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escrevo a dor e o prazer de viver vivo para escapar da morte morro e acordo cada vez mais forte

domingo, 5 de julho de 2009

He is the man!

Queridos e queridas,

A Organização das Nações Unidas-ONU está sediada em Nova Iorque, mas não é, por natureza, uma instituição norte-americana. A ONU foi fundada por 51 países em 24 de outubro de 1945, com o objetivo de atuar como um organismo internacional que mantenha a paz entre as nações. A Carta das Nações Unidas, assinada pelos países-membros fundadores, entre os quais o Brasil, é um compromisso e um tributo em respeito aos direitos humanos fundamentais e universais, à preservação da paz e da segurança mundial. Passados 64 anos desde sua criação, muitas outras guerras se sucederam à Primeira e à Segunda Guerras Mundiais. Violações aos direitos humanos são cometidas todos os dias, em todos os cantos do planeta. Torturas, genocídios, golpes de Estado, guerras forjadas para justificar interesses bélicos, econômicos e políticos.
A ONU retrocedeu. Embora seja a mais nobre e louvável iniciativa criada após os horrores do Holocausto, a ONU que deveria ser exemplo de uma organização humanitária, sem fins políticos e sem esmorecer diante de pressões de toda ordem, foi se desvirtuando de seu verdadeiro papel, de sua verdadeira missão, que era, que deveria ser e que sempre deverá ser a manutenção da paz e do espírito solidário entre as nações.

O diplomata brasileiro Sérgio Vieira de Mello declarou, certa vez, que "a globalização e a liberalização comercial trouxeram riquezas para muitos, mas a distância entre ricos e pobres - países ricos e pobres e pessoas ricas e pobres dentro dos países - está aumentando". Vieira de Mello era Alto Comissário para Direitos Humanos da ONU, e foi assassinado em um atentado terrorista no ano de 2003, em Bagdá. Vieira de Mello dedicou 34 anos de vida à defesa dos direitos humanos, atuando em zonas de conflito na África, Ásia, Oriente Médio.
Vários aspectos de sua vida militante são contados no livro escrito pela jornalista Samantha Power, O homem que queria salvar o mundo. Vieira de Mello inspirou a realização de documentários, como Sérgio (2009), com direção do norte-americano Greg Barker, e um outro projeto desenvolvido pelo cineasta irlandês Terry George, roteirista de Em Nome do Pai, e diretor de Hotel Ruanda. Barker afirmou que enquanto ele e sua equipe investigavam as causas da explosão em Bagdá, passou a se perguntar sobre os motivos de haver tanta hostilidade por parte de certos grupos islâmicos com relação à ONU e sua missão no Iraque.
Porque a ONU retrocedeu. É um órgão internacional que se curva diante de pressões de países poderosos, como os Estados Unidos (basta lembrar dos podres poderes do ex-presidente Bush por ocasião da invasão do Iraque). A ONU possui centenas de funcionários abnegados, altruístas, idealistas, humanitários, como era Sérgio Vieira de Mello. Mas tudo isso em meio a um caldeirão de interesses por cadeiras e cargos em órgãos de sua estrutura, como o Conselho de Segurança, por exemplo.
E daí eu leio que o presidente do Brasil poderia estar interessado em ocupar o cargo de Secretário-Geral da ONU. Há razões para isso: a impossibilidade constitucional de um terceiro mandato; o charme e o prestígio de ser alçado ao mais alto cargo do mais importante organismo internacional, e no caso dele sem saber falar qualquer outro idioma além de português; a possibilidade de realizar discursos de combate à fome, de erradicação da pobreza, e blá blá blá, um discurso político perfeito para período de campanha eleitoral com vistas a um terceiro mandato. E com o aval de Barack Obama, que o definiu como "He is the man!"
É por essas e outras que a ONU retrocedeu, que grupos cada vez mais hostilizam, ironizam e são indiferentes à ONU. Porque a ONU não tem poder, porque a ONU age a serviço de outros poderes, porque representantes da ONU discursam em prol dos necessitados, de dentro de seus gabinetes, eventos e reuniões de notáveis.
Assim como está, a ONU não passará de uma bela vitrine para políticos de todos os continentes. Se para os poderosos for conveniente elogiar um presidente latino-americano e permitir seu ingresso no Clube dos Notáveis Defensores da Humanidade, olhando-a do alto, mas visando seu próprio umbigo, creio que uma candidatura do presidente Lula tem boas chances. Carisma, popularidade, retórica não lhe faltam. Aliás, isso é tudo o que precisamos no planeta para dar uma vida digna a todos, de verdade. Sérgio Vieira de Mello fez isso, na prática. Viveu fazendo isso, morreu fazendo isso. Merecia ter sido secretário-geral. He was the man. Mas será que nesta ONU, não naquela de 1945, há espaço para merecimento?
Fiquem bem!

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