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quarta-feira, 29 de julho de 2009

Pelas ondas do rádio

Queridos e queridas,

Estava eu aqui, neste começo de madrugada, terminando de escrever o script do próximo programa Liga dos Direitos Humanos, que apresento na Rádio da Universidade. Este é um programa especial, feito em memória ao professor Nilton Bueno Fischer, que faleceu subitamente neste domingo. Eu via poucas vezes o professor Fischer, porque trabalhávamos em andares diferentes, em horários muitas vezes diversos, como costuma ser o dia-a-dia na Faculdade de Educação da UFRGS. Todos os dez andares tomados por salas sempre cheias de aulas, debates, eventos. Pulsando, fervilhando idéias. Adoro este lugar, no qual fui tão bem acolhida há nove anos, pela professora e então diretora, Merion Bordas. Eu havia saído da Rádio da Universidade, após uma súbita troca de direção, que fora feita de forma anti-democrática. Até então, os diretores vinham sendo eleitos pelo corpo de funcionários da emissora. E o jornalista, meu grande amigo e mestre Ilgo Wink, o melhor diretor que a rádio teve, foi substituído. Ele era bom demais. Dinâmico, empreendedor, visionário. Sabia que o grande diferencial da rádio era a sua programação voltada para a música erudita. Por ser jovem, lembro que na época em que ele assumiu havia um certo receio que ele encampasse uma revolução na programação, do tipo Abaixo Bach! Fora Beethoven! Que queres aqui, Mozart? Até tu, Vivaldi? E jogasse os discos de vinil pela janela como se fossem - e seriam! - discos voadores. Imagine se ele ainda usasse barba....

Pois o Ilgo, além de reforçar a programação musical erudita com programas especiais e comentados sobre esta grande arte, investiu em programas novos sobre Chorinho, Tango, Jazz e Música Popular Brasileira. Investiu também em novos programas culturais, onde personalidades do meio cultural eram entrevistadas, e onde programas ao vivo - sim, os programas de auditório - passaram a ser produzidos em ocasiões especiais. Radionovela, músicos cantando ao vivo, tocando piano, sax, performances de teatro e debates com grandes nomes, como Moacyr Scliar, Décio Freitas, Armindo Trevisan, só para citar alguns.

Saímos de lá em protesto, solidários, e solitários, talvez.
Mas quem pega o gosto pelo microfone no ar não pára mais.

Meu grande amigo e mentor está atuando (desde que nasceu, acho, pois tem voz de locutor) , no jornalismo esportivo, na assessoria de imprensa, o cara não pára. E eu, quase oito anos depois, via o seriado Frasier, do psiquiatra que apresenta um programa de rádio, e fiquei com uma saudade danada daquele ritual todo, do imaginar o programa, elaborar a pauta, procurar às vezes com sorte e às vezes com desespero pelo entrevistado, entrevistar, editar, produzir, até que o programa sai do forno para os ouvintes. E começa tudo de novo.

Mesmo com a internet, YouTube, Mptodos, etceteraetal, o rádio é um veículo que não envelhece. É como um livro. São sagrados. São verdadeiras descobertas do ser humano. Mesmo quando não conseguimos sintonizar direito, quando fica sem pilha (!), o rádio é, antes de tudo, um companheiro. Parceiro no criado-mudo, no travesseiro, no jogo de futebol, em um canto na cozinha, no carro, onde a gente quiser. Um companheiro que nos fala, nos traz a notícia, a música, espanta a solidão.

O professor Nilton Bueno Fischer gostava da rádio da UFRGS, e ficou muito feliz quando foi entrevistado por mim em 2008, quando a FACED completava mais um aniversário. Lembro como se fosse hoje a alegria dele em relembrar dos carreteiros que eram feitos na FACED, e de pedir, publicamente, pelas ondas do rádio, que a comunidade facediana e da Ufrgs voltasse a confraternizar mais, a se encontrar mais. Ressignificar, disse ele.
É com muito carinho que fiz esse programa, para ser ouvido pelos 1080AM, pela internet. Para que a voz dele continue a ecoar pelas ondas do rádio.

Como Woody Allen escreveu no roteiro do filme A Era do Rádio (1987), o personagem Joe diz
" and I’ve never forgotten any of those people… or any of those voices we used to hear on the radio.” Não, nós nunca esquecemos de nenhuma dessas pessoas... ou daquelas vozes que nós costumávamos ouvir no rádio".
As pessoas vão, o imaginário, não.
Beijos!

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