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escrevo a dor e o prazer de viver vivo para escapar da morte morro e acordo cada vez mais forte

domingo, 6 de setembro de 2009

Fica, Guion

Queridos e queridas,

O cineasta italiano Giuseppe Tornatore nos presenteou com um dos melhores filmes de todos os tempos: Cinema Paradiso (1988). Este filme é uma homenagem aos que fazem cinema, aos que gostam de cinema. Lembro dessa história porque li hoje uma matéria sobre o fechamento do Cine Guion Sol, aqui na zona sul de Porto Alegre. Na verdade, o Cine Guion exibiu sua última sessão em julho, e saiu uma pequena nota no jornal, sem maiores repercussões. Duplamente lamentável: fechar uma sala de cinema, e aparentemente, não fazer falta. Digo "aparentemente" porque faz e fará muita falta. Especialmente na zona sul, onde cada vez mais constróem-se casas, prédios, lojas, e aumenta o tráfego de veículos. O que leva um cinema a fechar as suas portas?

No filme Cinema Paradiso, na pequena cidade de Giancaldo, na Sicília, o garoto Totó torna-se amigo de Alfredo, projecionista do cinema local. Com Alfredo, ele descobre o mundo mágico e fascinante do cinema. A mãe de Totó achava uma perda de tempo seu filho querer ir ao cinema. Nesse mundo, Totó descobriu o amor, a amizade e a paixão. Tornou-se um cineasta de sucesso em Roma, e retornou à cidade-natal quando soube da morte de Alfredo. Alfredo morreu, e o Cinema Paradiso, ao se transformar em um estacionamento, morreu também.

Cinema Paradiso ganhou Oscar e Globo de Ouro de melhor filme estrangeiro. Recebeu o Grande Prêmio de Júri, no Festival de Cannes, o Prêmio César, o Prêmio David di Donatello (a maravilhosa trilha sonora de Ennio Morricone),
o Bafta em várias categorias, além de várias indicações.

O nome Alfredo evoca em Totó, ou no adulto Salvatore di Vitto, lembranças do maravilhoso mundo da sétima arte. De um tempo em que as pessoas se reuniam para verem um filme, para se divertir, para passar um tempo junto, para sonhar, para fugir, para amar.

Com o tempo, o cinema deixou de ser a maior atração. Veio a televisão, a internet, os shopping centers, a globalização, a pressa, ah, a pressa, todo mundo tem pressa. O ritual de ir no escurinho do cinema, a presença do projecionista, a figura do lanterninha, o matinê, o beijinho no escuro, pegar na mão da moça, tudo passou a ter menor importância diante dos altos impostos, dos custos de distribuição, das taxas do Ecad, dos aluguéis exorbitantes das salas de cinema, da falta de apoio para investimentos nessa área.
Um estacionamento rende mais... no filme, e na realidade.

Eu tenho um amigo, seu nome é Alfredo. Ele não é projecionista, é montador. Eu tenho a alegria de dizer que com ele aprendi muito, pelo seu exemplo, pelo seu trabalho, pela sua paixão pelo cinema. Sinto-me como o personagem Totó, que de criança aprendiz foi crescendo interiormente em busca de si mesmo, e do que fazer com a paixão que descobriu pela arte do cinema. Essa busca inquietante é o que aproxima e acalenta os cinéfilos, os cineastas, os realizadores em cinema. Saber que não é perda de tempo, como achava a mãe de Totó,
e que tem um valor muito, muito, muito maior que um estacionamento.

Por isso, o Guion deve ficar. Não somente pelo trabalho e pela dedicação de seus administradores, como também pelo que simboliza: Totó e Alfredo em Giancaldo, em Porto Alegre, em qualquer lugar. A sala de cinema não pode fechar suas portas. É como um filme cortado antes de seu final. Essa história não pode terminar assim.
Abraço!

Um comentário:

  1. Olá, ...Carla! 'Cinema Paradiso', belíssimo filme e os beijos mais sublimes do cinema no final! Carla, quando um cinema fecha, dizemos adeus a muitas coisas e como é difícil dizer adeus a essas coisas, não é mesmo?! Há uma postagem no meu blog de uma autora que fez uma pesquisa sobre o fechamento de cinemas em São Paulo, vale a pena! Abraços e até breve. J. Luiz

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