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sexta-feira, 19 de junho de 2009

As pimentas, a família e a humanidade

Queridos e queridas,

Assim caminha a humanidade é um épico sobre os conflitos que envolvem três gerações de famílias do Texas. O drama, realizado em 1956, tem a direção de George Stevens, e a participação brilhante de James Dean. O oscarizado filme mostra as disputas econômicas, amorosas e discriminações raciais que irão modificar completamente a vida dessas famílias.
Eu lembro hoje deste filme porque é uma das grandes referências no cinema, e também porque embora esta produção seja da década de 50 do século passado, refere-se a um tema que perpassa as décadas e os séculos - as relações familiares.

O que significa a palavra família e mais especificamente qual é o sentido de se constituir uma família. Há uma imagem sacralizada e idealizada do que seja ou do que deva ser uma família, obviamente bem estruturada, com relações sadias e amorosas entre seus membros.
Na verdade, família é algo muito mais amplo, abrangente, complexo. Parte-se de laços de sangue, mas não se prende a eles. Os pais, pai e mãe, são os geradores dos filhos, mas não são seus proprietários. Os irmãos são irmãos porque nasceram dos mesmos pais, o que não significa que necessariamente serão os melhores amigos. Nem sempre uma mãe é uma boa mãe, nem sempre um pai é presente, nem sempre um filho ou uma filha dá valor ao que lhe é feito.

Hoje, quando fui na feira, perguntei ao senhor nordestino que me atendia quais eram os nomes das pimentas que eu estava comprando. Eram várias e exóticas, e eu quis comprar para presentear minha filha que trabalha com gastronomia.
Além de me dizer os nomes, ele me explicava a origem de cada uma. E depois ele complementou, dizendo, tudo tem uma origem, toda mulher tem origem, todo homem tem origem, todo animal tem origem. É verdade. Isto vale para as pessoas, os animais e as pimentas. Mas nossas origens não definem nossas ações, nosso caráter, nossas escolhas. Não existe determinismo, existe liberdade de escolha. Não se é pai, se transforma em pai, não se é mãe, se experiencia a maternidade, não se é filho, se filia a um amor materno, paterno e fraterno.

Isto vale também para as relações entre as pessoas de um modo geral. A gente não determina racionalmente nossos amores. A gente ama. A gente sofre. A gente escolhe. A gente é ou não é escolhido. Os conflitos, as discriminações e as disputas acontecem na e fora da família. Repensar o significado de uma família neste século, nesta década, é compreender que não devemos mais nos prender a fórmulas que não existem, a padrões que não funcionam, a dogmas que não se sustentam.
Podemos ter filhos, amá-los sem necessariamente amar seu pai. Podemos ser amados por nossos filhos sem que eles necessariamente tenham sido gerados biologicamente por nós. Podemos amar nossos irmãos independentemente de suas escolhas sexuais. Podemos ser amados apesar de não termos sido amados. Podemos ter uma família composta por nossos amigos, nossos verdadeiros laços de afeto. Podemos e devemos todos ter uma segunda chance. Uma terceira, quantas forem necessárias, em busca da felicidade. Assim deve, ao meu ver, caminhar a humanidade.
Fiquem bem!

Um comentário:

  1. Excelente post! Os laços verdadeiros de afeto não têm a ver, necessariamente, com questões genéticas ou coisas do tipo. Os laçoes que realmente importam vêm de um afeto que sentimos de forma espontânea, sem cobranças ou expectativas que dependam dos outros. Bjs!

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