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Porto Alegre, RS, Brazil
escrevo a dor e o prazer de viver vivo para escapar da morte morro e acordo cada vez mais forte

segunda-feira, 22 de junho de 2009

blogs & diários

Queridos e queridas,

Eu li hoje que um dos grandes escritores contemporâneos, José Saramago, declarou ao Jornal Clarín que nos blogs, as pessoas vem escrevendo mais - e pior. Para o escritor português, muitas pessoas não sabem utilizar esse tipo de espaço disponível na internet, por não se preocuparem com a qualidade do que escrevem.
Eu acrescentaria outra palavra à declaração de Saramago: a utilidade de um blog. Por exemplo, o próprio escritor utiliza seu blog para publicar artigos que reuniu no livro Caderno de Saramago, o qual foi vetado na Itália pelo fanfarrão Silvio Berlusconi. De suas escrituras no blog será publicado um livro no próximo dia 25, em Lisboa, em um encontro com blogueiros e internautas.
O português nobel de literatura é o próprio exemplo de que qualidade literária e utilidade da internet como uma ferramenta educativa e cultural são não somente desejáveis, como plenamente realizáveis.

Há alguns anos, quando ainda não havia blog nem internet, havia o diário. O diário podia ser uma pequena caderneta, um bloco de anotações, pedaços reunidos de papel. O que se esperava de um diário não era a qualidade, mas a confidência. Sua única e primordial utilidade seria ser o silêncio, o guardador de segredos, o criado mudo, o melhor amigo.
Diferentemente de uma agenda, onde se registram compromissos, no diário se escreviam os segredos, os acontecimentos mais importantes, os registros da memória, os lapsos do insconsciente, os desejos mais escusos, as revelações mais íntimas. Sonhos, medos, fantasias. Quando a pessoa não cabia mais em si de tanta alegria, anotava seus sorrisos no diário. Quando a pessoa não continha mais em si tanta tristeza, anotava suas lágrimas no diário. Daí o uso de cadeados. Baús. Lugares para esconder o melhor amigo, o confidente, o guardador de segredos.
O oitavo pecado capital era a profanação do diário. Quem ousasse achar o esconderijo, quem se atrevesse a tirar o lacre do segredo, deveria ser banido da face da terra. Abrir um diário é o mesmo que escarafunchar a alma de alguém. Sem a sua permissão. Hoje, o blog convida e permite a socialização das dores e dos amores, do texto e do subtexto, do consciente e do inconsciente. É informativo, é terapêutico, é a qualidade, e é a falta de qualidade. É útil, ou é inútil. É o que o blogueiro quiser que seja.

Um dos meus livros de cabeceira é O Diário de Anne Frank. O livro que originou uma peça de teatro e o roteiro do filme dirigido por George Stevens, que recebeu três Oscars e indicações ao Globo de Ouro. Um filme que mostra as escrituras de uma menina de 13 anos que descobre no esconderijo de um sótão, nas agruras de uma guerra mundial, na tortura diária de ser discriminada e perseguida, que escrever é uma salvação.
Anne Frank conversava com Kitty, para quem escrevia sobre sua família, seus sonhos, seus medos. Para quem revelou o seu primeiro e grande amor. Para quem revelou sua inabalável confiança na vida. Anne Frank foi morta. Seu diário a imortaliza. E seu diário, hoje sob a forma de livro, de peça, de filme, divulgados em um blog, homenageiam e universalizam a sua imortalidade.
Abraços!

Um comentário:

  1. Os blogs e suas 1001 utilidades... E saudade da época dos diários com cadeados... Até que era boa!

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