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Porto Alegre, RS, Brazil
escrevo a dor e o prazer de viver vivo para escapar da morte morro e acordo cada vez mais forte

terça-feira, 16 de junho de 2009

Cidade de Deus e dos homens

Queridos e queridas,

Viajo em algumas horas. Vou para a cidade de Deus. Lá onde o Cristo Redentor abraça todos, indistintamente. Claro que há a zona sul, a baixada, Manguinhos, Gávea, a Lapa, o Leme, e há aquele chiado charmoso inconfundível. O Rio de Janeiro é machadiano, é a história do Brasil narrada em sua arquitetura, em suas ruas estreitas, nos azulejos de Selaron, nas fachadas dos casarios da rua Lavradio, é a história do Brasil glamourizada nos shopping centers onde só se fala em inglês, nas carinhas globais da cidade cenográfica com as quais nos deparamos de repente. E é a história do Brasil mostrada em cada esquina, sinaleira, com o povo correndo para mais um dia de trabalho, com o povo correndo para mais uma cervejinha, um sol na cara, um volei de praia, um papo cabeça no teatro, uma nova peça, um filme, um show. Tem de tudo. Tem para todos. Menos para quem não tem nada. Assim é na cidade de Deus, ou assim é na cidade dos homens?
A favela carioca Cidade de Deus, considerada um dos locais mais violentos do Rio de Janeiro, é o universo no qual o diretor Fernando Meirelles realizou Cidade de Deus, filme que recebeu quatro indicações ao Oscar, e que mostra o jovem Buscapé, pobre e negro que faz uma radiografia da violência a partir das imagens que capta em suas fotografias. Cidade de Deus foi escolhido como o quarto melhor filme estrangeiro da década pela revista Paste, em uma relação de 25 obras essenciais, não norte-americanas, e produzidas a partir de 2000.
Esta é uma forma de reconhecimento internacional de uma obra brasileira feita com indiscutível qualidade. E que trata de um tema atual e emergente em nosso país. Na cidade maravilhosa, berço de Deus, a violência social e institucional alastra-se tentacularmente, sem políticas públicas que dêem conta da gravidade da situação. Se é verdade que o sol nasceu para todos, também é verdade que ele brilha menos, bem menos, nas favelas cariocas, nas favelas de todos os cantos do Brasil.

João Moreira Salles esteve nesta semana em Porto Alegre, para um debate sobre outra grande obra, dirigida por ele e Katia Lund, Notícias de uma guerra particular (1999). O filme também aborda a questão da violência, do tráfico, da criminalidade. Mas o que me tocou em especial foi a declaração do cineasta de que passados dez anos da realização deste documentário, nos quais vários outros filmes foram feitos sobre o tema - inclua-se Tropa de Elite, estrondoso sucesso de público - e o problema da violência permanece igual, ou seja, denunciar em imagens a questão da violência não tem ajudado a evitar que ela não somente continue, como cresça. Além do que se evidencia que pouco, muito pouco, tem sido feito de forma eficaz para combatê-la. Essa banalização da violência pode incorrer na banalização do olhar cinematográfico sobre a violência. Para Salles, radicalizar no cinema brasileiro hoje seria fazer uma história de amor.

Até porque, com amor, não há violência.
Amem!

Um comentário:

  1. Até hj não me conformo por Cidade de Deus não ter levado o Oscar de melhor filme estrangeiro. Isso é mtoooo absurdo! Mas fazer o quê, às vezes não há mto o que esperar da academia do cinema industrializado.

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