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Porto Alegre, RS, Brazil
escrevo a dor e o prazer de viver vivo para escapar da morte morro e acordo cada vez mais forte

sábado, 27 de junho de 2009

Traição

Queridos e queridas,

Ultimamente, ou tenho insônia e, portanto, não durmo, ou, quando durmo, tenho sonhos ruins (pelo menos aqueles flashes dos quais me recordo, parcialmente, logo ao acordar). Hoje acordei lembrando de duas mulheres que não conheço, e que saíam de um lugar diferente, estavam fechando uma porta em estilo medieval. Elas olhavam para mim com um olhar irônico, sorriam para mim com um sorriso debochado.

Bem, como o pesadelo da noite anterior foi muito pior - sonhei que vários dentes estavam caindo - resolvi que não viria para o computador bisbilhotar o significado dos sonhos. Tenho tentado, e vocês não tem idéia do que isso me custa, não olhar horóscopo, não decifrar mensagens em sinais, não procurar agulha no palheiro. Porque sou uma pessoa tão forte quanto fraca, tão objetiva quanto subjetiva, tão pragmática quanto sensível. Sou capaz de atravessar uma muralha por uma causa na qual acredito. Mas também sou capaz de me afundar no abismo por causa de uma deslealdade, uma mentira. Cada um com seus valores.

Não sou nenhuma santa. Mas sou leal. O que quero dizer com isso é que, por exemplo, quando meu casamento começou a virar água, eu discutia a relação, fazia terapia, tentava acender o fósforo, reavivar o fogo. Eu via os sinais, mas insistia em atravessar a muralha. A traição que aconteceu, muito mais do que sexual, foi uma traição às minhas tentativas de lutar por uma felicidade que na verdade só existia na minha imaginação. Às vezes, a ficha só cai quando admitimos que perdemos a batalha, para não perder a guerra. Que neste caso, é terminar o casamento, para continuar tentando ser feliz.

Por isso, para mim, traição é muito mais do que ser infiel a alguém. Trair é mentir, trair é fingir, trair é enganar, é puxar o tapete, é dizer uma coisa e fazer outra. É ser teu amigo e te golpear pelas costas. É assumir um compromisso, dar sua palavra, e no dia seguinte fazer de conta que aquilo não era nada. É estar contigo, conversar, sorrir, e de repente, sumir. Se estamos sóbrios e em pleno uso de nossas faculdades mentais, então traímos porque somos uns canalhas. Ninguém, ninguém merece ser enganado. Nem o traidor. O grande problema é que muitas pessoas preferem ser enganadas, fingir para si próprias que estão bem. Não querem se olhar no espelho, encarar a realidade, que na maior parte das vezes é difícil, é bem dolorosa.

Por isso tenho poucos amigos. Cada vez menos. Sou geniosa, sou teimosa, sou um furacão de idéias, de adrenalina, e já comprei muitas brigas que não eram minhas, porque não admito injustiças. E já fui muito mal compreendida por isso. Já me magoei com essas coisas. Agora, não sei se é a idade, ou se estou ficando madura mesmo. Mas me choco um pouquinho menos, me desencanto um pouquinho menos quando me passam a perna, quando me enganam, quando me traem.
O que ensinei aos meus filhos, e tenho muito orgulho em dizer, é: lutem sempre, não desistam diante das dificuldades, que serão muitas. Eu não soube ensinar eles a fritar um ovo direito, até hoje estou tentando, mas tenho a tranquilidade de saber que eles me tem como referência para lutar, batalhar, e não cair diante das muralhas.
Por exemplo. Eu sonhei com um castelo. O castelo virou castelo de areia. Por que? Porque só se ergue um castelo, pedra por pedra, com um grupo unido, leal, entusiasmado, forte. AH!! E um pequeno detalhe de nosso mundinho pré-apocalíptico capitalista: dinheiro. Parece que sem dinheiro não alugamos nem uma espelunca de quartinho em um cortiço. Seguro-fiança, pagamento de caução, xerox de documentos, entrega de papeladas, vinte mil assinaturas, foto autenticada da bisavó, coisinhas assim. Tentei e me danei. Sou pé frio, mão queimada, um encosto! Só pode ser... ou há outra explicação?
Quando vi O Ensaio sobre a Cegueira (2008), percebi toda a sensibilidade do diretor Fernando Meirelles em adaptar a obra de José Saramago, sobre uma epidemia que se abate sobre uma cidade. O filme mostra o total desmoronamento da sociedade dita civilizada, que somente quando chega ao colapso tenta resgatar a humanidade perdida. Pois eu imaginava que eu seria a mulher do médico (perfeitamente interpretada por Julianne Moore).
Mas que nada, a cegueira diante das surpresas da vida ainda não me deixa enxergar o mundo como ele realmente é. Um bando de gente que só pensa em si, que se aproxima por interesse, que se afasta quando não tem mais interesse... Pode ser que isso seja normal, que seja assim mesmo. Mas eu não concordo. Ainda acho que estou cega. Porque não estou enxergando uma palavrinha. Uma palavrinha só: caráter.
Fiquem bem!

2 comentários:

  1. O Brizola costumava repetir um velho ditado, aquele de que o mingau quente se come pelas beiradas. demora mais , mas nao se queima a lingua. Eu gosto de outro, a vingança é um prato que se come frio. é mais ou menos isso.
    numa traição, o traidor sempre se dá mal, é questão de tempo.
    mas que é terrivel confiar em alguém e ter essa confiança traída, é.
    o bom é que agora a gente já sabe com quem tá lidando, e que cada um siga o seu caminho.

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  2. Esse filme é ÓTIMO!!!! O Meirelles soube pegar bem o espírito da obra e fez um filme incrível! E assim, todos temos um certo grau de cegueira, em determinados momentos da vida da gente. Essa é a realidade. Mas tenta ver o lado bom das coisas: depois que a gente conhece os dois lados da moeda, as coisas não voltam a ser como eram antes. Algo é sempre internalizado e transformado. Algo sempre muda na gente. Assim, usa a tua força para derrubar muralhas com o propósito de discernir aquilo que é certo do que é errado, pessoas do bem de pessoas do mal, quem tem caráter de quem não tem caráter. HASTA!

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