história de amor, escrita por linhas tortas.
Se nossos filhos não escreveram "Abaixo a ditadura" nos muros da cidade, por outro lado passaram a usar com maestria os sites de busca e relacionamento, os blogs, fotologs e chats, e todo o tipo de variedade multimídia. Escrevemos teclando, tocando na tela, trocando olhares na webcam, criando novos idiomas internéticos, cifras e códigos criptografados.

Mas e as cartas?
Pois eu acho que seria uma nova revolução, em tempos de instantaneidade da informação, que voltássemos a escrever cartas, lamber selo e tudo o mais. Aumentaria o suspense, e valorizaria mais o conteúdo. Poderia ser um segredo, uma receita, um testamento, uma chantagem, como no filme A Carta (1940). Dirigido por William Wyler, com Bette Davis no elenco, o filme que recebeu sete indicações ao Oscar mostra uma mulher que matou seu amante e tenta enganar a polícia, alegando legítima defesa. Mas tudo muda quando a viúva aparece com uma carta.
Uma carta em seu momento máximo: uma declaração de amor. De um para outro, do remetente especialmente para aquele destinatário. Sem essa de destinatários não revelados, de listas eletrônicas, sem cópias para todos, com publicação imediata no google. Não há mais privacidade, nem intimidade. Só para extrato bancário (isso quando não autorizam a quebra de sigilo por ordens superiores).
Uma carta, antes de ser aberta, é um mistério. É um strip-tease que ainda não se consumou. É uma declaração que ainda não foi feita. É sim? É não? É bom? É mau? Só abrindo a carta para saber.
Imagine essa cena: duas pessoas se conhecem, se apaixonam, e após um ano se afastam. Ele está em Londres, ela vai para Paris. Ele não a esquece. Tempos depois escreve uma carta, uma longa e apaixonada carta. Ele a quer, pede que ela volte, porque a ama.
A carta foi enviada, mas foi extraviada. Ficou por alguns anos atrás de uma lareira. Apenas com uma reforma no local se descobriu a carta. Inteira e na íntegra. Quando ela leu a carta, ficou tão nervosa quanto emocionada. Eles se reencontraram dois dias depois, no aeroporto de Paris, e em trinta segundos estavam se beijando. Casaram-se. Fim de cena.

Essa cena aconteceu de verdade, conforme notícia publicada no jornal britânico The Times.

Sei, você pode estar dando uma de advogado do diabo e me dizer, se fosse no twitter ou no Msn, essa confusão não teria acontecido. É vapt-vupt, toma lá, dá cá. Esse é que é o problema. Não se tem mais romantismo, não se descarrega mais a adrenalina, não se vazam mais os instintos. Tudo robotizado, padronizado. Frases feitas, curtas. Banal demais.

Você, advogado do diabo, nunca experimentou a sensação de receber a carta de sua vida. Só sabe escrever intimações, notificações, e coisas que tais. Mas o frio na barriga, na espinha e nos poros inteiros, essa sensação só pode ser apagada de uma maneira: pelas traças.
Beijos!

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